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Era a revelação dos últimos anos. Ninguém percebia como é que a Gertrudes, jogadora mediana sem grandes bases na exigente ciência do treino, tinha atingido tal sucesso como treinadora. Tanto mais que os seus atletas achavam os treinos fracos, sentiam que pouco aprendiam, que falhava novidade e competência à líder.
Mas os jogos corriam bem. Parecia que ela antecipava o que se ia passar. Apostava sempre nos jogadores em melhor forma e previa a sua prestação. Um dia, virou-se para um habitual suplente e disse-lhe que precisava de confiança, e que nesse dia essa confiança viria quando abafasse um dos melhores atacantes do campeonato e marcasse 4 golos na 1ª parte. Riram-se todos e o visado franziu a sobrancelha, mas a profecia concretizou-se e a Gertrudes passou a ser vista à sombra de uma aura mística que ninguém conseguia explicar.
Mas nós, com a omnipresença de quem escreve/lê uma história ficcionada, podemos observar de fora aquilo que os outros não vêm. Afortunados somos!
E conseguimos ver um dia de jogo da equipa da Gertrudes, Tru para os amigos e para simplificações deste texto.
Acompanhamo-la desde manhã, e a primeira surpresa é ver que dorme uma sesta antes do jogo. Mas as verdadeiras surpresas viriam depois.
Com espanto, vêmo-la pôr uma pistola na mala que sempre leva para os jogos. Pressão sobre os árbitros!, pensamos nós, que levamos sempre as anomalias de resultados para o elo mais fraco. Mas não; a verdade estaria para vir, abrupta e chocante.
Tivemos azar no dia que escolhemos para fazer esta visita omnipresente. O jogo está a correr terrivelmente mal. Até que, no final, no balneário, ante o desânimo total, um tiro!; a treinadora aponta à cabeça de um dos seus atletas e, sem piedade, dispara. Tentamos intervir, mas não somos omnipotentes, apenas omnipresentes.
Sem dar tempo à reacção dos colegas, aproxima-se do falecido, massa cefálica espalhada por todo o lado, e olha-o fixamente. E aqui aconteceu aquilo que só nós, e a Tru, conseguimos ver. O atleta morto vira a cara para ela e diz-lhe “Ajuda-me!”.
Somos então transportados para a cama da jovem treinadora (mais uma vez, de uma forma apenas omnipresente, o que é pena) e – espanto supremo! – o dia repete-se. Não todo, mas apenas desde a tal sesta, uns minutos antes de avançar para o pavilhão.
Mas nem tudo se repete. Com os ensinamentos que recebeu durante o jogo, orienta os jogadores para evitar erros e aumentar que de bom fizeram. O jogador pode não perceber porque é que ela lhe diz para, numa determinada jogada, dar mais espaço ao atacante do que é normal, mas nós sabemos que aquela jogada, no dia anterior (ou na primeira versão daquele mesmo dia), tinha dado penalty. Uma após outra, as indicações de Tru levam a equipa a fazer algo melhor que na primeira tentativa (para os jogadores, aquela era a primeira tentativa, mas nós sabíamos que não). Mesmo assim, está longe de ganhar o jogo.
Nova surpresa. A meio do jogo, após um livre que não deu ponto, Tru pede um desconto de tempo e... até nos custa a olhar!... dispara à queima roupa em pleno peito de uma das suas pupilas. A cena do “Ajuda-me!” repete-se. O dia repete-se, desde o final da sesta. O jogo repete-se. O desconto de tempo repete-se, até que o livre dê em golo. Perdemos a conta à quantidade de vezes que o jogo é interrompido por um tiro e reatado como se nada se tivesse passado. E de cada vez que se repete, melhor corre para a equipa de Tru.
Ficamos a perceber a elevada percentagem de concretização daquela equipa. Ficamos a perceber as estranhas opções e orientações da treinadora. Ficamos a perceber porque é que aqueles atletas perdem o rendimento quando vão às selecções.
A verdade fica a descoberto... para nós, omnipresentes que aqui estamos a escrever/ler esta história. Mas não para os protagonistas. Não para os adversários. Não para o público. Nem sequer para os jogadores da equipa de Tru, que nem imaginam a quantidade de buracos de bala já tiveram no corpo.
O macabro segredo está guardado pela jovem, que apenas o partilhou com o seu irmão, um viciado no Corfebol Mania.
Um dia, porém, um tiro saiu uns milímetros ao lado. Não atingiu logo o ponto vital e o atleta atingido resistiu uns segundos antes de dar o suspiro final. O tempo suficiente para permitir que os colegas agarrassem a treinadora e não lhe permitissem receber o pedido de ajuda. Havia jogo de Futsal a seguir e os polícias já lá estavam. Foi presa.
Contou a sua história e foi dada como mentalmente avariada. Stress competitivo, pensaram todos. Afinal, depois de jogos tão bons, aquele estava a correr verdadeiramente mal. Nem parecia a mesma equipa. Mal sabem eles que aquele era um jogo igual a todos. Sabêmo-lo nós, os tais da omnipresença, que assistimos a tudo.
Uns anos mais tarde, um jornal sensacionalista, daqueles aos quais não devemos dar atenção, noticiava que num determinado manicómio tinham baixado drasticamente os óbitos registados.
