Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Tempo de Balanço

Estamos a meio de uma época inovadora. Estabeleceu-se um modelo novo, polémico. Polémico e novo são quase sinónimos. Sempre que se muda, polemiza-se.

Sobre o modelo, e o que lhe vi de bom e mau, ficou um e-mail escrito, enviado, recebido, metido na gaveta e apagado do mapa arrogante e incompetente onde acabou por aterrar – aterrar o e-mail e o seu contexto –, o corfebolinho mesquinho e suas vendettas inconsequentes, a necessidade de sujar toda uma camisola para não se notar a nódoa que lá estamos a deixar crescer.
Mas isso agora não interessa nada e, para mais, a prática obriga ao refresh de ideias.

O refresh que eu faço, que todos podemos fazer, que os clubes farão de certeza, que a CT da FPC terá de fazer, implicará uma reavaliação da realidade.
Acho que deve haver estabilidade nos modelos adoptados. Não podemos transformar-nos no sistema nacional de ensino, onde os modelos de ensino ou as avaliações de alunos e professores variam ao sabor de mudanças de governos, ou pior, de ministros, ou pior ainda, dos humores de ministros.
Mas também acho que não se podem fechar os olhos às evidências e às opiniões de quem lida com os modelos impostos. Esta é uma boa altura para se debaterem vícios e virtudes do modelo apresentado e corrigi-lo, ajustá-lo, e até, eventualmente, revogá-lo, se as resistências forem mais fortes e pertinentes que a vantagem da estabilidade.

O que não pode é acontecer como antes de 2007/08, em que tudo estava pronto para arrancar em atropelo completo ao estabelecido no ano anterior. A justiça desportiva exige que as consequências dos resultados sejam conhecidas antes da disputa desses resultados. Por uma questão de planeamento (traçar de objectivos) de quem participa e por uma questão de credibilidade (decisões apenas em abstracto) de quem decide.
Nem deve acontecer como antes de 2008/09, em que, com um ano (depois do revés anterior) para apresentar o modelo, se acabou por o impor de novo em cima do acontecimento, escudado por uma cláusula duvidosa de “depois logo se vê”. Já não se atropelou o estabelecido; agora nem sequer se estabeleceu, que é para precaver atropelos. Esperteza saloia!

Um modelo com grupos mutáveis em vez de divisões é, logo à partida, um revés em termos de imagem. Para o exterior, haver 1ª e 2ª (ou até 3ª, como já houve) divisões é um ponto a favor quando queremos vender a modalidade lá fora. O sistema actual torna complicado explicarmos aos nossos amigos a que nível jogamos e mandar resultados para a comunicação social.

Por outro lado, este abolir de fronteiras favorece a mobilidade dentro de uma mesma época desportiva, o que vejo com muito bons olhos desde que eles – os olhos – se puseram pela primeira vez em cima da proposta (chamemos-lhe assim, apesar de nunca o ter sido). Sendo o Corfebol em Portugal uma modalidade muito volátil, este aspecto é muito interessante.
Factores de pormenor fazem com que o valor das equipas varie muito de uma época para outra. É positivo, portanto, que cada uma possa encontrar o seu espaço durante a época, podendo subir ou descer de acordo com os resultados conquistados.
E há a possibilidade sempre latente de uma equipa nova ambicionar mais do que uma subida por ano. Uma equipa nova pode, com este modelo, começar em baixo e conquistar o título nacional logo no primeiro ano de existência. É claro que este raciocínio, hoje, remete para o Sporting, mas podia ser qualquer outro clube, como qualquer outro pode surgir em anos que aí venham e terá (se o modelo se mantiver) igual possibilidade.

Esta situação de mobilidade faz com que os jogos sejam tendencialmente equilibrados, o que é bom. Quando as equipas sobem e descem de acordo com o seu valor, vão ajustando as suas posições ao valor que têm. Ou seja, os grupos tendem a ser compostos por equipas de nível competitivo idêntico.

O reverso da medalha é que acaba por se jogar sempre com os mesmos, durante um ano inteiro. Quando se reduziu o número de jogos nos play offs, foi acima de tudo porque as equipas faziam demasiados jogos contra os mesmos, apanhando sempre as mesmas caras pela frente. Havia jogadores que já sabiam os tiques todos daquele oponente directo que lhe calhava sempre na rifa, porque era o mais alto, ou o mais rápido, durante vários jogos seguidos, até ao enjoo.
Pois hoje, fase após fase, aquelas equipas que não sobem nem descem (que são, por lógica matemática, a maioria), passam a época a jogar com os mesmos adversários.

E dessas, algumas jogam durante três quartos do campeonato, literalmente a feijões.
Por causa da mudança regular da constituição dos grupos, não é possível fazer transitar pontos de uma fase para a outra. Olhemos, então, para as consequências desse facto nas equipas que, cronicamente, não sobem nem descem. Principalmente nas das extremidades – as primeiras do grupo A e as últimas do grupo D.
O CCO ganhou os jogos todos até agora. Isso serve de alguma coisa? Nada. Garantiu a presença no grupo principal, mas isso nunca se pôs em causa, como não se põe para o NCB e para o CCCD. Os resultados entre estas 3 equipas contaram para quê? Nada. Antes pelo contrário, visto que alguma lógica que me escapa coloca a melhor equipa do grupo A a jogar com a melhor do B, no wild game, o que é radicalmente injusto para ambas. De resto… as hipóteses de ser campeão são iguais para qualquer um dos participantes que fiquem no primeiro grupo até à última fase. Portanto, anda-se a jogar a feijões entre as 3 primeiras. Quando os jogos forem a doer, já passaram meses de motivação escassa.
Lá para baixo é igual. As equipas C do NCB e do LAC andam há meia temporada a jogar entre si, sem pensar em subir mas sabendo que, de ciclo em ciclo, de fase em fase, é feito um reset aos resultados. Só lá mais para a frente é que ganhar vale alguma coisa de concreto.

