Um Conto Fora de Época (parte II)
“Embrenhei-me neste assombrado livrinho para acordar o espírito de uma ideia. Que ele não ponha o leitor de mal consigo, com os outros, com o tempo ou comigo. Que ele invada agradavelmente a sua casa e que ninguém sinta o desejo de o pôr de lado.
O vosso amigo e servo fiel, C.D.” (Charles Dickens)
- Sou o Espírito do Corfebol Presente. Já estavas à minha espera.
E sem perder tempo, voaram janela fora. Aterraram na manhã desse dia, na Sala de Professores da Escola de Jack, onde este estava sentado, em frente ao computador.
- Aquele sou eu?
- És. Lembras-te do que estavas a fazer?
- De manhã, antes de começar a dar aulas, gosto de navegar um bocado pela Internet. Desde que ligaram o PC da Sala dos Professores à Net tenho feito disso um hábito diário.
- Reconheces aquele Man-O-Korf?
- Sim. É o meu nick nos foruns de Corfebol. Hoje de manhã estava a pôr umas mensagens...
- Porque é que tens um nick?
- Para poder escrever o que quero, sem depois ter problemas pessoais. Sabes, este é um mundo pequeno, as pessoas conhecem-se todas e quero evitar chatices.
- E assim podes escrever coisas como o que escreveste hoje. Passo a ler uma parte: “Já que ninguém quer ser Presidente da Federação, devíamos organizar um jogo de “Olho do Cú”. Assim ficávamos com Presidente e Vice-Presidente, que nunca seriam piores do que os que temos tido porque pior é impossível. Já que as escolhas parece que obedecem sempre a critérios sem nexo e que só nos prejudicam, então acho que uma escolha num jogo de cartas era um critério interessante e com muito mais piada. Palhaços por palhaços, ao menos que tenham sorte ao jogo. Para além disso, ganhávamos um Olho do Cú e um Vice-Olho. Aposto que isso ia dar muito gozo a certas pessoas que só estão no Corfebol para espreitar uns olhos do cú e até tenho a certeza que esses cargos iriam assentar como uma luva a certos participantes neste fórum, como o Scrapper, o Bullseye ou o pessoal do Winter Korfball Club”. Achas isto correcto?
- Os gajos é que começaram. Disseram que coisas do meu clube e estão sempre a acusar os nossos árbitros de serem parciais. Quanto à Federação, é mesmo assim. Só querem é poleiro e depois não fazem nada.
- E tu, fazes alguma coisa?
- Sou jogador, sou treinador, só não sou é árbitro porque não estou para aturar as críticas dos outros. Se fosse árbitro, era só amarelos e vermelhos.
- Curioso isso, vindo de um dos jogadores mais indisciplinados. Diz-me, o que é que fizeste hoje à tarde?
- Tive aulas e depois fui dar treino. Cheguei atrasado porque tive reuniões à tarde.
- Não. Chegaste atrasado porque, depois das reuniões foste beber uns copos com os colegas e nem sequer avisaste os teus atletas do teu atraso. Não vamos passar pelo café onde estavas, e onde disseste que estavas farto de dar treinos mas que assim não pagas quotas e só por isso é que aceitaste ser treinador. Vamos directos ao pavilhão.
No pavilhão, um grupo de jovens atletas conversava sobre a ausência do treinador. Dois deles, irritados por não terem sido avisados e por ser uma situação habitual, foram-se embora, dizendo que o Corfebol até pode ter piada mas que preferem outras modalidades mais organizadas e com mais respeito pelos atletas. Quando Jack chegou, havia só 7 para treinar, pelo que decidiu não dar o treino. “Se quiserem mandem umas bolas, é convosco”.
A Federação, em final de mandato, tinha enviado uns questionários para todos os atletas sobre o que pensavam da vários aspectos na actuação do elenco federativo e que perspectivas e ambições tinham para o futuro. Jack disse-lhes que a Federação era uma cambada de oportunistas, todos ligados a dois ou três clubes que faziam tudo para deitar abaixo o seu clube, e que deviam protestar escrevendo “São todos uns palhaços!” nos questionários. Os jovens, alguns empolgados pelo clubismo do treinador, outros dizendo que nem conheciam as pessoas da Federação, lá foram aceitando o que Jack lhes propôs e assim seguiram os questionários para a Federação.
- E por aqueles que não estavam no treino ou se recusaram a escrever isso, escreveste tu, não foi, Jack?
- E depois? É uma palhaçada estar a preencher inquéritos. Vai servir de alguma coisa?
- Acho que nunca saberás. Tens ideia das actividades que faz a Direcção da Federação?
- Sei que não fazem a ponta de um lápis. Se fizessem tínhamos mais atletas, mais dinheiro, mais organização, mais visibilidade...
