Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

sexta-feira, setembro 05, 2008

A Beata do Alasca

Falemos dos americanos.
É típico daqueles que agem como donos do mundo não serem propriamente exemplares nos critérios que utilizam para escolher os seus líderes.
Eleições que, à imagem do desporto-espectáculo, valem pela vitória absoluta e não pelos números relativos (ganhar dois estados por 1 voto vale mais que ganhar um estado por mil), campanhas que ostentam bandeirinhas e confettis em vez de ideias, soundbites escolhidos por legiões de profissionais especialistas na manipulação, lobbying institucionalizado… enfim, escolhas duvidosas só podiam dar em políticas duvidosas. O que nem seria preocupante, não fora sabermos que os reflexos no nosso rectangulozinho à beira-mar plantado são enormes, como enormes são em todo o globo terrestre and beyond.
O senhor republicano de sorriso de plástico (mais que pepsodent, aquilo é corega plus) escolheu uma senhora para o acompanhar na corrida presidencial. Só será surpresa para quem só tenha acordado hoje que nenhum comentador analise esta escolha de um ponto de vista de governação - quais as mais-valias de ter a senhora Palin na vice-presidência? - mas sim de um ponto de vista eleitoral - as mulheres democratas, desiludidas com a derrota da Hillary, vão aderir a uma candidatura feminina? os ultra-conservadores vão aderir a uma candidatura do mais reaccionário que há? e por aí adiante…
Também não espanta que este debate, já de si inócuo, passe para segundo plano quando chegam as notícias, mais ou menos picantes, de cariz pessoal e familiar. Esqueça-se que a senhora defende a venda indiscriminada de armas; esqueça-se do que advoga em termos de direitos sociais; esqueça-se que baralha evolucionismo com criacionismo; esqueça-se que defende que o homem não influi nas questões climáticas… Temos coisas mais giras para falar! Falemos do marido que foi preso há vinte anos por conduzir alcoolizado; da filha, adolescente e solteira, que está grávida; de um suposto e sempre desmentido affair que terá tido com um colega do marido; das ligações do marido aos independentistas do Alasca. Sim, falemos da família e não dela, porque é mais divertido. Falar de política é chato, mesmo quando se trata de eleger a equipa presidencial do Estado mais poderoso do mundo.
Estamos a falar de um país onde um candidato tem de abandonar a sua candidatura quando se descobre que, durante o serviço militar, teve medo de saltar de um helicóptero. E se nem sequer cumpriu serviço militar, então nem vale a pena lá aparecer. Estamos a falar de um país onde um dos presidentes mais consensuais (pela positiva, tanto interna como externamente) de uma longa história teve de se demitir porque veio a público que uma estagiária lhe brincava com as partes íntimas.
Estamos a falar de um hipócrita país onde a família é arrastada para a esfera pública como se isso contribuísse alguma coisa para a gestão pública. Não pode haver comício sem que esposas, esposos e filhos (neste caso, até o futuro genro, para mostrar que a miúda está grávida mas que tudo vai voltar “às direitas”) estejam no palanque, a acenar, a sorrir, a dizer que a mamã (ou o papá, ou o maridão, ou a mulherzinha, ou até a sogra) é a maior, e que vai ganhar, e que estamos todos muito “proud of her” e que “God bless America”.
Mas estamos também a falar de uma candidata que é a 2ª mulher a concorrer à vice-presidência, presumo que a 1ª republicana. Estamos a falar de uma eleição que esteve a um passo de ter a primeira mulher a concorrer à presidência. Uma eleição que tem um não-branco a disputar esse lugar pela 1ª vez. Mas isto não interessa. Queremos é sangue, de preferência da família, de preferência com sexo à mistura.
E assim, no meio destes disparates, como é que querem que me sinta seguro? Eu devia poder votar no “Leader of the Free World”. Eu e todo o “Free World”. Nós e também os habitantes do outro “World”, onde quer que isso seja, porque esses ainda levam mais com as decisões do “Leader” do que nós.
Todos. Todos devíamos votar nas eleições americanas. Todos os habitantes deste 3º Calhau a contar do Sol.
Mas não votamos. Se eu votasse, entre o péssimo e o aceitável, votaria no Obama… Mas só se não me deixassem votar na Mackenzie Allen.