Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Novas Regras

Enquanto em Portugal se discute o género dos querubins (ou das querubinas?), lá fora há coisas bem mais interessantes em debate público.
É preciso pesquisar um bocadinho na net para descobrir alguma informação e alguns fóruns interessantes de discussão sobre as novas regras que se pretendem aplicar ao Corfebol.
Não estou muito certo dos pormenores, mas tenho pescado alguns aspectos e, salvaguardando hipótese de erro bastante provável, cá ficam as observações que, para já, me parecem mais pertinentes.

Linha de Dois Pontos a 8 Metros
Para quê? Pessoalmente, acho que um cesto na passada é mais espectacular que uma bomba de fora. O que é que se ganha em valorizar o pessoal que gosta de acampar no meio campo e mandar umas batatas?
A piada do 1x1 em Corfebol é que existe sempre a dupla ameaça de concretização. Se o defesa dá espaço, arrisca-se a sofrer de fora; se pressiona demais, arrisca-se a ser passado na passada (fica um bocado cacofónica esta expressão). O lançamento na passada é mais difícil de conseguir, mas mais fácil de concretizar. Não é perfeito? Alguém sente necessidade de proceder a um equilíbrio de forças?
Pessoalmente, acho a proporção de lançamentos bastante equilibrada. A vantagem de uma regra destas seria inverter alguma tendência para um jogo muito monocórdico, sempre com o mesmo tipo de trabalho ofensivo ou defensivo, mas, apesar de não ter dados estatísticos, não vejo essa tendência.
Em contrapartida, pode-se ver a coisa de uma outra forma: Para evitar os dois pontos, a defesa terá de ser mais pressionante, e isso até poderá dar mais lançamentos na passada e maior espectáculo no 1x1, mas será esse o efeito prático?
Para além do mais, esta medida vai dar vantagem aos homens sobre as mulheres, visto haverem mais homens que mulheres a lançar dos 8 metros (não no topo, onde 8 metros são peanuts para qualquer rapariga, mas a nível intermédio).
Há ainda quem argumente que, ao haver diferentes pontuações, haverá mais confusão, sobretudo para os outsiders do Corfebol, quanto à mudança de campo (de dois em dois cestos ou de dois em dois pontos?), mas acho que isto é uma questão que se dilui com o tempo.

Cestos Novos
Da batalha entre a tradição e a inovação saiu uma coisa amarela que casa a tecnologia com a imagem de marca da modalidade. Acho que terei de aceitar, com base nesta súmula, a adopção dos cestos novos.
Não são as arrastadeiras multicolores que alguns lobbies nos queriam impor. Com essa solução, desaparecia muito do Corfebol. O Corfebol é, acima de tudo, o cesto (o Korf). Pior que mudar a estética do cesto, só mesmo passar isto para masculino para um lado e feminino para o outro.
Também não é verga, ou palha, ou bambú, com um aspecto caracteristicamente artesanal, mas, pelo menos, mantém a imagem. As bolas de futebol também já não são o que eram, mas continuam redondas.
E é durável, supostamente mais barato, enfim... deve ser melhor. Desde que nos habituemos ao amarelão LEGO do bicho.

Lançamentos (não) Defendidos
Esta gente anda toda doida?
Se querem jogar basquete, vadem, idem, basexem.
Que se flexibilize o lançamento de fora em movimento, aceita-se e tem lógica. Mas acabar de vez com o defendido é acabar de vez com o Corfebol.
Vou torcer para que tenha ouvido mal ou tenha tido um pesadelo, quando me constou que até debaixo do cesto se poderá lançar defendido.
E o Corfebol, onde é que se encaixa no meio disto tudo?

Tempo de Ataque e de Posse de Bola
Já tardava. Com as regras actuais, deixa-se muita coisa para a volátil instituição que é o “critério do árbitro”. O antijogo, propositado ou por inabilidade dos praticantes, é fácil no Corfebol. OK, o árbitro pode sancioná-lo, mas quando?...
Limitar o tempo com a bola na mão faz com que se tenha de executar mais depressa, faz com que valha a pena haver uma defesa colectiva pressionante, faz com que não se perca tempo.
Limitar o tempo de ataque (até cada lançamento, como no basquete) idem, até com mais eficácia, por ser um indicador mais global.
O problema aqui é a adaptabilidade da regra a algumas realidades. O nosso campeonato nacional sénior da 1ª divisão tem jogos em que não há sequer marcador electrónico. E quem é que controla o tempo? Se nem árbitros temos, quanto mais cronometristas independentes?

Faltas em Locais Fixos
Facilita ter uma oval, para que não se ande a marcar o espaço a olho ou a passos, mas não gosto de especializações. Treinar-se-ão os livres sempre do mesmo sítio, haverá jogadores peritos na marcação de livres (já os há, mas agora sempre têm de improvisar um bocadinho), fica tudo muito monótono.
Quanto às chamadas faltas menos graves, a marcar na linha lateral, tudo bem.

Acima de tudo, o que importa é garantir a espectacularidade da modalidade, sem que isso implique que se perca a identidade.
Toda a gente quer um Corfebol que seja mais mediatizável, mais jogável, mais promovível, mas ninguém quererá que se torne irreconhecível.
Penteiem-no, maquilhem-no, embonequem-no, mas não façam o Nico dar voltas na campa.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O Avô surpreende tal é a sua 'inata' capacidade para aderir às mais recentes tecnologias. Este Marinheiro de 'águas' envelhecidas em pipas de carvalho, vem agora possibilitar aos mais novos navegar nas ondas do futuro. Louve-se-lhe a iniciativa!
A minha curiosidade natural, sempre fez com que tentasse abrir a janela que me levasse a saber quem era esta personagem de linguagem erudita, pensamentos civilizados e apurado sentido de humor. Já não quero!... Prefiro continuar na ignorância e não associar tão distintas palavras a uma das caras de sempre, das atitudes de sempre...
Foi um ano de mudanças no panorama nacional do Corfebol: o Carnaxide (não) surpreendeu ao começar a ganhar aos '3 grandes'; formou-se um novo Clube; e afinal parece que já não vamos ter de ser felizes sozinhos (ainda bem, digo eu!). Afiaram-se as unhas das rivalidades, relançou-se a emoção em alguns jogos mas, tal como no desporto dito 'Rei', parece-me que o nivelamento do campeonato está a ser feito por baixo! Há mais jogos disputados, mais resultados inesperados, mais emoção...mas menos qualidade! E não há cestos novos, não há cronómetros, não há regras de defendidos que consigam mudar este triste fado.
Os melhores vão se afastando e não aparecem novos talentos em quantidade suficiente para colmatar as perdas (uma ressalva para os Bons Dias que continuam a lançar miúdos com muita qualidade).
E é neste cenário que erguemos o presépio, e a expressão 'verde, código, verde' não pára de ecoar nas nossas cabeças.
UM BOM NATAL PARA O(S) LEITOR(ES) DESTE BLOG!

quinta-feira, 23 dezembro, 2004  

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