Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Este Mundo em que (não) vivemos

Filipa era uma pessoa pacata, quase sempre fechada em sua casa, onde vivia sozinha com um peixe dourado e um álbum de fotografias. Tinha um emprego banal de escriturária, um apartamento banal nos subúrbios, uma vida banal.
Nessa manhã algum cheiro no ar a alertou para um dia diferente. Não sabia ainda em quê, mas tudo apontava para um ruptura com a rotina.
Ainda se espreguiçava e já o estridente retinir da porta a chamava a vestir o roupão à pressa. É impressionante como a campainha pode ser particularmente irritante logo pela manhã. Parece que os minúsculos duendes que a habitam não toleram que as pessoas ainda durmam quando eles já estão a desempenhar a sua função de guinchar que alguém está à porta.
Arrastando-se, num misto de revolta e apreensão, Filipa destravou as fechaduras – no plural, que o bairro não é para brincadeiras – e encarou duas velhinhas simpáticas, muito sorridentes, com umas revistinhas nas mãos, que lhe perguntaram de chofre o que era para ela a Vida. Pergunta atrás de pergunta, entre os “tenho mesmo de me despachar; já estava de saída” e os “não lhe tomamos mais de 5 minutos, minha menina, e vai ver que o Tempo é algo tão relativo se o compararmos com o que de bom a Vida lhe pode trazer”, lá chegaram ao “conhece o Corfebol?; sabe o que Ele pode fazer pela sua Vida?”. Que não, que não conhecia, nem tinha tempo para conhecer, que tinha de se despachar para ir à vida – assim mesmo, com minúscula, de tão banal que era. Ficou lá uma revistinha, a explicar o que era isso do Corfebol e as coisas boas que traria àqueles que O abraçassem. As senhoras prometeram voltar noutro dia, para saber o que Filipa tinha achado da revista. Filipa pôs o sorriso amarelo nº 15 e pensou de si para consigo que não lhes abriria a porta, benditos sejam os olhos mágicos que nos permitem fingir que não estamos em casa.
Atrasada, irritada, ligou o rádio enquanto se vestia. As notícias falavam de um qualquer Kees Rodenburg que tinha renovado o contrato de treinador com a Selecção Nacional. “Logo tinha de apanhar o Desporto! Farta de futebolices estou eu!”; sem disposição para mudar de canal, apagou o aparelho com o estrondo da irritação.
A correr, apanhou o comboio com as portas já a fechar e não conseguiu lugar sentada. Apertada entre outros maus humores matinais, dedicou-se ao passatempo diário de procurar uma revista para ler por cima do ombro do legítimo proprietário. Tinha duas ao alcance do olhar. Uma entrevistava Ana Correia, acabada de ser expulsa da Quinta das Celebridades, que dizia que a vitória final seria discutida entre a Joana Faria e o Vítor Machado. A outra, para além de ter também uma crónicas da Quinta, em que a mesma Ana Correia dizia que “lá dentro é só joguinhos”, trazia fotos do casamento da Alexandra Silva com o Luís Simões, perante 400 convidados íntimos.
Quando passou pelo quiosque, deu uma vista de olhos pelas primeiras páginas. “Clubes de Corfebol pedem isenção no IVA” (DN), “Jogador do NCB jantou com cunhada do advogado de Carlos Silvino” (24 Horas), “Desfeito o Tabu: Vanessa Neves não se vai candidatar à Câmara de Oeiras” (Público), “Começa hoje a promoção Heróis à Mesa – grátis a caixa e um garfo em prata assinado pela Carla Antunes” (Correio da Manhã), “Malcata antecipa o Derby de Domingo – ‘O Carnaxide está mais forte’” (Record), “Lesionado - Simão David de fora do jogo da Taça” (A Bola).
No escritório, o tema de conversa entre os homens era a crise directiva no LAC. Arnaldo Costa, principal financiador do clube, apoiava a lista B, o que os colegas de Filipa consideravam uma tremenda facada nas costas do candidato Berjano. Reunidas numa secretária, em torno de uma revista, as mulheres chamaram Filipa para integrar uma sondagem interna em que se pretendia saber qual era o melhor rabo dos homens da selecção nacional de Corfebol. Assustada, Filipa correu para o WC, alegando má disposição súbita, enquanto tentava pôr em ordem as ideias.
Recapitulando: Tinha acordado sem nunca ter ouvida falar de tal coisa, e agora o Corfebol dominava o mundo. Sentada na sanita, inalou o WC Pato com tanta força tinha, para refrescar os neurónios, mas as ideias confusas continuaram lá, entrechocando-se, absurdas.
Decidiu não dar parte de fraca, não fosse passar por louca num mundo que parecia, ele sim, totalmente virado do avesso. Iria entrar no jogo, fosse ele qual fosse, e reconhecer isso do Corfebol como algo de existente, importante, interessante, primordial, fundamental, vital...
Mas sem exageros! Aceitar o convite que um colega lhe fez para ir essa noite ver o último do Spielberg, “Nico”, com Tom Hanks no principal papel, até lhe pareceu uma ideia gira para fugir à histeria do Corfebol, até perceber que a história era sobre o criador dessa enigmática modalidade. Declinou enjoadamente.