- E os atletas que se calhar perdeste hoje porque ficaste a beber uns copos?
- Como se a culpa agora fosse minha! Se eu estivesse na Federação iam ver... eu é que não quero!
- Vives como a Cigarra. Cantas, cantas, e deixas a Formiga a trabalhar. Queres tudo feito, de bandeja, e a tua única ajuda são as canções críticas que debitas sem conhecimento de causa.
- Deixa-me adivinhar... O teu próximo colega é o Espírito do Corfebol Futuro e vai-me revelar que vou morrer à fome no Inverno. Vai bugiar!
- Sim, será essa a tua próxima e última visita. Não me parece que vás morrer de fome no Inverno, pelo menos no sentido estrito do termo, mas ele to dirá. Agora descansa um pouco mais. Vais precisar de energias para encarar o mais difícil de todos os tempos – o Futuro.
O vosso amigo e servo fiel, C.D.” (Charles Dickens)
- Sou o Espírito do Corfebol Presente. Já estavas à minha espera.
E sem perder tempo, voaram janela fora. Aterraram na manhã desse dia, na Sala de Professores da Escola de Jack, onde este estava sentado, em frente ao computador.
- Aquele sou eu?
- És. Lembras-te do que estavas a fazer?
- De manhã, antes de começar a dar aulas, gosto de navegar um bocado pela Internet. Desde que ligaram o PC da Sala dos Professores à Net tenho feito disso um hábito diário.
- Reconheces aquele Man-O-Korf?
- Sim. É o meu nick nos foruns de Corfebol. Hoje de manhã estava a pôr umas mensagens...
- Porque é que tens um nick?
- Para poder escrever o que quero, sem depois ter problemas pessoais. Sabes, este é um mundo pequeno, as pessoas conhecem-se todas e quero evitar chatices.
- E assim podes escrever coisas como o que escreveste hoje. Passo a ler uma parte: “Já que ninguém quer ser Presidente da Federação, devíamos organizar um jogo de “Olho do Cú”. Assim ficávamos com Presidente e Vice-Presidente, que nunca seriam piores do que os que temos tido porque pior é impossível. Já que as escolhas parece que obedecem sempre a critérios sem nexo e que só nos prejudicam, então acho que uma escolha num jogo de cartas era um critério interessante e com muito mais piada. Palhaços por palhaços, ao menos que tenham sorte ao jogo. Para além disso, ganhávamos um Olho do Cú e um Vice-Olho. Aposto que isso ia dar muito gozo a certas pessoas que só estão no Corfebol para espreitar uns olhos do cú e até tenho a certeza que esses cargos iriam assentar como uma luva a certos participantes neste fórum, como o Scrapper, o Bullseye ou o pessoal do Winter Korfball Club”. Achas isto correcto?
- Os gajos é que começaram. Disseram que coisas do meu clube e estão sempre a acusar os nossos árbitros de serem parciais. Quanto à Federação, é mesmo assim. Só querem é poleiro e depois não fazem nada.
- E tu, fazes alguma coisa?
- Sou jogador, sou treinador, só não sou é árbitro porque não estou para aturar as críticas dos outros. Se fosse árbitro, era só amarelos e vermelhos.
- Curioso isso, vindo de um dos jogadores mais indisciplinados. Diz-me, o que é que fizeste hoje à tarde?
- Tive aulas e depois fui dar treino. Cheguei atrasado porque tive reuniões à tarde.
- Não. Chegaste atrasado porque, depois das reuniões foste beber uns copos com os colegas e nem sequer avisaste os teus atletas do teu atraso. Não vamos passar pelo café onde estavas, e onde disseste que estavas farto de dar treinos mas que assim não pagas quotas e só por isso é que aceitaste ser treinador. Vamos directos ao pavilhão.
No pavilhão, um grupo de jovens atletas conversava sobre a ausência do treinador. Dois deles, irritados por não terem sido avisados e por ser uma situação habitual, foram-se embora, dizendo que o Corfebol até pode ter piada mas que preferem outras modalidades mais organizadas e com mais respeito pelos atletas. Quando Jack chegou, havia só 7 para treinar, pelo que decidiu não dar o treino. “Se quiserem mandem umas bolas, é convosco”.
A Federação, em final de mandato, tinha enviado uns questionários para todos os atletas sobre o que pensavam da vários aspectos na actuação do elenco federativo e que perspectivas e ambições tinham para o futuro. Jack disse-lhes que a Federação era uma cambada de oportunistas, todos ligados a dois ou três clubes que faziam tudo para deitar abaixo o seu clube, e que deviam protestar escrevendo “São todos uns palhaços!” nos questionários. Os jovens, alguns empolgados pelo clubismo do treinador, outros dizendo que nem conheciam as pessoas da Federação, lá foram aceitando o que Jack lhes propôs e assim seguiram os questionários para a Federação.
