Revolução Ortográfica - Introdução
Faz-se num copo de água um tornado maior que o de Santarém quando se fala no Acordo Ortográfico. É porque são os brasileiros que mandam nisto e os africanos que não mandam coisa alguma; é porque a língua dos nossos avós deve ser preservada; é porque nas escolas vai ser uma confusão do caneco; é porque os livros vão ter todos de ser reeditados… enfim, vem aí o apocalipse. Bem diziam os apocalípticos medievais que o Fim do Mundo vinha nas escrituras. Mal sabiam eles que isso seria tão literal.
A simplificação da língua é um imperativo lógico. À medida que a prática muda, também as regras o devem fazer. É assim em todas as actividades sociais, porque não havia de ser no acto tão mundano de falar e escrever?
São os brasileiros que ditam as alterações?... Não me parece que isso seja 100% verdade, mas é natural que exista um contributo maior a Oeste do Atlântico. Porquê? Porque são mais, para começar. Mas essencialmente porque não estão espartilhados pela tradição secular que nos prende a um classicismo de que nos orgulhamos (e bem!), mas do qual não conseguimos discernir o lugar na história e o legado para a prática corrente. Por outro lado, apesar de jovens no falar português (em comparação connosco), o que lhes dá essa capacidade de inovar com pertinência, são experientes na autonomia educativa, em comparação com os países africanos, que há tão pouco tempo deixaram de ter as vidas dominadas pela metrópole. Os brasileiros simplificaram muito do português, ao longo de uma fértil história de uso autónomo da língua.
A língua dos nossos avós deve ser preservada? Bom, quanto a mim, Avô de todos vós, dispenso outra preservação que não a de estes textos ficarem guardados em algum lado e que alguém tenha o interesse de os ler de vez em quando, no futuro. Quanto à língua, só se for em formol e não, obrigado (só de imaginar dá-me uma voltinha no estômago). Deixaremos de ler Saramago se ele não escrever como nós? Ooopss… Saramago não é um bom exemplo… Deixaremos de ler Mário Cláudio se ele usar palavras diferentes das que usaremos no futuro?... Respondo perguntando se deixámos de ler Camões, que tanta coisa escrevia que hoje nos faz pasmar e sorrir.
Nas escolas vai reinar a confusão? Acredito que toda a transição é conturbada. Esquece-se a TLEBES, vem o Acordo. E como se avaliam os petizes? E como se ensinam? E como se avaliam os professores e se ensinam os professores a ensinar e a avaliar como deve ser? Vai ser complicado durante uns tempos, mas tem de haver um período de transição, como sempre houve noutras mudanças, em que se considera coabitantemente certo que o era antes e o que passou a ser agora.
Vamos ter de reeditar os livros? Aos poucos, sim. Não de empreitada, claro. A não ser os escolares, mas esses são-no na mesma. De resto, à medida que se forem editando obras, fará sentido óbvio que seja à luz das novas regras. Mas enquanto não o forem, ler-se-ão os livros como sempre se leram. Alguém poderá sorrir quando vir uma palavra arcaica, como hoje fazemos se lemos um Eça original. E aqueles livros que não mereçam reedição, ficarão para sempre no original, o que não me parece o Fim do Mundo.
Quer se evolua nas regras, quer não, as mudanças sentem-se no dia-a-dia. Resta saber se temos o espírito suficientemente aberto para fazer dessa mudança a Lei.
Mas amanhã… ah! amanhã… terão a surpresa de ver o que é a verdadeira Revolução.
Perante o que vos vou sugerir, o novo Acordo Ortográfico estará longe de ser o Fim do Mundo; nem o Fim do Meu Bairro será.
Este texto era só para vos amaciar o espírito e preparar para o que aí vem. Esperem para ver!
A simplificação da língua é um imperativo lógico. À medida que a prática muda, também as regras o devem fazer. É assim em todas as actividades sociais, porque não havia de ser no acto tão mundano de falar e escrever?
São os brasileiros que ditam as alterações?... Não me parece que isso seja 100% verdade, mas é natural que exista um contributo maior a Oeste do Atlântico. Porquê? Porque são mais, para começar. Mas essencialmente porque não estão espartilhados pela tradição secular que nos prende a um classicismo de que nos orgulhamos (e bem!), mas do qual não conseguimos discernir o lugar na história e o legado para a prática corrente. Por outro lado, apesar de jovens no falar português (em comparação connosco), o que lhes dá essa capacidade de inovar com pertinência, são experientes na autonomia educativa, em comparação com os países africanos, que há tão pouco tempo deixaram de ter as vidas dominadas pela metrópole. Os brasileiros simplificaram muito do português, ao longo de uma fértil história de uso autónomo da língua.
A língua dos nossos avós deve ser preservada? Bom, quanto a mim, Avô de todos vós, dispenso outra preservação que não a de estes textos ficarem guardados em algum lado e que alguém tenha o interesse de os ler de vez em quando, no futuro. Quanto à língua, só se for em formol e não, obrigado (só de imaginar dá-me uma voltinha no estômago). Deixaremos de ler Saramago se ele não escrever como nós? Ooopss… Saramago não é um bom exemplo… Deixaremos de ler Mário Cláudio se ele usar palavras diferentes das que usaremos no futuro?... Respondo perguntando se deixámos de ler Camões, que tanta coisa escrevia que hoje nos faz pasmar e sorrir.
Nas escolas vai reinar a confusão? Acredito que toda a transição é conturbada. Esquece-se a TLEBES, vem o Acordo. E como se avaliam os petizes? E como se ensinam? E como se avaliam os professores e se ensinam os professores a ensinar e a avaliar como deve ser? Vai ser complicado durante uns tempos, mas tem de haver um período de transição, como sempre houve noutras mudanças, em que se considera coabitantemente certo que o era antes e o que passou a ser agora.
Vamos ter de reeditar os livros? Aos poucos, sim. Não de empreitada, claro. A não ser os escolares, mas esses são-no na mesma. De resto, à medida que se forem editando obras, fará sentido óbvio que seja à luz das novas regras. Mas enquanto não o forem, ler-se-ão os livros como sempre se leram. Alguém poderá sorrir quando vir uma palavra arcaica, como hoje fazemos se lemos um Eça original. E aqueles livros que não mereçam reedição, ficarão para sempre no original, o que não me parece o Fim do Mundo.
Quer se evolua nas regras, quer não, as mudanças sentem-se no dia-a-dia. Resta saber se temos o espírito suficientemente aberto para fazer dessa mudança a Lei.
Mas amanhã… ah! amanhã… terão a surpresa de ver o que é a verdadeira Revolução.
Perante o que vos vou sugerir, o novo Acordo Ortográfico estará longe de ser o Fim do Mundo; nem o Fim do Meu Bairro será.
Este texto era só para vos amaciar o espírito e preparar para o que aí vem. Esperem para ver!
1 Comments:
Este assunto parece-me muito pertinente. E a tomada de posição do avô é, sem duvida, a mais correcta. À luz daqueles que têm um pensamento mais colonialista isto pode parecer um disparate, mas a verdade é que se a lígua começa a divergir cada vez mais... arriscamo-nos a que daqui a uns anos a mesma língua se parta e dê origem a várias. Gostando-se ou não, o português do brasil dá-nos muita visibilidade internacionalmente.
Vamos ajudar a preservar este nosso património, a língua, mas sem nos esquecermos de que ele não é só nosso!
Carlos
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