À hora de almoço, a TV do restaurante dava destaque à notícia de última hora: o Secretário de Estado dos Desportos, Vasco Condado, tinha convidado Paulo Oliveira para Presidente do Instituto do Desporto. Em rodapé, passava um número de conta solidária para quem quisesse ajudar à reconstrução de um pavilhão ardido na Holanda.
No café onde ia sempre beber a bica e mordiscar um pastel de nata a seguir à refeição mediodiana, um puto extasiava de alegria. Saltava e gritava como se tivesse ganho o Euromilhões. Tinha comprado umas carteirinhas de cromos e, entre um Rafael Rosa, uma Marta Castela, um Bruno Patrocínio, um Pedro Vinagre, um Miguel Costa, uma Mariana Pimentel, uma Irene Inácio, um Rui Correia e uma Carine Agostinho (todos repetidos!), tinha vindo finalmente um Bruno Figueiredo! A colecção estava quase no fim.
No caminho entre o café e o escritório ainda teve tempo para ser abordada por um candongueiro argelino, “óculos escuros?... são iguais aos da Rita Gonçalves; um telemóvel que toca o hino do CCO? uma cópia que nem se nota que é pirata do Korfball Manager IV para a PlayStation?... relógios da moda, com os emblemas de todos os clubes de Corfebol... vá lá, menina, leve qualquer coisa... um equipamento da selecção para um sobrinho, é quase de...”, mas nem teve tempo de acabar, “miúda maluca, pôr-se assim a correr feita doida. Ele há com cada um...”.
A tarde custou a passar. Discutiam-se casos de arbitragem do Fim de Semana. Tentou ligar o rádio, para não ouvir os colegas, mas os EnaPá 2000 cantavam “Corfebol na Banheira é Bom – é bom para a mamã, é bom para o papá, olha para eles, como se divertem”. Desligou e concentrou-se no trabalho, com pouco sucesso.
Quando dois jovens entraram no escritório a vender calendários, sentiu o prazer do dejá vu. Todos os anos, por Janeiro, os escuteiros iam vender um calendário de parede, que ficava todo o ano pendurado no escritório. Algumas pessoas até os levavam também para suas casas. Mas aqueles jovens, afinal, não eram escuteiros. Eram da “Escolinha de Arbitragem Jorge Alves” e andavam a angariar fundos para fazer um estágio na Bélgica.
À beira de um ataque de nervos fugiu para casa mal o relógio do patrão o permitia, sem sequer se despedir dos colegas. Pelo caminho, não olhou para revistas, fechou a mente às conversas de transporte público, isolou-se o mais possível de tudo o que a rodeava, que é como quem diz, do Corfebol.
Chegou a casa e correu a subir as escadas. Nem ouviu a porteira gritar-lhe qualquer coisa sobre um tal de Alexandre Magalhães que ia jogar para a Batalha. Quando a luz do patamar do seu prédio deixou de luzir reflectida na chave, por via de esta penetrar o escuro da fechadura, quando a isso correspondeu o som metálico do trinco a rodar, Filipa só pensava no Lar Doce Lar que a esperava, limpo da invasão corfebolística que assolara o mundo lá fora.
Entrou, deitou fora a revista da madrugada, sem sequer a olhar. Desligou o telefone, não fosse alguém telefonar-lhe e abrir logo com a conversa inevitável do Corfebol (“será que a minha mãe também apanhou o vírus que por aí anda?... é melhor nem saber”), ou então ligarem-lhe de uma operadora de telefones qualquer a perguntar se faz muitas chamadas para os países onde há Corfebol. Bom, desligado não a chateava, esse vil portador dos podres exteriores.
Deixou-se cair no sofá e, gesto imediato, ligou a televisão. É o hábito; uma pessoa nem pensa no que está a fazer quando carrega no botão do comando. É o primeiro passo para a alienação frente ao Deus-televisor. Então quando o cansaço ou o desespero afligem, não há melhor que a alienação. Mas não nesse dia! Esqueceu-se, nesse dia, que a TV era também um canal que lhe atirava o exterior para o recato da casa, e o cansaço e o desespero era daí que vinham.
Ainda arriscou um zaping, mas arrependeu-se rapidamente. Um canal dava um debate em que os comentadores permanentes (Catarina Miranda, Fernando Pinto e Bruno Noronha) diziam ao moderador Mário Godinho o que pensavam da nova lei de transferências. Outro dava um documentário em que Jorge Calado passeava pelos corredores da Luísa de Gusmão enquanto lembrava como tinha constituído a primeira equipa de Corfebol em Portugal. Filipa ainda se deteve um bocadinho nos Morangos com Açúcar, mas foi só até os jovens protagonistas saírem da escola e irem a correr de entusiasmo para o... treino de Corfebol. Até a um dos canais para adultos recorreu, mas estava a dar o “Orgia no Balneário”, um clássico do corfoporno. Por piada, ainda foi ao canal desportivo, à espera de uma ironia, mas jogavam, em directo, o Odivelas B e as Doroteias, num particular.
Gritou, deixou sair um som a que nunca a sua vida banal e desinteressante tinha assistido. Em desespero, lançou-se da janela da cozinha e esperou que voar de um 5º andar a fizesse acordar daquele pesadelo. Fechou os olhos e aguardou o baque.
Como o baque não viesse, abriu ligeiramente os olhos, mesmo a tempo de ver uma bola a ir na sua direcção. Estava sentada dentro de um cesto de Corfebol, com um jogo a decorrer.