- E por aqueles que não estavam no treino ou se recusaram a escrever isso, escreveste tu, não foi, Jack?
- E depois? É uma palhaçada estar a preencher inquéritos. Vai servir de alguma coisa?
- Acho que nunca saberás. Tens ideia das actividades que faz a Direcção da Federação?
- Sei que não fazem a ponta de um lápis. Se fizessem tínhamos mais atletas, mais dinheiro, mais organização, mais visibilidade...
- E os atletas que se calhar perdeste hoje porque ficaste a beber uns copos?
- Como se a culpa agora fosse minha! Se eu estivesse na Federação iam ver... eu é que não quero!
- Vives como a Cigarra. Cantas, cantas, e deixas a Formiga a trabalhar. Queres tudo feito, de bandeja, e a tua única ajuda são as canções críticas que debitas sem conhecimento de causa.
- Deixa-me adivinhar... O teu próximo colega é o Espírito do Corfebol Futuro e vai-me revelar que vou morrer à fome no Inverno. Vai bugiar!
- Sim, será essa a tua próxima e última visita. Não me parece que vás morrer de fome no Inverno, pelo menos no sentido estrito do termo, mas ele to dirá. Agora descansa um pouco mais. Vais precisar de energias para encarar o mais difícil de todos os tempos – o Futuro.
posted by Avô | 9:21 da manhã
6 Comments:
Era para deixar o meu comentário no outro post mas como este, até à data/hora em que escrevo não tem nenhum comentário decidi colocá-lo neste.
avo avo lá continuas tu, só como tu sabes ser decrépito, caquéctico, já meio senil e pelo que me disseram já meio vesgo.
Tive algum tempo afastado e decidi agora voltar pois parece-me o momento certo, a federação está demissionária, pelo menos o seu presidente e por isso decidi por aqui um post (perguntam-se vocês "tão mas o que é que tu escreveste até agora tem a ver com o tópico? Calma.)
Charles Dickens escritor inglês do século XIX encantou e encanta muita gente com as suas histórias bem escritas e sempre com algo a transmitir que deixa o leitor a pensar em mais do que apenas aquilo que leu.
Ora eu tive um ano, praticamente, de interregno, lendo histórias da carochinha, falando com pessoas que até à uns tempos pareciam “não” ver o que se passava, mas que para minha surpresa e contentamento foram abrindo os olhos no meio deste meio onde nos encontramos. E acho que por isso posso pôr aqui a minha história da carochinha:
Á muito tempo, num reino distante havia um grupo de rapazes e raparigas, todos muito aplicados e com grande apetência para o desporto. Um belo dia um viajante daquele reino voltou de um outro reino, com costumes bem diferentes daquele onde os nossos intervenientes habitavam, e trouxe de lá um jogo parecido com o ringboll, o corfebol.
Juntou o grupo de rapazes e raparigas, explicou-lhes as regras e decidiu formar um clube, o Dragon Club. Para os seus atletas perceberem melhor a modalidade e para ganharem uma maior experiência o caixeiro-viajante, agora treinador, decidiu levar o grupo de jovens ao reino do corfebol. Chegando lá os jovens, de idade e de pratica corfebolistica, ficaram maravilhados com o que se deparavam, pavilhões próprios para a modalidade, vários clubes e divisões, um sem número de praticantes a um nível tão superior que os deixavam boquiabertos.
De volta ao burgo os jovens decidiram que realmente queriam ser jogadores de Corfebol.
Outros clubes apareceram mas os Dragons iam sempre ganhando, até que passado alguns anos as divergências foram aparecendo no seio do grupo e esse mesmo grupo foi desfeito, dando origem a novos clubes. Um dos jovens que saiu do clube e que criou um novo clube, tinha saído dos Dragons clamando por mais protagonismo, por mais adoração por parte dos seus colegas e pessoas à volta dele, algo que o CV (a partir de agora o caixeiro-viajante passa a ser CV) não concordava e dizia-lhe repetidamente, “apesar de seres bom jogador, não és completo e além disso o corfebol é um jogo de equipa”.
Magoado por o seu treinador não o considerar, como ele achava que devia ser considerado, Barnabé, assim se chama o nosso jovem, decidiu criar o BCC (Barnabé Corfebol Clube) para o qual convidou os jovens que treinava e que ele achava, que como ele, gostavam do protagonismo e do vedetismo.
Mais anos passaram o Dragon já não existia, havia agora o Ostra Corfebol Clube, na qual estavam parte do Dragon, na parte norte do reino foi criado o Good Day Corfebol e claro está o BCC lá continuava.
