Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

quarta-feira, junho 28, 2006

O Bilhete

Tinha sido minha colega ainda na EB.2.3. Tinha uns olhos que desde sempre me fascinaram.
Queria convidá-la a sair... fazer qualquer coisa.
Mas não a ia convidar para ir ao cinema.
Peguei no papel, nem ridiculamente pequeno, nem desleixadamente grande, nem pretensiosamente calculado, o mais simples possível, o mais discreto possível. Sem cores nem corações. Branco.
Mas não a ia convidar para lanchar.
Medi as palavras. Lembrei-me dos sorrisos que trocáramos em quase quatro anos de amizade. Todos estavam gravados na minha memória, e não se pode dizer que eram poucos.
Mas não a ia convidar para a festa da escola, na 6ª feira.
Tinha um sorriso lindo. Tremi, arrepiei-me de caneta na mão trémula. Queria convidá-la para algo.
Mas não a ia convidar para comer um sundae no Mac.
Só a expectativa de estar uns minutos com ela, num encontro, a dois, deixava-me motivado a dar finalmente à folha branca.
Mas não a ia convidar a ir jogar Playstation lá para casa.
Ficaria surpreendida com o convite? Reagiria mal?... As dúvidas assaltavam-me, mas já estava decidido a escrever o bilhete. Só faltava decidir o convite a fazer.
Não a ia convidar a ir ao jardim.
Nervoso, mas confiante, voltei a pensar em todos os momentos que passáramos juntos e no sentimento reprimido que fui descobrindo aos poucos e que agora, finalmente, estava disposto a revelar.
Mas não a ia convidar a estudarmos juntos para o teste de Biologia.
Pensei, hesitei, levei a caneta ao papel várias vezes, ensaiando uma letra enganadoramente perfeita. Escolhi. Desisti. Voltei a escolher. Parei. O Sorriso valia pensar melhor. Mudei a escolha. Hesitei mais uma vez. O Sorriso de novo me abençoou a lucidez. Fui firme. Escrevi o convite no bilhete.
Não, não a ia convidar para ver o jogo da Selecção lá em casa.
Dobrei a folha cuidadosamente. Discreto, aproximei-me da mochila dela e, dentro de um livro, depositei o bilhete com cinco palavras:
“Queres ir jogar Corfebol comigo?”

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

benvindo de volta, avô.
já estávamos com saudades destes tus textos.

quarta-feira, 28 junho, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Gosto da inocência transcrita no seu texto...
Gosto da forma como escreve, dá prazer ler bom português, juntando isso a lições de cultura geral e de corfebol :) Aqui tenho lido informações que desconhecia acerca deste desporto que adoro... Afinal de contas, está efectivamente a desempenhar funções de Avô ao dar a conhecer aos mais novatos nomes antigos e acontecimentos que marcaram a história do corfebol em Portugal e no mundo... Continue!

quarta-feira, 28 junho, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Cute

quinta-feira, 29 junho, 2006  
Anonymous Anónimo said...

e diga lá caro amigo o nome da sua donzela?!

sábado, 01 julho, 2006  

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