És Grande!
A afirmação de uma instituição (como o Corfebol) passa muito pela existência de ícones. Ícones num sentido popular e nada peirciano. No sentido de algo que identifica a instituição perante os seus públicos interno e externo.
É comum esses ícones serem algo injustos. Nem sempre reconhecem o racional e optam pelo emotivo. Tem de haver um impacto aos sentidos e esse nem sempre coincide com a lógica racional.
Então quando de pessoas se trata, mais firme é esta ideia. Referi-o há uns tempos, quando falei no Nico Broekhuysen. O Nico é um ícone e não vale a pena mexer-lhe, mesmo que não seja assim tão “Pai” do Corfebol como a história nos conta. O que é certo é que a história oficial é mais apelativa aos sentimentos do que a história revista cientificamente.
É como quanto aos fundadores de pátrias várias. São sempre vistos sob a capa de heroísmos sem fronteiras, escondendo essa capa os seus defeitos e exaltando as suas virtudes, em nome do nacionalismo. Isto vai de Nasser a Lenine, de Bolívar a Júlio César, de Selassié a Ataturk, de Tito a Washington, de Hoxha a Agostinho Neto, de Kim il Sung a Afonso Henriques.
Mas isto é importante para a ligação das pessoas com as instituições, sejam elas países ou outras. O povo precisa de bandeiras, de ícones, de heróis. E sempre que o acaso nos dê de bandeja um herói, temos de sugar o seu potencial até ao tutano.
Agora imaginem um Campeonato do Mundo. Em Bruno (isso de palavras sem vogais é para os checos; aqui é Bruno), lá longe na emergente Europa.
Prestação brilhante dos nossos representantes. Ficámos somente atrás de quem? Da Holanda, que é… a Holanda. Da Bélgica, que só por uma vez lhe viu fugir um lugar na Final de alguma competição oficial para selecções seniores. Da República Checa, que para além de jogar em casa, foi quem conseguiu esse feito único de alguma vez se ter intrometido entre os dois crónicos gloriosos do Corfebol mundial.
Não digo que isto dê para escrever um épico sobre a ida dos lusitanos a Bruno, mas é de se exaltar. Só que agora vem a parte dos ícones, das bandeiras, dos heróis.
Perdida em locais esconsos estava a informação de que tivemos a melhor marcadora da competição. Excelente! Já é uma repetente nestas andanças, mas é sempre de salientar o facto, que deve ser visto com orgulho por quem foi representado por esta atleta. A camisola que ela vestia, apesar de pequena, porque a rapariga veio ao Mundo numa embalagem XS, vestia-nos a todos, corfebolistas portugueses, e todos devemos sentir que cada um dos 17 golos que foi enfiando nos cabazes alheios era um pouco nosso. Os melhores marcadores fomos, também, cada um de nós.
O conceito de melhor marcador é dos tais que se dá uma importância mais iconográfica do que racional. É um indicador que tem a suprema vantagem de ser o mais quantificável de todos. É muito mais difícil traduzir em números qualquer outra acção de jogo e o Golo é sempre o sumo de todos os desportos com bola. Daí que, em todos os que se jogam colectivamente (talvez com excepção do voleibol… e admito que possam existir mais excepções à regra), o melhor marcador seja sempre referenciado e seja um título ambicionado.
Nos primórdios desta aventura que é o Corfebol português, um dos grandes senhores da modalidade, chamado Francisco Gradeço, foi o melhor marcador (ou terá vencido um concurso de lançamentos, ou qualquer coisa assim) de uma Europa Cup. Na altura, o ícone foi espremido de tal forma que aquele jogador era conhecido pelos mais jovens como “o melhor lançador da Europa” e isso enchia a malta de orgulho. Era um modelo a seguir. Já se sabia que lançava com uma facilidade e precisão fantásticas, mas o “título”, mesmo sem alterar as suas capacidades, vinha-lhe conferir uma notoriedade especial, como se ser bom dependesse de um diploma.
Exalte-se, portanto, a melhor marcadora do Mundial, que é nossa - Tuga. Mas não nos ficámos – não ficou esta atleta – por aqui.
A organização do campeonato atribuiu-lhe o título de Melhor Jogadora. Sim, a melhor jogadora do Mundial foi portuguesa. Lado a lado com o Melhor, Michiel Gerritsen, que é nada mais nada menos que o único atleta profissional no Planeta Terra e adjacentes.
O potencial emblemático deste facto não foi minimamente aproveitado. Temos uma bandeira em mãos, senhores. Vejam o potencial para a motivação dos nossos jovens, para a divulgação mediática, para a credibilidade da modalidade no nosso País… E não há referências nem pela Federação nem pelo Clube. Souberam os que lá estiveram e mais um punhado de pessoas que casualmente tropeçaram na informação.