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Está giro, tem piada, está bem escrito.
É uma história que quase poderia ser transposta para o cinema, tipo uma curta-metragem.
Mas não percebi o final!

sexta-feira, 07 janeiro, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Como é Avô?! A idade apagou-te a ambição de fazeres parte deste mundo corfebolístico onde (não) vivemos? Ou estarás, qual Bruce Wayne pré-transformação em Batman, despercebidamente camuflado na confusão de nomes?
E já agora, qual será o teu Avô-mobile? Provavelmente um Ford T, preto como se quer!! E a tua Avô-cave? Certamente uma casa arrendada na Rua da Madalena, sem elevador. E o Avô-vião? Será um Fairey III-D? O mesmo que serviu de instrumento para a primeira travessia do Atlântico? Nessa altura (1922) já terias que idade? 30? 35?

Todos os 'mundos' têm o seu Super-Herói. Tu és o nosso. O primeiro Super-Herói que tem varizes. O único Super-Personagem que já não voa por causa do reumático, que não pode levantar pesos por causa da espondilose, que só se alimenta de líquidos devido às dificuldades em mastigar com a versão 4.1 da dentadura postiça. Mas arrancas sorrisos e escreves muito bem. Por isso continuas a ser SUPER!

E agora tenho de ir...
/PV (cromo repetido)

sexta-feira, 07 janeiro, 2005  
Blogger Avô said...

