Alargar Horizontes
Já lá vão tempos de tal forma longos que nem me lembro do ano que corria. Havia um Fórum de Discussão sobre Corfebol, onde se iam mandando umas bocas, fazendo uns comentários, falando amenamente sobre o que se ia passando neste nosso Mundo.
A certa altura, um tal de Sr. R, personagem enigmática, elaborou um texto simpático, que fez abrir sorrisos na cara de muita gente. Fui um deles. Nunca cheguei a saber quem estava por trás desse texto, nem houve outros com a mesma assinatura. A curiosidade passou. Nunca mais se ouviu falar no Sr. R.
No texto aludido, havia, a certa altura, a referência a um avô. Fiz a minha imagem mental dessa personagem. Não sei se era igual à imagem original do autor. Era a minha imagem.
Estava nesses dias com vontade de escrever qualquer coisa e achei que a imagem que tinha feito do tal avô se podia adaptar ao texto que me ia saindo da caneta. Nessa altura ainda escrevia a caneta, passando depois para as teclas e o ecrã. Tenho ainda o rascunho desse texto, quase ilegível. Tenho pena que não se tenha preservado o definitivo, o que esteve plasmado na Web.
E assim escrevi e tornei público um texto que tinha como base um início comum de todas as frases: “Eu é que sou o Avô que…”.
A ideia não era criar uma personagem nem roubá-la ao autor original. Mas aconteceu que houve uma grande aceitação do texto. Houve outra vez uma abertura de sorrisos. Passava-se de “quem é o Sr. R?” para “quem é o Avô?”.
Surpreendi-me quando alguém, a primeira vez que me viu depois desse texto, me ter cumprimentado com um “Olá, Avô”. Foi a única pessoa que desvendou imediatamente esse enigma.
E resolvi arriscar outro texto. Este já não era tão consensual. Sob o lema “Planei e vi…”, era um texto em duas partes. Na primeira, com um tom pessimista, relatava certas coisas que me desagradavam no Corfebol. Na segunda, com um cariz mais conciliatório, ligava o botão do optimismo e enumerava uma lista de coisas positivas.
A identidade do Avô apenas tinha sido envolta num pequeno mistério simplesmente por piada. Não era uma situação para durar. Aliás, em bom rigor, nunca foi. Quem quis saber e o perguntou com civilidade, teve sempre a sua resposta. Para segredo, foi sempre muito mal guardado.
No entanto, houve nesta fase um episódio que talvez tenha determinado que não fosse apregoado aos quatro ventos algo que deixou de ser piada para ser, de certa forma, protecção.
Estávamos eu e mais duas pessoas que pertenciam comigo a um projecto novo. Uma delas puxa o assunto “Avô” e gaba-lhe o escrever. Prestes a, vaidoso, assumir a paternidade dos textos, foi essa minha pretensão interrompida pela terceira pessoa. Que sim, que o primeiro texto, tinha sido muito giro, mas o segundo fazia afirmações que não lhe tinham caído bem.
Perante tal revolta, e porque o projecto novo que tínhamos abraçado em conjunto poderia ser perigado por uma questão de somenos, calei a revelação.
As afirmações polémicas eram o constatar de que algumas pessoas usavam o seu estatuto no Corfebol português para pressionar árbitros durante jogos decisivos. Nenhuma novidade. Apenas a novidade de ser escrito.
Poderia ter aprendido que dar opiniões causa atritos. Poderia ter aprendido que as opiniões variam e que o clubismo pesa muito nessa variação. Mas não aprendi. Não aprendi porque já sabia e nunca deixei de saber. Mas também sei que, tal como aceito opiniões alheias, mesmo que com elas não concorde, é suposto que as minhas não causem a revolta que sempre causaram num punhado de pessoas, como se as ideias se combatessem com ameaças e insultos.
A mesma pessoa que descobriu prontamente a identidade do Avô foi quem me sugeriu criar um Blogue. Aceitei a sugestão. Era fácil. Sem custos. Aderi à Blogosfera. Assim poderia veicular, pensava eu, as minhas dissertações sem polémica. Sendo meu o Blogue, a responsabilidade editorial seria exclusivamente minha. Não teria de prestar contas a quem quer que fosse. O público seria quem quisesse e quem não gostasse ficaria à porta.
Sabemos que não tem sido bem assim, mas vive-se com o que se tem, rodeado de quem se tem à roda.
Passaram, entretanto, três anos e meio, uma centena e um quarto de textos publicados, tantas polémicas causadas, umas pelos textos, outras pelos comentários aos textos.
Comentários cuja hipótese nunca quis retirar. Acho que devem cá estar, por muito disparatados que alguns sejam. Apenas tive de eliminar comentários por três vezes (se a memória não me falha), sempre por palavras excessivamente grosseiras. Ironicamente, duas delas foram situações em que eram insultadas precisamente as pessoas que mais se queixam do que escrevo.
