Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

sexta-feira, abril 11, 2008

Revolução Ortográfica - o Tratado

Elevadas que ontem foram as expectativas, vamos lá à verdadeira Revolução Ortográfica. Há anos que a proponho, com maior ou menor discrição, e já ia sendo altura de saltar para um blogue.
Vou falar do português e das suas idiotices, mas deixo já a advertência de que não considero que estas sejam monopólio da nossa língua. Qualquer falante de outro idioma poderia escrever um texto idêntico a este.
Há no português escrito pormenores que são perfeitamente absurdos e que só servem para que a sua aprendizagem seja mais difícil. Há uma série de letras com polivalência fonética, fonemas reproduzidos por mais que uma letra, letras inúteis, uma enormidade de excepções às regras. Quantos de nós não tiveram outrora dúvidas na aprendizagem por causa destes engulhos e quantos de nós não tiveram já dificuldades em explicar aos mais jovens que nem tudo é como era suposto ser?
Um alfabeto deveria ser uma paleta de letras em que cada uma (e apenas uma) correspondesse a um som e em que todos os sons estivessem abrangidos. Mas não é assim.
Para o “lhe” (de “olhar”) ou o “nhe” (de “ganhar”) precisamos de conjugar letras. Para o “r” (de “farol”) temos o R, mas que só tem o som que lhe está atribuído, o “rr” (de “carro”), quando está duplicado ou no início da palavra. Devíamos ter uma letra que reproduzisse o “lhe”, outra para o “nhe” e outra para o “r”. Ou então um acento, como os espanhóis fazem com os “ñ”. Mas, como não temos e não quero inventar letras, o meu Tratado vai esquecer as omissões do alfabeto português.
Se vou passar por cima das omissões, o mesmo não farei com as repetições.
Se temos um Z, por que raio havemos de utilizar o S ou o X para o reproduzir? Ainda por cima, isso faz com que ao S se aplique a regra do R, ou seja, que só vale assim quando está duplicado ou no início da palavra. Ou então em casos excepcionais, como “falso”, o que ainda vem ajudar mais à confusão.
E o C a fazer de S? Para quê, se a letra existe? E já que falamos de C, qual é a lógica de esta letra mudar de valor em função da vogal que se lhe segue? Porque é que vale “s” em “aceno” e “k” em “acordo”?
E o Q, o tal que “é uma letra que se lê”, serve para quê? Se temos o C com valor “k”. Ainda por cima, tem também aquela particularidade de precisar de um apoio (o U), que se lê ou não (“quando” ou “quem”) em função da vogal seguinte, o que é absurdamente inútil.
Não fossem as omissões de que falei anteriormente, e também o H era dispensável. Ter H’s mudos é ridículo.
Para não baralhar mais, vou, por agora, esquecer as vogais. Também nas vogais havia muito para dizer sobre letras que se valem por outras, dependendo de acentuação, tudo bem, mas não só - também dependem da posição que ocupam na palavra e, mais uma vez, de um rol de excepções que tornam o aprender português uma tarefa penosa.
Também não vou introduzir uma outra alteração que, apesar de a defender, tem sido mal recebida por aqueles com quem a comento, o que faz com que eu próprio ainda não esteja totalmente convencido. É a questão do som do S quando no final das palavras ou antes de consoantes (“cargos” ou “este”). Para mim, esse S lê-se “j”. Fica a ideia, mas não a reproduzirei, para que mais perceptíveis fiquem as outras propostas.
Talvez mais tarde me debruce sobre isso e sobre as vogais. Por agora, deixo-vos um exemplo do que poderia ser o português simplificado, dando a cada consoante um único valor e apenas tendo uma consoante para cada valor. Sei que poderia ser uma revolução grande de mais, mas podem ter a certeza que, daqui a umas décadas, as gerações vindouras nos agradeceriam pelo acto visionário. Ficaria qualquer coisa como isto:

Era uma vês um menino pekenino ke gostava de jogar à bola. Também gostava de pasear. Kuando dava um paseio, uzava kuaze sempre o seu kazako azul e as kalsas roxas.
Enkontrei-o na semana pasada no sinema e axei-o kom um ar kansado. Perguntei-lhe se estava tudo a korrer bem e ele dise ke sim.
A mãe dele tem sinkuenta anos e xama-se Maria. Ningém lhe daria esa idade porke parese muito mais jovem. É uma dansarina ezemplar.


A utilização do K para o respectivo som foi uma opção que fiz agora. Uma vez que já o temos no nosso abecedário, então mais vale utilizá-lo. Até porque o C tem um valor tão polivalente que daria azo a mais confusões. Com tantos K’s isto parece linguagem de sms, mas quem vir melhor vai perceber que está longe disso. As letras estão lá todas; têm é os valores uniformes.
Se detectarem algum erro, não me admiro. A prática de escrever no português correcto (embora absurdo) é tanta que, apesar de ser um texto pequeno, pode-me ter escapado alguma coisa (encontrei dois ou três C’s depois de escrever, por exemplo).
Enquanto não se investe no Esperanto, ou em qualquer outra língua com o duplo condão de ser universal e simplificada, fica este meu contributo para a discussão acerca do português, neste caso o escrito.
Ah, e já agora, falando daquilo que mais gostamos…

No último jogo markei um sesto. Foi um lansamento na pasada. O defeza ezajerou na presão e eu konsegi entrar kom fasilidade. Á mérito também para kem me fês o pase.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Todas as línguas têm as suas especificidades. Ainda bem que o português também as tem. Não concordo com a sua simplificação, avô. Uma língua é tão mais rica, quanto mais complexa for.
Concordo com a uniformização do português, mas não com a sua simplificação. Se a língua é a nossa pátria, como diria o poeta, então deixemos que ela seja rica. Deixemos que ela se expanda, e ao expandir-se ela ir-se-á complicar. De que serve uma língua prática? Apenas para nos referirmos ao concreto. Mas o que queremos é uma língua que exprima também o abstrato. E se assim é, deixemos que ela nos brinde com as suas especificidades na escrita bem como em todas as suas vertentes, a escrita não é mais do que a forma física/visível, com que a língua se apresenta ao Homem.
Carlos

sexta-feira, 11 abril, 2008  

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