Ao Cromo Repetido: Obrigado.
Demorei uns meses a decidir avançar com um projecto que andasse no topo das tendências do presente. Passados alguns Posts, acho que está a valer a pena!
Ao Anónimo:
A questão do final é sempre complicada, no Cinema ou nos Blogues. Havia uma palete multicromática para terminar, mas só podia escolher um fim (se isto fosse mesmo interactivo, fazia uma espécie de "Agora EScolha", com os leitores a escolherem o destino da história).
Final Amarelo: A protagonista rende-se à evidência de que o Mundo dominado pelo Corfebol é que é bom. Viva o Corfebol! - Todos nós gostamos desta modalidade, mas isso seria um final tão esperado que era mais banal que a vida da Filipa.
Final Azul: Era um sonho estranho de que a rapariga acordava com vontade de fazer qualquer coisa em prol do desporto que tinha acabado de conhecer - Também já estamos fartos da mensagem "todos temos de fazer um pouco por isto", e tenho de guardar isso para outras alturas.
Final Branco: O salto do 5º andar acabava com um pairar indefenido... Era o mais parecido com o "Agora Escolha" - Dava-vos muito trabalho a preencher o vazio.
Final Verde: "O Mundo ainda não é assim, mas um dia há de ser!" - Bah! Vivamos o dia de hoje, que já está turvo o suficiente.
Final Vermelho: Era ela que estava deslocada. Tinha um distúrbio mental que não lhe permitia observar a realidade. O Corfebol, qual Big Brother (o do Orwell; não o da Teresa Guilherme), agarrava-a e levava-a para um campo de reeducação - Demasiado pesado para um Blogue que pode ser lido por menores.
Final Negro: A queda de um 5º andar é fatal (ponto final) - E depois o pessoal ficava triste, após mais de 100 linhas a conviver com a moça.
Final Cor-de Rosa: Nem consigo imaginar este final... Barbies e Kens a mandar bolas ao cesto?...
Final Arco-Íris: O puro nonsense. Mistura-se tudo e... não sai coisa com coisa. Saltou e foi cair num cesto, em pleno jogo. Confesso que isto foi inspirado naquela série de televisão de que não me recordo o nome (com um tipo que se chama qualquer coisa como Scott Bakula?), em que o protagonista, cada vez que acabava a sua boa acção num sítio totalmente impensável, acabava o episódio a acordar num outro sítio ainda mais impensável, sempre no meio de uma situação complicada.
Mas se quiserem, escrevem outro final e ponham-no aqui. Quando o Blogue for patrocinado, arranjam-se uns prémios para o melhor final.
Beijos e Abraços a todos!

segunda-feira, 10 janeiro, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Só tenho pena de não aparecer no texto. Somos tão poucos e estão lá tantos nomes. Talvez prá próxima.
Em que clube de video se aluga a "Orgia no Balneario"?
:-))

segunda-feira, 10 janeiro, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Proponho o final cor-de-laranja (podre):
"Em desespero, lançou-se da janela da cozinha e esperou que voar de um 5º andar a fizesse acordar daquele pesadelo. Fechou os olhos e aguardou o baque."
Mas o não houve baque, ao nível do primeiro andar, ouviu um 'toing'... quando reparou estava pendurada num nariz enorme, qual nariz de Pinóquio. Rita seguiu aquele nariz comprido e viu Santana Lopes a falar aos portugueses. Dizia qualquer coisa como "eu não uso cuecas de mulher" e o nariz cresciiiia!

Uma polítiquice com tendências "shreckianas"... pode-se Avô?

segunda-feira, 10 janeiro, 2005  
Anonymous Anónimo said...

EU aderia à religião das velhinhas. EU ouvia a notícia do Kees até ao fim. EU assistia à Quinta das Celebridades (e votava na Joana Faria). EU ficava triste se não me convidassem para o casamento do Simões e da Xaninha. EU apoiava a isenção do IVA. EU votava na Vanessa (se votasse em Oeiras). EU coleccionava o faqueiro de prata. EU ia ao Derby. EU acompanhava as eleições no LAC. EU pesquisava os rabos dos gajos. EU ia à ante-estreia do "Nico". EU sentia segurança com os responsáveis pelo nosso desporto. EU contribuia para a reconstrução do pavilhão. EU fazia a colecção de cromos e guardava os repetidos para colar nos cadernos. EU comprava tudo ao argelino. EU comprava o CD dos EnaPá. EU inscrevia-me na escolinha do Alves. EU ficava na conversa sobre a transferência do Alex. EU devorava todos os programas da TV. EU não me atiraria do 5º andar.
Então... porque é que não vivo naquele Mundo?
Parabéns, Avô!

terça-feira, 11 janeiro, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Boa tarde, antes de começar deixe que me apresente chamo-me A, Aquental (faço esta apresentação visto não pretender ter uma conta no blogger, por enquanto, e não querer ser confundido com outro anónimo).
Feitas as apresentações vi antes do naufrágio do barco, como pode constatar, que consegui ler o endereço do porto da proclamada ilha onde se exilou.
Após uma visita à ilha posso constatar que algumas coisas nunca mudam, como se costuma dizer, burro velho não aprende línguas, apesar dos esforços em aderir às novas tecnologias.
Bem, mas deixemo-nos de conversa, deixo aqui um final possível à sua novela.

