Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Morrer Duas Vezes

A discussão sobre a interrupção ou não da vida (?) de Eluana Englaro acabou com a morte da rapariga (?). Questiono as palavras “vida”, porque não a tinha, e “rapariga”, porque só tinha vivido 21 anos, apesar de já ter 38.
O resto do tempo não viveu. Vegetou. Sofreu. Prolongou o sofrimento de quem de si gostava. Morreu duas vezes. Dor e pesar na primeira, sofrimento permanente no tempo intermédio, alívio de quem enterrou finalmente uma angústia constante na segunda morte.
Os italianos continuaram a discutir tudo o que envolveu este caso polémico, mas foi-lhes retirada a premência de decidir. Agora voltam as discussões académicas, os editoriais de jornal, as erudições de convidado televisivo, os opinativos de blogue. Mas já não há votação para saber se os médicos podem ou não podem retirar a alimentação à malfadada jovem, se têm razão os familiares, os juízes, os médicos, os políticos, os jornalistas, os peritos, os conversadores de tasca.
Adia-se, mais uma vez, uma decisão, a formulação de uma lei. É mais fácil debater o tema, mais ou menos efusivamente, do que lhe pôr o preto no branco. E assim vamos andando, até que uma outra Eluana apareça, na Itália de Berlusconi ou no Portugal do Cardeal Policarpo.
Até lá, quem tiver o azar de morrer sem morrer terá de morrer duas vezes, matando quem o rodeie tão lentamente quanto lenta for a sua agonia. Quem sofrer de desesperança, somada ou não a lancinante dor física, terá de esperar que lhe dê alívio o corvo final, a ceifeira das vidas, que deixou o trabalho a meio da primeira vez.