Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

segunda-feira, abril 02, 2007

Os Belos e as Mestras

Estamos bonitos, estamos!
Não é só por termos um concurso que exalta a burrice e a cromice, uma lusitanização do confronto americanóide entre os geeks e as cheerleaders.
É porque temos quem se esforce para defender o concurso e, até, tirar um efeito educativo do mesmo. Diz o Piet Hein, que é tão conhecido pelos big brothers (e afins) como por ter estado casado com a Alexandra Lencastre, e que é dos poucos holandeses que conheço e que não jogam Corfebol, que este concurso “vai fazer o preconceito das crianças diminuir. Porque ao reforçar o contraste de uma forma tão vincada desconstrói os estereótipos”.
Uau! Este homem devia ir para político. Portanto, deixa cá ver se percebi... Ao tornar reais, na tela da caixa que mudou o mundo, as anedotas de louras, estamos precisamente a ensinar às criancinhas que as anedotas não passam de isso mesmo e que ser bonito não é incompatível com ser inteligente.
Ou seja, uma criancinha que engula o reality show da TVI todos os dias, quando se cruzar com uma mulher bonita, vai olhar para ela com respeito porque – Santo Piet, que nos dás a luz! – tem os estereótipos desconstruídos. Dirá o petiz algo como “Tu é bonita, como as miúdas do concurso. Como o concurso é exagerado, caricatural, isso significa que o preconceito é falso e que, portanto, tu és inteligente. Parabéns, por seres bonita e inteligente”. Ah!, como vai ficar elevado o ego das mulheres bonitas deste país.
Estamos bonitos, estamos! Diria belos, até. E, daí decorrendo, inteligentes, também.
Homens inteligentes, com QI’s elevados, cultos, que percebam de ciências e artes, também não precisam de ser feios, acromalhados, desastrados no desporto e inábeis com as mulheres. Aqueles, os do concurso, são, ou tentam fazer parecer que são, mas isso é para desconstruir o estereótipo.
Mais. Nada impede, segundo os próprios produtores, que haja uma versão ao contrário deste programa. Tipo, homens louros e musculados que não sabem quem é o Mário Soares, a aprender com mulheres de óculos e borbulhas que sabem recitar até à 20ª casa do Pi.
Isto, para os iluminados como o Piet Hein, prova as boas intenções do programa, que não é sexista. Claro que se não fosse ele próprio louro, era capaz de perceber que o estereótipo se mantém, apesar da transexualidade a que se submeteu. Ou então sou eu, a quem as cãs escondem se alguma vez a loura cor cá esteve, que mais uma vez não percebo a desconstrução dos estereótipos. Sou tão burro que até já me acho bonito.

Como é que se desconstroem, a sério, os estereótipos? Transpondo a lógica da convivência despreconceituosa para as diversas áreas da vida social.
Não é com medidas hipócritas como aquela de pôr os bonecos dos semáforos e sinais de trânsito com saias, só para que as mulheres não se sintam insultadas por não figurar em tão belas obras de arte. Ou então, se forem burras, ainda pensam que se o homenzinho verde, de chapéu, é nitidamente masculino, elas ainda não podem atravessar a rua. E, depois disto, há de chegar o momento em que as pessoas que não usam chapéu vão querer bonecos sem chapéu, e em que os deficientes vão querer bonecos pernetas ou em cadeira de rodas, e em que os passeadores de cães vão querer o seu bobby a figurar no semáforo, ou não atravessarão a rua. Até as galinhas, famosas por atravessarem estradas e ninguém ter descoberto ainda porquê, vão querer sinais com a sua silhueta.
Não; não é assim. É não utilizando o género feminino quando se fala em culinária ou moda, ou decoração. “se a leitora não tiver em casa ovos de codorniz, pode sempre utilizar...” Porquê a leitora e não o leitor? Bom, dirão muitos, então e porquê o leitor? Não vou entrar por aí, limitando-me a seguir a norma, que é utilizar o masculino para o sujeito indefinido.
Mas é mais do que isso. A vida social é mista e deve sê-lo com respeito pelas diferenças e igualdade de oportunidades e tratamentos. Todas as actividades sociais deveriam reflectir isso.
Atalhando caminho, que a conversa já vai longa, chego ao destino, ou seja, como não poderia deixar de ser, ao Corfebol.
Desconstroem-se preconceitos e estereótipos quando existem actividades como esta. Aqui, todos fazemos o mesmo. Aqui, quando ganham os homens ganham as mulheres e o perder é de igual forma partilhado. Não há regras para uns diferentes das regras para outros. Há regras que salientam que homem e mulher não é a mesma coisa (não se podem defender; não pode haver equipas com 5 mulheres ou 5 homens), mas não há regras que sejam para um e não para o outro. Aqui, quando vamos jogar longe, viajamos todos juntos; quando fazemos jantares e outras confraternizações, há o colorido de estarmos juntos. E nada disso é forçado; decorre naturalmente da característica principal da modalidade, que é ser mista.
Não vamos jantar juntos depois de um jogo porque uns estiveram a jogar e os outros a apoiar. Vamos porque estiveram mulheres e homens a jogar e estiveram homens e mulheres a apoiar.
Se queremos uma sociedade em que exista sã convivência entre sexos, temos de valorizar o papel do Corfebol (entre várias outras actividades, mas este Blog é de Corf), enquanto única modalidade desportiva que promove verdadeiramente a desconstrução de estereótipos.
Há uns mais bonitos, uns mais cultos, uns mais inteligentes, uns mais hábeis, sem relação de causalidade directa ou indirectamente proporcional entre si, mas... aqui, no Corfebol, todos somos Belas e Belos; aqui, no Corfebol, todos somos Mestras e Mestres.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

então e a já tradicional mentira de 1 de abril?

segunda-feira, 02 abril, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Já conhecia as declarações do P.H.Bakker e o homem é mesmo parvo. Como se para acabar com a discriminação o ideal fosse discriminar ainda por cima num programa que pretende ser da vida real. Parece que da Holanda não vêm só ideias boas como o corfebol mas também vem muito telelixo.

terça-feira, 03 abril, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Mestres, sim tenho conhecido muitos no corfebol, os meus treinadores e ídolos de equipas superioras. Belas, sim também tenho conhecido muitas, as minhas colegas de equipa e de outros clubes.
Abraços e beijos a tod@s.
C.

quinta-feira, 05 abril, 2007  

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