Um Conto Fora de Época (parte I)
“Natal é quando um Homem quiser” (do povo)
Estendido na cama, após um dia extenuante, Jack só esperava que o sono vencesse as últimas resistências do corpo e da mente. Já mal se dava conta do primeiro, já sentia a segunda como que em efeito fade.
No limbo do adormecimento, talvez já adormecido e ainda sem o ter percebido, entrou-lhe no quarto um estranho espírito, rosto de menino com aspecto envelhecido. Afável, não inspirou receio, apesar da apreensão de Jack.
- Sou o Espírito do Corfebol Passado. Venho-te convidar a fazer uma visita.
Não dando tempo ao espantado Jack para reagir, pegou-lhe na mão e levou-o janela fora, voando como Peter Pan.
Surpreso, Jack viu-se a si mesmo, uns dez anos antes, a caminho da escola onde teve o primeiro treino de Corfebol. Ao seu lado caminhava uma rapariga.
- Lembras-te dela?
- Como não me lembrar?... A Cynthia. Começámos os dois a treinas naquele dia.
- Lembras-te daquele primeiro treino?
- Sim. Foi fantástico. Nunca tinha visto Corfebol antes. Foi um colega que me convenceu a ir. O treinador era um espectáculo. Max Spencer; jogava na Selecção e íamos ver os jogos todos dele. Conseguiu motivar-nos tão bem que ficámos quase todos a jogar durante muitos anos.
- Queres ver o teu primeiro jogo?
- Sim, claro... era tão novinho.
Jack estava enternecido a olhar para si próprio, de calções pelo joelho, desengonçado e pouco hábil. A certa altura, o jovem Jack chorava.
- Falhaste um penalty. As coisas não te estavam a correr bem. Os teus colegas começavam a ficar críticos de mais em relação ao teu jogo. Ainda por cima perderam.
- Lembro-me bem. Era o meu primeiro jogo e alguns não perceberam isso. Saí do jogo a chorar a dizer que nunca mais jogava.
- E depois?
- O Max foi espectacular. Animou-me muito. Explicou-me que numa modalidade colectiva não se perde por causa de um jogador e que, naquela fase, o resultado pouco importava. Se não fosse ele nunca mais tinha treinado.
- Só ele?
- Não. A Cynthia e o Robbie, que jogava há mais tempo, também me foram apoiar e convencer que para a próxima iria correr melhor.
- E correu?
- Sim. Comecei a perceber melhor o jogo e acho que me tornei um jogador razoável. O Max deixou-me aterrado quando no jogo seguinte me mandou marcar um penalty. A minha primeira reacção foi recusar, mas avancei e marquei. Era um jogo equilibrado e esse momento foi determinante para o meu futuro.
- Vamos avançar uns anos... Lembras-te deste dia?
- Já estou mais velhinho. Uns 19 anos, talvez... Jogava na equipa B dos White Sharks. Olha o tanso do Chris Bee. Era um otário!
- O Chris Bee era da tua equipa?
- Não. Era da D mas teve de jogar connosco porque nos faltavam rapazes e a C estava a jogar à mesma hora. Não dava uma para a caixa... Olha-me aquele passe!
- Estás a gritar com ele?
- Lembro-me que perdemos esse jogo. Era um jogo importante e aquele azelha deitou tudo a perder. Fiquei lixado!
- Ao ponto de esqueceres o que te foi ensinado. Ao ponto de esqueceres que também tu foste um jogador inexperiente. Aposto que não foi ele que pediu para jogar duas equipas acima. Foi necessário e ele tentou ajudar.
- Um jogador fica com a cabeça quente. Se calhar devia ter sido o treinador a dar-lhe o apoio necessário, sei lá!
- Vamos avançar um bocadinho...
- Olha, isto foi quando comecei a treinar a equipa de formação dos Sharks.
- Samantha Thomas...
- Já nem me lembrava dessa tipa. Era uma libelinha. Não tinha mesmo queda para aquilo... quer dizer, queda até tinha – estava sempre a cair, eheh!
- Numa época inteira, só faltou a um treino, porque estava doente. Nunca jogou um jogo de início. Raramente entrou.
- Prejudicava o rendimento da equipa. Só a puz de vez em quando por favor, porque se não a pusesse caiam-me todos em cima.
- Numa equipa de formação? Com miúdos de 12 anos?
- Com 12 anos já se quer ganhar e não posso prejudicar os miúdos com talento para pôr a jogar uma miúda que não dá uma para a caixa.
- Estou a ver... Bom, tenho de me ir embora. E tu tens de descansar um bocadinho. Prepara-te para seres visitado por um colega meu, e depois outro.
- Mais espíritos?
- Sim. Agora descansa.
