Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

terça-feira, julho 01, 2008

^Cu vi parolas Esperanto?


Naqueles tempos tão idos que, por não se saberem situar, se chamam bíblicos, um conjunto de homens, comuns mortais, quis chegar a Deus.
Juntos, no esforço colectivo, edificaram a maior torre que alguma vez o Mundo vira ou veria. Com aquela torre, chegariam a Deus.
E chegar a Deus era algo que os Seus intérpretes na Terra proclamavam como Bom, como desejável pelo Próprio. Portanto, aquela obra magnífica teria de ser do Seu agrado.
Mas não. Os intérpretes enganaram-se. Não era bem assim. Chegar sim, mas com moderação. Chegar a Deus só numa perspectiva espiritual. Não era para levar à letra.
Incomodado com uma torre que já Lhe fazia cócegas no nariz, Deus irritou-se. Ousavam então esses vermes mortais edificar algo tão magnificente que só se poderia igualar às Suas obras?!
Nunca! Deus é Deus. Podem aparecer torres que cheguem ao Céu, mas o Arquitecto, o Engenheiro, o Mestre-de-Obras tem de ser Ele. Ao homem estará reservado o papel de servente, de trolha, na melhor das hipóteses poderá ser um aprendiz.
Então, Deus destruiu a torre e pregou uma valente reprimenda a todos os que se lembraram de tal heresia.
Mas ficou intrigado… Afinal, tinha menosprezado o serzinho a quem tinha dado uns pingos de inteligência. O saber pensar era só para que algum ser na Terra O pudesse adorar. Todos os outros eram demasiado animalescos para o fazerem e só por isso tinha inventado um macaco pensante. Mas era só para isso, nunca para erigir torres até aos Celestes Domínios. Então, como é que tinham conseguido?
Pesquisou e chegou à conclusão que os homens tinham atingido um conhecimento que os poderia levar longe. Os homens tinham adquirido a noção de colectivo. Trabalhando em conjunto chegariam mais longe. Somando pensamentos, forças e motivações, o homem deixava de ser um pontilhado de seres insignificantes para se tornar numa massa poderosa.
Deus ficou preocupado. Se continuassem assim ainda iam descobrir o Corfebol, supra sumo do Colectivo.
Então, para cortar o mal pela raiz, impediu que o insignificantezinho pensante que pululava na Terra voltasse a entender-se entre si. Se era pelas palavras que o homem de unia, pelas palavras se separaria. Deus instituiu, nesse longínquo tempo bíblico, que jamais os homens voltariam a falar uma única língua. A cada povo, a cada grupelho, foi dada uma forma de comunicação incompatível com as vizinhas.
Desentendimentos, guerras, cisões, fracturas na massa poderosa sucederam-se, deixando Deus mais descansado com a impossibilidade de alguma vez Babel se repetir.

Mas o Homem, por vezes, suplanta deus. E dos Homens, com ou sem inspiração divina, nasceram, ao longo dos tempos, grandes obras. Obras palpáveis e obras pensáveis. E uma delas foi a união de esforços para repor a injustiça que deus tinha cometido no tal longínquo tempo bíblico.
Alguns pensantes resolveram coordenar esforços no sentido de instituir uma língua universal. Desta vez, porque o tempo nunca volta atrás, já não poderia ser uma única língua falada em todo o Mundo, por todos os Homens. Mas poderia ser uma língua que corresse em paralelo com as línguas de cada um. Não desapareceria a língua-mãe de cada povo, mas haveria uma língua-chapéu-de-chuva para todos. Para que todos se entendessem, onde quer que estivessem.
Várias hipóteses foram sendo lançadas. Já que se ia construir algo desde o berço, então que fosse perfeita, simples, fácil de ensinar. Deveria fugir às particularidades de alguma das línguas existentes, ou talvez aproveitar o que de melhor tem cada uma delas. Tarefa árdua, impossível, até.
Uma das hipóteses, talvez não a melhor, talvez não a definitiva, se ergueu de entre as outras e ganhou força. O Esperanto, de Ludwik Zamenhof, espalhou-se e colecciona adeptos um pouco por todo o Mundo. Estes, batalham pela vingança sobre Babel. Anseiam poder viajar, negociar, socializar, ao abrigo de um conceito linguístico comum.
Os holandeses que vêm jogar a Portugal esta semana, não teriam de falar inglês com os catalães. Os holandeses não deixariam de falar holandês entre si, mas teriam como 2ª língua uma que fosse comum aos portugueses, aos catalães, aos ingleses, aos chineses, aos russos, aos colombianos, aos moçambicanos, aos australianos.
Numa geração, punha-se toda a gente a saber Esperanto. As relações internacionais, fossem de que cariz fossem, saíam sempre a ganhar. Bastava vontade política. Bastava uma vontade política comum, una.
Mas a possibilidade de existir uma vontade política uniforme entre os povos é uma miragem desde que, num campo de batalha algures na Babilónia, num tempo distante e bíblico, Deus-Todo-Poderoso derrotou o insignificante homem e o proibiu de se entender entre si.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Deparei com este blog numa pesquisa no google. Sou fã do esperanto e adorei o texto.
Boa sorte para o corfebol que, pelo que sei, é um desporto muito interessante.

quinta-feira, 04 setembro, 2008  

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