O tema Corfebol foi esticado exaustivamente. Somos demasiado poucos e com uma expressão demasiado pequena para que haja assunto para falar com a regularidade que este Blogue teve durante tanto tempo. Acho que consegui esticar o elástico sem o partir nem lhe retirar qualidades. Posso-me orgulhar, sem falsas modéstias, por uma mão cheia de textos (é óbvio que há vários que não saíram tão bem) com qualidade, se atendermos a que foram sobre um tema que não seria fácil de replicar com tal constância.
A mesma pessoa que disparou o “Olá, Avô” logo no início, e que sugeriu a criação de um Blogue, entendeu há tempos dizer-me que estava na hora de fechar a loja e partir para outros projectos, mais abrangentes. Não irei revelar os termos em que isso foi dito, mas foram termos interessantes, edificadores do ego do Avô, mas destrutivos para o mundo sem o qual o Avô não era Avô – o Corfebol.
Então, agradecendo-te, L., aceito parcialmente a tua sugestão. E, numa altura em que o pessoal está a ler nisto uma despedida, inflicto um pouco nessa ideia. Não deixarei de escrever no Blog do Avô. Apenas deixarei de escrever exclusivamente sobre Corfebol.
Ainda por cima, agora temos um segundo Blogue sobre Corfebol. Que, para mais, é assinado por um Neto, o que daria um toque de sucessão, não fosse o facto de tal projecto me ser completamente alheio. E, se esse espaço esteve um bocado hesitante no início, há indícios de que pode ser mesmo à séria. Teremos de esperar para ver, torcendo para que haja mais participação quando se falarem de coisas importantes do que quando se mexer na susceptibilidade de alguém.
Esta é uma solução de compromisso comigo mesmo. O Corfebol continuará a figurar no endereço, no propósito, e no historial longuíssimo deste Blogue. Também figurará, sempre que isso seja pertinente, nas postagens. É lógico que a modalidade continuará a ter um papel fundamental na minha agenda.
Talvez devesse romper com este Blogue e começar um de raiz. Talvez ainda o venha a fazer, se um período inicial não correr bem. Mas, para já, é esta a solução. Poderei fazer uma revisão a algumas coisas, se tiver disponibilidade para isso. Nomeadamente, devo retirar a rádio. Já nem sei o que lá passa, porque costumo tirar o som e nunca mais me deu para rever os seus conteúdos. A sua criação foi muito limitada em termos de músicas e não gostei muito do resultado.
Aqui irão caber mais temas, mais assuntos, tratados de formas variadas. Menos de uma semana depois de ter, finalmente, terminado um livro que já andava a prometer há muito, acho que a altura é propícia.
Espero manter o público e – quem sabe? – alargá-lo.
Até breve!
3 Comments:
É de facto um longo historial que nos deixas, avô!
Sem dúvida que o Corfebol está à beira de deixar de ter o privilégio do teu olhar atento e continuado. A opinião de alguém que sem dúvida sempre tentou unificar este pequeno mundo (como é lógico nem sempre com eficácia).
Muitos foram os acontecimentos últimos que se calhar te deixaram a pensar... muitas foram as situações em que tentaram denegrir a imagem que criaste, a imagem de uma personagem simpática.
E queria aqui dizer que tal como fora dito, nunca ninguém quis esconder quem era o avô, apenas era preciso perspicácia e civismo para fazer a pergunta, que muito pouca gente se atreveu a fazer.
Acima de tudo sinto o peso do legado, um peso demasiadamente grande.
O neto nunca quis concorrer com este blogue... apenas ajudá-lo a ser mais dinâmico, tendo por base uma espécie de parceria às escuras. Posso dizer que já foi bom os dois blogues se terem cruzado... foi bom que a origem de um não tenha sido o fim do outro.
Já defini muito bem aquilo que quero com o blogue do neto... e se a regularidade também não é muita, é porque quero também começar já a assegurar alguma qualidade. Qualidade essa que ainda está aquém da deste blogue.
Avô, eles não voltaram a fazê-lo…falharam a data que prometeram LOL.
Parabéns e Obrigado
Ass. Neto
"Nada começa: tudo continua."
Já lá dizia o Poeta.
Força, Avô!
Há muito tempo que estou afastado do corfebol, e coloco aqui este post apenas para enviar 1 abraço ao avô, que segundo me consta é uma pessoa que adora esta modalidade, de uma forma que poucos conseguem igualar!
Envio também 1 abraço/beijinho ao sujeito (menino ou menina??? eis a questão...) que dá vida ao avô, porque apesar de tudo, merece-me total respeito, consideração e amizade! Poderá ter existido 1 momento menos bom, mas estes também fazem parte da vida!
Aproveito só para referir que normalmente não costumo estar muito de acordo com os anonimatos, porque acho que se deve ser frontal e assumir integralmente todo o tipo de opiniões, mas abro uma excepção no caso do avô, porque foi de facto algo que correu muito bem e que despoletou momentos engraçados, com as pessoas a tentarem descobrir quem era a pessoa em questão...
Até sempre!
Luís Baptista
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