Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

sexta-feira, junho 29, 2007

"...and I went on a voyage to Sweden"

A minha mãe bem que me dizia para não ir para Educação Física. Estaria a estudar para o desemprego, dizia ela, mais valia ir para advocacia. Ainda pensei ser Engenheiro, mas lá na Holanda, de onde sou, não havia sucursais da Independente.
(NA: este deve ter sido o último blogue a enfiar uma piada com este tema; é fracota, mas tinha de ser)
Bem que me arrependi de não dar ouvidos à minha mãe. Franzino, de óculos, pequeno para um homem da terra dos moinhos, não tinha grande impacto como professor, ainda mais de educação física.
Ainda por cima, baralharam tudo ao vir com a ideia pioneira de misturar os rapazes e as raparigas nas mesmas escolas. Raio de ideia! Como é que havia eu de dar as minhas aulas, elas de saia, eles de calção, olhando-se e tocando-se...?

Resolvi mudar de vida. Se o Kusturica anda para aí a tocar guitarra e o Woody Allen a tocar clarinete (ou outro pífaro qualquer do género), porque é que não havia eu de ser outra coisa. “Muda de vida, não deves viver contrafeito”, pensava eu de mim para comigo...
Também gostava de mudar de nome. Nico é amaricado e Broekhuysen só é legível por comedores de Gouda enfiados em socas de madeira.
Mas, vistas bem as coisas, não é tão mau como o famoso Jacinto Leite Capelo Rego. Esse também só se diz por tugas distraídos, que não notam o trágico trocadilho a que se submetem. Até parece o nome de uma qualquer equipa de torneio informal, como pelas lusitanas paragens se usa nos torneios de quadras.

Então lá fui para a Suécia, de trouxa ao ombro, à procura de fama e glória. Principalmente a Glória, porque parece que lhe estava a dever umas entremeadas.
Não era bem para a Suécia que queria ir, mas meti-me num InterRail e acabei retido no Kebnekaise por causa de um súbito nevão. Demorei tanto tempo a sair de lá, que deixei caducar o passe e tive de ficar uns tempos por aquelas bandas.
Procurei distrair-me, enquanto procurava um rumo a dar à minha vida. Esperava uma epifania, mas tardava a aparecer.
Fui assistir a um concerto dos Abba e encontrei gente tão famosa como o Ingmar e a Ingrid Bergman, o Mats Magnusson, a tipa dos Roxette e a Maria Ögren. À saída do concerto, deu-se a viragem na minha vida.
Uma rapariga de sorriso franco, portuguesa, de altura estranhamente reduzida para aquelas paragens, estava à beira da um riacho a contar sapos. Irradiava simpatia e disse-me as enigmáticas palavras “Vai para Nääs”. Bom, isto foi o que eu percebi na altura, em holandês. Tentei decifrar o que a rapariga disse, em Português, mas eu não sabia uma palavra dessa língua, nem ela de holandês, nem algum de nós de sueco. Ainda por cima, pouco habituada ao frio sueco, a moça estava constipada, o que ainda dificultava mais a comunicação. Se calhar só me disse "Bom Dia!" ou "Tira o pé de cima desse Pelobates".

Mas era um sinal. Eu devia ir para Nääs, onde quer que isso fosse. Consultei um mapa e lá fui.
Incrédulo, percebi que o sinal divino me tinha devolvido às origens de professor de Educação Física. Fui parar a um curso de desportos tradicionais suecos na localidade de Nääs, cheio de colegas de vários países, e resolvi acatar a indicação divina e procurar tirar dali algum proveito.
Descobri, a certa altura, um grupo que alegremente mandava uma bola a um cesto de batatas sem fundo, situado no alto de um poste de madeira. Ia passar por esse jogo com a mesma indiferença com que tinha passado por todos os outros, mas não sem que antes mandasse também uma bola lá para cima.
Experimentei, fiz um “seis” perfeito (acabara de inventar uma técnica de lançamento que rapidamente se tornaria arcaica) e... marquei ponto! Era aquilo um ponto?, perguntei aos meus alegres colegas. Que sim, sorriram eles entusiasticamente, e fiquei mais animado com o rumo da minha vida.
Percebi que eu, holandês, tinha conseguido à primeira algo que os outros tipos, de tantos outros países, tinham alguma dificuldade em conseguir. Percebi também que tinha sido o primeiro holandês na história a meter uma bola naquele estranho aparato. Ora, se aquilo se tornasse um desporto nacional holandês, eu seria o número um num desporto que poderia chegar aos 100 anos e à centena de milhar de praticantes em simultâneo.
Tinha de levar aquilo para as escolas da minha terra natal. A minha mãe já devia estar preocupada e lembrei-me que tinha deixado a bicicleta sem cadeado. Tinha mesmo de regressar, e agora já tinha um pretexto – ia começar um desporto novo.