Guardando sempre algum rancor, Barnabé, foi-se impondo cada vez mais no reino corfebolistico, passou para a Direcção dos Amigos do Corfebol, entidade que regulava o Corfebol no reino. Se alguém não concordava com o Barnabé ou se mostrava que tinha outra maneira de ver o Corfebol, Barnabé irritava-se de tal maneira que até cabelos arrancava e tudo fazia para que aquele que demonstrou desagrado não mais se mostrasse a nível internacional ou até a nível nacional.
O reinado de Barnabé durou algum tempo, o qual no início até pareceu promissor mas que depois para o fim já ninguém o queria à frente do Corfebol do reino.
Barnabé foi definhando sozinho até que por fim acabou por morrer sozinho, sozinho pois aqueles que inicialmente o apoiaram, tal como ele também queriam o protagonismo e não estavam para o dividir com ninguém.
avo como podes ver não és o único que podes contar historias. Pode não ser tão airosa e bela como as tuas narrativas mas quem a ler perceberá.
Abraço Aquental
Achei a história (do comentário)gira, apesar de ser muito grande para um comentário.
Ó Avô, podias abrir o Blogue a outras tendências?...
Há Blogues com vários participantes. Era giro e plural.
O facto de ter achado a história gira não quer dizer que tenha concordado com ela. O Barnabé, se acaba a definhar sozinho é porque a história vai muito para o futuro e um futuro que não sei onde o inventaram. o Barnabé está em glória, conquistou tudo o que estava ao seu alcance conquistar. Se calhar o CV e todos os Good Days ficaram muito longe disso.
Também não percebo a alusão a divergências no Dragon. O Ostra não foi uma divisão mas uma transferência completa.
Acho ainda uma injustiça falar do Norte sem referir o verdadeiro opositor ao Dragon, que foi o Espumante DC. E não há referência ao Barcelona. Granda ego!
Mas repito o repto: Avô, era giro teres posts de gente que sabe escrever coisas giras. Se as opiniões forem diferentes das tuas, melhor. Este Anónimo era uma boa hipótese.
Todos os dias venho ver se há posts novos, já é um vício.
Adoro o Blog porque adoro ler as crónicas do Avô. Não sei pq devia haver outros a escrever, se este é o "Blog do Avô" e não do Anónimo ou do Verão, ou do Inverno.
Não conheço o livro do Dickens e por isso não estou muito à vontade para falar, mas tou a gostar da história e amanhã cá estarei para ver se já tá a 3ª parte.
ah, já agora, acho boa a ideia de dividir em partes porque a Cinderela era muito grande e dá mais trabalho a ler tudo de uma vez.
Obrigada, Avô
Fico espantado com o que venho encontrar nestes comentários.
A culpe é minha, devia era ler só os textos principais e não ligar ao resto.
O avô mantém um site que diverte alguns e seerve para outros virem cá dizer mal dele pr´prio. Não têm mais nada para fazer?
Quando o Aquental fazia as acusações mais absurdas ao avô no forum da fed. ainda se compreensdia porque é que lia as coisas do avô porque era um forum da fed., ou seja de todo o corf português.
Agora este é um site do avô e vem um tipo que já mostrou ser pouco digno de respeito e arranca logo o seu texto ultra-tendencioso a chamar decrepito, caquético, meio senil ao avô.
De cerrteza que o avô pode apagar as mensagens que quiser e está a mostrar desportivismo ao não fazê-lo.
Quando o Aquental tiver um site dele, pode contar as suas histórias e as pessoas que quiserem vão lá ler. Enquanto não tiver, pode escrever num site alheio mas, deve respeitar o anfitrião. Isto é se tiver boa educação.
Bolas, sou obrigado a concordar com o pessoal! Falam,falam, falam, e não dizem nada. Avô, continua a contar as tuas lindas histórias, e contos de fadas, que disso e novelas é que a gente gosta...viva o Matrix!!!!
se Barnabé = Nuno Ferro, então leia isto:
Realmente Dickens escreveu histórias muito interessantes! Copperfield, Um conto de Natal, Oliver Twist, etc. Mas tenho a certeza que não se orgulharia de ter um "AQuental" como heterónimo fictício. Acho que foi inventada uma nova maneira de contar histórias: a "Fábula invertida", isto é, na fábula normal um Homem conta uma história sobre animais, na "Fábula invertida" um Animal conta uma história sobre pessoas!
Se Barnabé <> (diferente) Nuno Ferro, então leia isto:
Não percebi a história do "AQuental".
em qualquer dos casos, assumo que Freud possa explicar esses recalcamentos... Mais cego é aquele que não quer ver do que aquele que não pode ver.
Avô: já deves saber, mas fica aqui escrito que FELIZMENTE para o ano não terei que aturar este tipo de comentários sem aderência à realidade. E INFELIZMENTE, não poderei ter o prazer de praticar o desporto que me completou, me preencheu e me deu um sem número de alegrias ao longo de 9 anos!...
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