Estendido na cama, após um dia extenuante, Jack só esperava que o sono vencesse as últimas resistências do corpo e da mente. Já mal se dava conta do primeiro, já sentia a segunda como que em efeito fade.
No limbo do adormecimento, talvez já adormecido e ainda sem o ter percebido, entrou-lhe no quarto um estranho espírito, rosto de menino com aspecto envelhecido. Afável, não inspirou receio, apesar da apreensão de Jack.
- Sou o Espírito do Corfebol Passado. Venho-te convidar a fazer uma visita.
Não dando tempo ao espantado Jack para reagir, pegou-lhe na mão e levou-o janela fora, voando como Peter Pan.
Surpreso, Jack viu-se a si mesmo, uns dez anos antes, a caminho da escola onde teve o primeiro treino de Corfebol. Ao seu lado caminhava uma rapariga.
- Lembras-te dela?
- Como não me lembrar?... A Cynthia. Começámos os dois a treinas naquele dia.
- Lembras-te daquele primeiro treino?
- Sim. Foi fantástico. Nunca tinha visto Corfebol antes. Foi um colega que me convenceu a ir. O treinador era um espectáculo. Max Spencer; jogava na Selecção e íamos ver os jogos todos dele. Conseguiu motivar-nos tão bem que ficámos quase todos a jogar durante muitos anos.
- Queres ver o teu primeiro jogo?
- Sim, claro... era tão novinho.
Jack estava enternecido a olhar para si próprio, de calções pelo joelho, desengonçado e pouco hábil. A certa altura, o jovem Jack chorava.
- Falhaste um penalty. As coisas não te estavam a correr bem. Os teus colegas começavam a ficar críticos de mais em relação ao teu jogo. Ainda por cima perderam.
- Lembro-me bem. Era o meu primeiro jogo e alguns não perceberam isso. Saí do jogo a chorar a dizer que nunca mais jogava.
- E depois?
- O Max foi espectacular. Animou-me muito. Explicou-me que numa modalidade colectiva não se perde por causa de um jogador e que, naquela fase, o resultado pouco importava. Se não fosse ele nunca mais tinha treinado.
- Só ele?
- Não. A Cynthia e o Robbie, que jogava há mais tempo, também me foram apoiar e convencer que para a próxima iria correr melhor.
- E correu?
- Sim. Comecei a perceber melhor o jogo e acho que me tornei um jogador razoável. O Max deixou-me aterrado quando no jogo seguinte me mandou marcar um penalty. A minha primeira reacção foi recusar, mas avancei e marquei. Era um jogo equilibrado e esse momento foi determinante para o meu futuro.
- Vamos avançar uns anos... Lembras-te deste dia?
- Já estou mais velhinho. Uns 19 anos, talvez... Jogava na equipa B dos White Sharks. Olha o tanso do Chris Bee. Era um otário!
- O Chris Bee era da tua equipa?
- Não. Era da D mas teve de jogar connosco porque nos faltavam rapazes e a C estava a jogar à mesma hora. Não dava uma para a caixa... Olha-me aquele passe!
- Estás a gritar com ele?
- Lembro-me que perdemos esse jogo. Era um jogo importante e aquele azelha deitou tudo a perder. Fiquei lixado!
- Ao ponto de esqueceres o que te foi ensinado. Ao ponto de esqueceres que também tu foste um jogador inexperiente. Aposto que não foi ele que pediu para jogar duas equipas acima. Foi necessário e ele tentou ajudar.
- Um jogador fica com a cabeça quente. Se calhar devia ter sido o treinador a dar-lhe o apoio necessário, sei lá!
- Vamos avançar um bocadinho...
- Olha, isto foi quando comecei a treinar a equipa de formação dos Sharks.
- Samantha Thomas...
- Já nem me lembrava dessa tipa. Era uma libelinha. Não tinha mesmo queda para aquilo... quer dizer, queda até tinha – estava sempre a cair, eheh!
- Numa época inteira, só faltou a um treino, porque estava doente. Nunca jogou um jogo de início. Raramente entrou.
- Prejudicava o rendimento da equipa. Só a puz de vez em quando por favor, porque se não a pusesse caiam-me todos em cima.
- Numa equipa de formação? Com miúdos de 12 anos?
- Com 12 anos já se quer ganhar e não posso prejudicar os miúdos com talento para pôr a jogar uma miúda que não dá uma para a caixa.
- Estou a ver... Bom, tenho de me ir embora. E tu tens de descansar um bocadinho. Prepara-te para seres visitado por um colega meu, e depois outro.
- Mais espíritos?
- Sim. Agora descansa.
3 Comments:
Waiting for the 2nd part, Mr. Dickens
Há tantos Jacks por aí...
É bom mudar de assunto que o outro já tinha mais respostas que posts neste Blogue
Enviar um comentário
<< Home