Voltei ao país onde manter os pés secos dependem dum puto que tem o dedo enfiado num dique (acho que não é sempre, mas prefiro pensar que sim, porque não sei nadar).
Apresentei o novo desporto na minha escola. Chamei-lhe Nederlands Nico Ringbol, mas as t-shirts que queria mandar estampar pagavam-se à letra e reduzi para Korfbal. Os tempos que tinha passado a passear tinham-me dado cabo do orçamento. E assim identificava o jogo com os cestos de fruta em que andei a rebentar o fundo.
Dividi as minhas turmas em equipas masculinas e femininas, mas o director da escola – um indefectível liberal! – achava que o desporto também deveria ser misto, como as escolas, e que já que estávamos a iniciar uma coisa nova, ao menos que se introduzisse essa novidade. Protestei, mas lá tive de aceitar a imposição.
A escola – pública - não tinha o relvado muito bem tratado e era muito difícil driblar. Então, para não ficarmos em desvantagem quando jogássemos com os colégios particulares, decidi que não se podia driblar. E, já agora, também não se correria com a bola. Era estranho, mas aquela posição de Deus-Todo-Poderoso, que decide tudo sobre alguma coisa (mesmo que um simples desporto), era cativante e eu tinha de inventar a sério para demonstrar o meu poder.

A coisa correu bem e muita gente na Holanda começou a mandar bolas aos cestos. Na Holanda e, de seguida, na Bélgica e, com o tempo, em mais de cinquenta países.
Fiquei contente, embora não fosse propriamente no Desporto que eu buscasse a fama e a glória. O que eu queria era, sei lá!, cantar, talvez... Ser estrela da MTV... Mas ter inventado o Corfebol também foi giro.
Bom proveito!

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

avô, sou leitora assídua do blog, adoro os textos, acho que estão extraordinariamente bem escritos e tratam de temas que me interessam!
não obstante, tenho preferido ficar na obscuridade, a comentar...
qual não é o meu espanto ao ler este post... não resisti... estou a pensar nas poucas pessoas que sabem o que é um 'pelobates' =]

domingo, 01 julho, 2007  
Blogger Näas said...

Então Nääs leva dois tremas? Quer dizer que ando mal escrito? Estes suecos são loucos!

segunda-feira, 02 julho, 2007  
Blogger Unknown said...

a pouco e pouco o avô vai deixam cair uma dicas quanto à sua identidade!!!!!!

pedro #3 cccd

segunda-feira, 02 julho, 2007  
Anonymous Anónimo said...

À vai? :)

terça-feira, 03 julho, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Há várias referências que não percebo. Quem é o Kusturica, o W. Allen toca? Quem é o Gouda, o Kebnekaise, o Mats Magnuson, o Pelobates?
Ao ler este post fiquei com um atestado de ignorância, bolas!

quinta-feira, 05 julho, 2007  
Blogger Amândio said...

Caro Anónimo, Kusturica é um cineasta bósnio, Gouda é uma variedade de queijo originária da cidade de Gouda, nos Países Baixos; O monte Kebnekaise (que pode ser traduzido como "Cumeada") é a montanha mais alta da Suécia; O Mats Magnuson foi ponta de lança no benfica entre 1987 e 1992 (64 golos ao serviço do benfica); Por fim, O Pelobates (nome completo "Pelobates cultripes") é um sapo, conhecido como sapo-de-unha-negra.
Espero ter ajudado.

domingo, 08 julho, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Estavam bem boas acredite, eheh

segunda-feira, 09 julho, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Falta o Woody Allen!

terça-feira, 10 julho, 2007  
Blogger Avô said...

Obrigado, Amândio. Poupaste-me a resposta. Até fiquei a saber a questão da cumeada, que não sabia.
Quem não sabe quem é o Magnusson não é bom chefe de família.
O Woody Allen pertence à Eddy Davis New Orleans Jazz Band. Há uns meses esta banda esteve em Portugal, e lá estava o Woody a tocar o seu clarinete.

quarta-feira, 11 julho, 2007  

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