Final cor de burro quando foge: Filipa acorda não se lembra de nada, apenas de uma palavra Corfebol, abre mais os olhos e vê que não está no seu quarto, na sua sossegada e banal casa, o sitio onde agora se encontra é um espaço branco e com cheiro a desinfectante.
Tenta levantar-se para descobrir onde está, mas não consegue, algo a mantém "presa" à cama, os seus braços e as suas pernas não lhe obedecem como que se estivessem num sono profundo e dele não mais saíssem.
Filipa entra em pânico, grita por ajuda, por alguém que lhe possa explicar o que está a fazer naquele sítio naquela cama, naquele estado.
Entram dois médicos e dirigem-se para a Filipa e informam-na que está paralisada, a queda do 5ºandar foi fatal, mas não para ela, para um pobre idoso que passava pelo prédio da Filipa e que lhe amparou a queda. Filipa tinha ficado paralisada, matou uma pessoa acidentalmente, mas algo lhe intrigava mais do que isso tudo, apesar do estranho que isso possa parecer, o que é essa palavra que lhe martelava a cabeça, Corfebol. Ninguém conhecia a palavra ou o que isso significava, nem médicos, nem enfermeiras, nem os seus colegas de trabalho que a foram visitar, nem os policias que a foram interrogar pelo homicídio involuntário do pobre idoso.
Os dias passaram e Filipa continuava a pensar e a repensar na maldita palavra que lhe assolava a mente a toda a hora CORFEBOL.
Eis então um dia que chegou ao hospital uma nova médica que conhecia a palavra e o que ela significava, finalmente alguém podia dar descanso à pobre coitada.
A médica mal soube da historia dirigiu-se ao quarto da doente a fim de tentar aliviar o incomodo na qual Filipa se encontrava e talvez quem sabe desbloquear alguma coisa escondida no subconsciente dela, pois Filipa não se lembrava de mais nada a não ser a tal palavra.
Ao abrir a porta do quarto deparou-se com uma jovem deitada e que aos seus pés tinha duas velhinhas de aspecto simpático e que diziam qualquer coisa à jovem.
Ao chegar-se ao pé da cama Rita, assim se chama a médica, apenas conseguiu perceber as ultimas palavras das duas senhoras "..estás a ver. Agora podias estar a caminho do Brasil tal como nós, que vamos para lá agora.”. Rita achou aquilo um pouco estranho mas como não ouviu a conversa toda, não ligou, apesar de quando as duas velhinhas passaram por ela em direcção à porta ela teve a sensação que as conhecia.
"Muito bom dia, então é a senhora que quer saber o que é o corfebol? " disse Rita, ao que a Filipa respondeu "Não, eu já sei o que é, ou melhor o que poderia ter sido e no que se tornou. Podia ter sido um desporto realmente divulgado com níveis de integração muito elevados, tanto nas escolas, como em clubes, como no Pais em geral mas tornou-se como muitas outras coisas do nosso pais um meio para uns que tem mais olho para a malandrice porem algum ao bolso e umas viagens à custa dos anjinhos que pensam que isto é tudo cor-de-rosa e que infelizmente o corfebol tem uma morte anunciada.
Se calhar se tivesse "lido a revista", talvez não estivesse nesta cama, talvez não tivesse matado uma pessoa e se calhar estava agora no Brasil ou noutro pais qualquer, comendo e bebendo de borla."
Rita ficou estupefacta com tamanha lucidez da paciente, pois para quem dizia que ela não dizia coisa com coisa Filipa fez uma descrição daquilo que é em parte o universo corfebolistico português.

terça-feira, 11 janeiro, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Eu voto no final cor-de-laranja (podre).

JCM

quinta-feira, 13 janeiro, 2005  

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