Mas os jogos corriam bem. Parecia que ela antecipava o que se ia passar. Apostava sempre nos jogadores em melhor forma e previa a sua prestação. Um dia, virou-se para um habitual suplente e disse-lhe que precisava de confiança, e que nesse dia essa confiança viria quando abafasse um dos melhores atacantes do campeonato e marcasse 4 golos na 1ª parte. Riram-se todos e o visado franziu a sobrancelha, mas a profecia concretizou-se e a Gertrudes passou a ser vista à sombra de uma aura mística que ninguém conseguia explicar.
Mas nós, com a omnipresença de quem escreve/lê uma história ficcionada, podemos observar de fora aquilo que os outros não vêm. Afortunados somos!
E conseguimos ver um dia de jogo da equipa da Gertrudes, Tru para os amigos e para simplificações deste texto.
Acompanhamo-la desde manhã, e a primeira surpresa é ver que dorme uma sesta antes do jogo. Mas as verdadeiras surpresas viriam depois.
Com espanto, vêmo-la pôr uma pistola na mala que sempre leva para os jogos. Pressão sobre os árbitros!, pensamos nós, que levamos sempre as anomalias de resultados para o elo mais fraco. Mas não; a verdade estaria para vir, abrupta e chocante.
Tivemos azar no dia que escolhemos para fazer esta visita omnipresente. O jogo está a correr terrivelmente mal. Até que, no final, no balneário, ante o desânimo total, um tiro!; a treinadora aponta à cabeça de um dos seus atletas e, sem piedade, dispara. Tentamos intervir, mas não somos omnipotentes, apenas omnipresentes.
Sem dar tempo à reacção dos colegas, aproxima-se do falecido, massa cefálica espalhada por todo o lado, e olha-o fixamente. E aqui aconteceu aquilo que só nós, e a Tru, conseguimos ver. O atleta morto vira a cara para ela e diz-lhe “Ajuda-me!”.
Somos então transportados para a cama da jovem treinadora (mais uma vez, de uma forma apenas omnipresente, o que é pena) e – espanto supremo! – o dia repete-se. Não todo, mas apenas desde a tal sesta, uns minutos antes de avançar para o pavilhão.
Mas nem tudo se repete. Com os ensinamentos que recebeu durante o jogo, orienta os jogadores para evitar erros e aumentar que de bom fizeram. O jogador pode não perceber porque é que ela lhe diz para, numa determinada jogada, dar mais espaço ao atacante do que é normal, mas nós sabemos que aquela jogada, no dia anterior (ou na primeira versão daquele mesmo dia), tinha dado penalty. Uma após outra, as indicações de Tru levam a equipa a fazer algo melhor que na primeira tentativa (para os jogadores, aquela era a primeira tentativa, mas nós sabíamos que não). Mesmo assim, está longe de ganhar o jogo.
Nova surpresa. A meio do jogo, após um livre que não deu ponto, Tru pede um desconto de tempo e... até nos custa a olhar!... dispara à queima roupa em pleno peito de uma das suas pupilas. A cena do “Ajuda-me!” repete-se. O dia repete-se, desde o final da sesta. O jogo repete-se. O desconto de tempo repete-se, até que o livre dê em golo. Perdemos a conta à quantidade de vezes que o jogo é interrompido por um tiro e reatado como se nada se tivesse passado. E de cada vez que se repete, melhor corre para a equipa de Tru.
Ficamos a perceber a elevada percentagem de concretização daquela equipa. Ficamos a perceber as estranhas opções e orientações da treinadora. Ficamos a perceber porque é que aqueles atletas perdem o rendimento quando vão às selecções.
A verdade fica a descoberto... para nós, omnipresentes que aqui estamos a escrever/ler esta história. Mas não para os protagonistas. Não para os adversários. Não para o público. Nem sequer para os jogadores da equipa de Tru, que nem imaginam a quantidade de buracos de bala já tiveram no corpo.
O macabro segredo está guardado pela jovem, que apenas o partilhou com o seu irmão, um viciado no Corfebol Mania.
Um dia, porém, um tiro saiu uns milímetros ao lado. Não atingiu logo o ponto vital e o atleta atingido resistiu uns segundos antes de dar o suspiro final. O tempo suficiente para permitir que os colegas agarrassem a treinadora e não lhe permitissem receber o pedido de ajuda. Havia jogo de Futsal a seguir e os polícias já lá estavam. Foi presa.
Contou a sua história e foi dada como mentalmente avariada. Stress competitivo, pensaram todos. Afinal, depois de jogos tão bons, aquele estava a correr verdadeiramente mal. Nem parecia a mesma equipa. Mal sabem eles que aquele era um jogo igual a todos. Sabêmo-lo nós, os tais da omnipresença, que assistimos a tudo.
Uns anos mais tarde, um jornal sensacionalista, daqueles aos quais não devemos dar atenção, noticiava que num determinado manicómio tinham baixado drasticamente os óbitos registados.
6 Comments:
eheh
back to the good writing, boss
The Calling - O Apelo. Eu a pensar que era o único que via a TV2 nas 5as à noite.
Um pouco macabro mas apesar de tudo, elogio a capacidade inventiva...
"Tru Calling". Daí vem a GerTRUdes.
Muito macabro! Prefiro as histórias do Capuchinho Vermelho e afins.
sinceramente nao percebi se fizeste um elogio ou uma critica..
Na 5ª feira confirmei. É mesmo "Tru Calling". Tru, que é o nome da garina e porque é um TRUcadilho com "True Calling".
E agora aquilo está intrincadíssimo. O gajo do Beverly Hills é do lado de lá e - mais grave ainda - o pai da tipa também.
mais informo: esta quinta estreia a segunda série!
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