Não é fácil agradar a gregos e a troianos. Não é fácil encontrar os melhores modelos. Não é fácil prever consequências. Devo dizer que o último aspecto a que aludi me escapou na análise prévia que tina feito. Só a prática me abriu os olhos para isso.
O que não é difícil, agora, acho eu, é promover o debate e respeitar opiniões. Não é difícil, acho eu, dar contributos e recebê-los.
Convém é ir fazendo isso enquanto há tempo para debater. Talvez num ENT ou num END, se ainda se souber o que isso é.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Carros e Lixo

Hoje não há carros do lixo em Lisboa. Quer dizer, há alguns, mas não sei quantos. Os sindicatos e os patrões conseguem sempre apresentar números tão díspares (o mesmo com os professores, o mesmo com os correios...) que nem vale a pena tentar saber os correctos valores de adesão.
Carros - Lixo - Lisboa... Não tem relação com a greve, mas leva-me a escrever o seguinte texto:
Faz poucas semanas que Lisboa parou por causa de 15 minutos de chuva. Parou, literalmente. Túneis inundados, lojas alagadas. Numa Capital que se diz Europeia. Valeu ser fim-de-semana.

Na mesma altura, tinha o pára-brisas dianteiro do meu carro manchado a branco com um papel publicitário de uma qualquer loja de móveis da Reboleira. Não sei de que raio de cola era feito o papel, mas demorou longos dias a sair. Nem à força da tromba do elefante azul, nem à força da chuva. Foi o tempo que acabou por fazer sair, aos poucos, o danado do panfleto.
Mais carros das imediações tinham vestígios da loja de móveis na Reboleira. O que era suposto ser um simples panfleto passou a praga na vizinhança. Não era suposto colar, digo eu, mas colou. E bem.
Mesmo que não colasse, esse papel e todos os outros que se metem nos carros são pragas.

Sou daquelas pessoas que guardam um papelinho de rebuçado no bolso até encontrar um caixote do lixo. Isto não me soa a grande qualidade – o lógico seria todos fazerem o mesmo – mas sei que até acaba por ser. Há tanta gente que deita papéis para o chão, de uma forma revoltantemente indiferente, que acaba por ser meritório fazer algo que o bom senso consideraria banal. O bom senso ou a civilidade que se verifica noutras zonas do Globo.

Portanto, sou também daqueles que, sempre que apanham um papel do limpa pára-brisas – ou da porta, como agora é hábito fazer-se – do carro, o guardam e esperam por uma oportunidade para o deitarem fora. Mas não somos muitos, ao que parece.
Daí a praga. A culpa é de quem atira o papel para o chão, mas não deixa de ser para quem o meteu no carro.
Até porque, às vezes, por exemplo com chuva, o papel fica de tal forma que não apetece muito guardá-lo. E há aquelas vezes em que não nos lembramos de o apanhar e acaba por voar a meio do trajecto.
Enfim, nada disso aconteceria se não o tivessem lá posto.

E para onde é que vão os milhares de panfletos que são amachucados e mandados ao chão?
O vento e a água levam-nos por aí, conspurcando os caminhos, e acabam por morrer nas sarjetas, onde formam um bolo compacto. É esse bolo que impede o escoamento de chuvadas de 15 minutos.
E um quarto de hora de dilúvio pára Lisboa.

Sim, o pessoal das Câmaras também tem culpa, por não limpar as sarjetas antes das chuvadas. Sim, é o típico “depois da casa roubada, trancas à porta”.
Mas o comum cidadão tem uma responsabilidade de que não se pode safar tão facilmente no dia do Dilúvio Final.

Os panfletos nos carros são só um exemplo, a que decidi dar mais destaque por estar ainda revoltada com a alva mancha que a loja de móveis da Reboleira me deixou no carro.
Mas há mais…

Maços de cigarros que voam pelos vidros dos carros fora. Pessoas que andam com o maço no bolso enquanto tem cigarros, não conseguem guardá-lo mais um bocadinho até chegarem ao seu destino, onde decerto haverá uma cesta de papéis?
Terão consciência do tempo que a voraz Natureza demora a fazer desaparecer aquele misto de papel, prata e plástico?

E os cigarros propriamente ditos?
Paragens de autocarro, apesar de todas terem uma papeleira dotada com aquela engenhosa chapinha para apagar cigarros, estão atapetadas por cigarros mais ou menos consumido, dependendo do tempo que a carreira demorou a chegar.
E os condutores vão deitando o cigarrinho pelo vidro porque ficar lá dentro deixa mau cheiro. Fumar não deixa cheiro, mas usar o cinzeiro sim, que nojo, nem pensar!
E alguns que até usam o cinzeiro, despejam-no de encontro ao lancil, fazendo poças de beatas junto aos passeios.

O vento e as águas as levarão. Para a sarjeta. Para entupirem o escoamento das chuvadas. Para provocarem de novo que a Capital se imobilize aos próximos quinze minutos de aguaceiros.

Gente estúpida!