Se marcar mais golos é um dado objectivo, ser o melhor é de uma subjectividade tremenda. Não me quero pôr a adivinhar se os mais reputados técnicos acham que esta atleta é a melhor do Mundo, se foi sequer a melhor na competição ou até se é a melhor em Portugal. Mas que ganhou o prémio, lá isso ganhou, e esse já ninguém lho tira.
Em tempos chamei-lhe qualquer coisa como a Rainha das Bancadas. Não me lembro se a expressão era esta exactamente, mas o sentido era esse. Se não engano foi na sequência de um Europeu jovem, em Rio Maior, em que um público maioritariamente afastado do Corfebol a adoptou como estrela maior da companhia nacional. Porque foi quem mais lhes apelou aos sentidos. Não necessariamente a jogadora mais eficaz, na totalidade das tarefas de jogo, mas sem dúvida a mais espectacular. E continua a ser a pessoa que, ao longo dos últimos anos, é mais agradável de ver a jogar.
Se um treinador em Portugal escolheria uma ou duas colegas de selecção antes desta para formar uma equipa vencedora, acredito que sim. Se um Manager em Portugal escolheria esta jogadora em primeiro lugar para garantir o espectáculo, sem prejudicar a qualidade de jogo, também o acredito.
Faz-me lembrar, em anos bem lá para trás, um tipo, também ele baixinho (e marreco, ainda por cima), que fazia sempre com que valesse a pena ir ver jogos de Corfebol. Chama-se ele Nuno Ferro e também vestia de azul.
És Grande, Inês Biocas!
É comum esses ícones serem algo injustos. Nem sempre reconhecem o racional e optam pelo emotivo. Tem de haver um impacto aos sentidos e esse nem sempre coincide com a lógica racional.
Então quando de pessoas se trata, mais firme é esta ideia. Referi-o há uns tempos, quando falei no Nico Broekhuysen. O Nico é um ícone e não vale a pena mexer-lhe, mesmo que não seja assim tão “Pai” do Corfebol como a história nos conta. O que é certo é que a história oficial é mais apelativa aos sentimentos do que a história revista cientificamente.
É como quanto aos fundadores de pátrias várias. São sempre vistos sob a capa de heroísmos sem fronteiras, escondendo essa capa os seus defeitos e exaltando as suas virtudes, em nome do nacionalismo. Isto vai de Nasser a Lenine, de Bolívar a Júlio César, de Selassié a Ataturk, de Tito a Washington, de Hoxha a Agostinho Neto, de Kim il Sung a Afonso Henriques.
Mas isto é importante para a ligação das pessoas com as instituições, sejam elas países ou outras. O povo precisa de bandeiras, de ícones, de heróis. E sempre que o acaso nos dê de bandeja um herói, temos de sugar o seu potencial até ao tutano.
Agora imaginem um Campeonato do Mundo. Em Bruno (isso de palavras sem vogais é para os checos; aqui é Bruno), lá longe na emergente Europa.
Prestação brilhante dos nossos representantes. Ficámos somente atrás de quem? Da Holanda, que é… a Holanda. Da Bélgica, que só por uma vez lhe viu fugir um lugar na Final de alguma competição oficial para selecções seniores. Da República Checa, que para além de jogar em casa, foi quem conseguiu esse feito único de alguma vez se ter intrometido entre os dois crónicos gloriosos do Corfebol mundial.
Não digo que isto dê para escrever um épico sobre a ida dos lusitanos a Bruno, mas é de se exaltar. Só que agora vem a parte dos ícones, das bandeiras, dos heróis.
Perdida em locais esconsos estava a informação de que tivemos a melhor marcadora da competição. Excelente! Já é uma repetente nestas andanças, mas é sempre de salientar o facto, que deve ser visto com orgulho por quem foi representado por esta atleta. A camisola que ela vestia, apesar de pequena, porque a rapariga veio ao Mundo numa embalagem XS, vestia-nos a todos, corfebolistas portugueses, e todos devemos sentir que cada um dos 17 golos que foi enfiando nos cabazes alheios era um pouco nosso. Os melhores marcadores fomos, também, cada um de nós.
O conceito de melhor marcador é dos tais que se dá uma importância mais iconográfica do que racional. É um indicador que tem a suprema vantagem de ser o mais quantificável de todos. É muito mais difícil traduzir em números qualquer outra acção de jogo e o Golo é sempre o sumo de todos os desportos com bola. Daí que, em todos os que se jogam colectivamente (talvez com excepção do voleibol… e admito que possam existir mais excepções à regra), o melhor marcador seja sempre referenciado e seja um título ambicionado.
Nos primórdios desta aventura que é o Corfebol português, um dos grandes senhores da modalidade, chamado Francisco Gradeço, foi o melhor marcador (ou terá vencido um concurso de lançamentos, ou qualquer coisa assim) de uma Europa Cup. Na altura, o ícone foi espremido de tal forma que aquele jogador era conhecido pelos mais jovens como “o melhor lançador da Europa” e isso enchia a malta de orgulho. Era um modelo a seguir. Já se sabia que lançava com uma facilidade e precisão fantásticas, mas o “título”, mesmo sem alterar as suas capacidades, vinha-lhe conferir uma notoriedade especial, como se ser bom dependesse de um diploma.
Exalte-se, portanto, a melhor marcadora do Mundial, que é nossa - Tuga. Mas não nos ficámos – não ficou esta atleta – por aqui.
A organização do campeonato atribuiu-lhe o título de Melhor Jogadora. Sim, a melhor jogadora do Mundial foi portuguesa. Lado a lado com o Melhor, Michiel Gerritsen, que é nada mais nada menos que o único atleta profissional no Planeta Terra e adjacentes.
O potencial emblemático deste facto não foi minimamente aproveitado. Temos uma bandeira em mãos, senhores. Vejam o potencial para a motivação dos nossos jovens, para a divulgação mediática, para a credibilidade da modalidade no nosso País… E não há referências nem pela Federação nem pelo Clube. Souberam os que lá estiveram e mais um punhado de pessoas que casualmente tropeçaram na informação.
Se marcar mais golos é um dado objectivo, ser o melhor é de uma subjectividade tremenda. Não me quero pôr a adivinhar se os mais reputados técnicos acham que esta atleta é a melhor do Mundo, se foi sequer a melhor na competição ou até se é a melhor em Portugal. Mas que ganhou o prémio, lá isso ganhou, e esse já ninguém lho tira.
Em tempos chamei-lhe qualquer coisa como a Rainha das Bancadas. Não me lembro se a expressão era esta exactamente, mas o sentido era esse. Se não engano foi na sequência de um Europeu jovem, em Rio Maior, em que um público maioritariamente afastado do Corfebol a adoptou como estrela maior da companhia nacional. Porque foi quem mais lhes apelou aos sentidos. Não necessariamente a jogadora mais eficaz, na totalidade das tarefas de jogo, mas sem dúvida a mais espectacular. E continua a ser a pessoa que, ao longo dos últimos anos, é mais agradável de ver a jogar.
Se um treinador em Portugal escolheria uma ou duas colegas de selecção antes desta para formar uma equipa vencedora, acredito que sim. Se um Manager em Portugal escolheria esta jogadora em primeiro lugar para garantir o espectáculo, sem prejudicar a qualidade de jogo, também o acredito.
Faz-me lembrar, em anos bem lá para trás, um tipo, também ele baixinho (e marreco, ainda por cima), que fazia sempre com que valesse a pena ir ver jogos de Corfebol. Chama-se ele Nuno Ferro e também vestia de azul.
És Grande, Inês Biocas!
6 Comments:
akilo e o k? garrafita de aguardent xeca? tao e partilhares c a gente, bi? lol
Engraçado como ninguém comenta o positivo... Faço-o eu.
Numa palavra: orgulho. A Bi fez um grande campeonato. Para além da grande jogadora, é um ser humano excelente e uma brilhante companheira de grupo. Foram muitos os cestos fantásticos...tu sabes que sim, Bi!
Mas aproveito para deixar uma palavra a todos os que estiveram lá, que ajudaram a Bi e os restantes jogadores a sair de Brno com a reconquista para Portugal do respeito da comunidade internacional do Corfebol. Num campeonato em que ninguém acreditava na capacidade da equipa para fazer algo de positivo e todos se sentaram no cadeirão à espera de um fracasso, sobressaiu um espírito de luta, de conquista e de união que ajudou a tornar possível... o impensável.
Talvez seja melhor colocar novo post sobre a podridão. Dá mais pontos falar quando cheira a morgue.
Assino com o que nunca quis que passasse... superstição, disse eu. Faltou o bronze para me dar razão.
Boas, sem querer tirar o protagonismo à grande jogadora Biocas, nem muito menos ao avô, reparei num novo comentário no neto! Isto promete mesmo! lolllllll
Que se dê mérito a quem o merece! Está tudo dito, tiro o meu chapéu...
És o meu Orgulho Ines Biocas!
Correcção:
"Michiel Gerritsen, que é nada mais nada menos que o único atleta profissional no Planeta Terra e adjacentes". Esta frase é uma gralha de todo o tamanho (e ninguém corrige?).
Wim Scholtmeijer, esse sim, é o único pro. O Michiel continua a ser o melhor marcador e jogador do Mundial, mas o Wim é que vive do (muito) que joga.
Já agora, que falamos do Michiel, dêem uma vista de olhos naquilo que ele, o Rick Voorneveld e o Jos Roseboom (este que é um grande conhecido e amigo de Portugal) conseguem fazer com uma bola e um cesto.
Show Time!!!!!
http://www.korfball.tv/videoshow.php?vid=58.html
Assim é que é. Melhor marcadora e melhor jogadora. Mas continuamos a ser pequenos na divulgação das vitórias que alcançamos. É o caso do corfebol que com esta alegria para todos nós, não mereceu, pelo menos que eu visse, nenhum destaque nos média cá do burgo.
Não desistas. Nós continuamos a acreditar.
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