Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

quarta-feira, outubro 29, 2008

"Gostei da Uzi"

Morreu um puto. 8 anos.

Por acaso foi só ele, mas o descuido podia ter furado a balas outras pessoas que estivessem por perto.
Estava a participar num festival. Uma feira. Uma exposição. Uma demonstração. Com entrada livre para menores de 16 anos. Boa!
Festival de quê?... Ora, com criancinhas… Talvez o Noddy sobre o Gelo. É o que está a dar. Ou do Bob, ou das Winx…
Não; tinha um cariz mais informativo, tipo demonstração de produtos com experimentação. As criancinhas podiam mexer nos artigos expostos.
Talvez uma feira científica. Ainda no outro dia fui a um dia aberto na Fundação Gulbenkian em Oeiras e foi muito giro. Os miúdos andavam mais atrás das gomas que lhes ofereciam do que propriamente a querer aprender, mas aprendiam sempre, e os adultos que os acompanhavam também. São boas as feiras de ciência, onde se pode aprender, mexendo e observando.
Mas também não. Era nos states. E o Noddy, até prova em contrário, não mata criancinhas. E a ciência, se matar, não é a furo de bala.
Foi um festival de armamento. Sim, com armas a sério, crianças a sério, tiros a valer. Quem se iria lembrar que, com esta mistura, alguma criança, devidamente supervisionada por um instrutor licenciado, ainda dava um tiro em si mesma?
É surreal. É americano!
Se um árabe sacasse de um canivete num 7-Eleven pejado de americanos, era logo conduzido a Guantánamo a pontapé e punham-lhe eléctrodos nas orelhas (para dar uma visão suave). Mas os proud americans incentivam a violência, deseducam os jovens, promovem acidentes estupidamente fatais… e saem alegremente, cantando e rindo, para o próximo festival. E são as próprias autoridades que organizam estas imbecilidades.
Depois admiram-se de elegerem cowboys mascadores de tabaco, com winchester a tiracolo, para presidir a esse great country.

A notícia audiovisual do Público donde retirei esta informação, conta ainda uma história que é paradigmática. Alerto desde já os mais cépticos de que, apesar de parecer uma paródia digna de qualquer comediante, os diálogos que se seguem são reais. Estúpidos, mas reais.
Pois então, um pai vai passear com o filho. É bonito; aproveitar um fim de semana solarengo para passear com o rebento.
Onde é que vão? Ao jardim? Jogar soccer? Ao Zoo? À pesca?...
Não. “Hoje vamos disparar algumas metralhadoras”, diz, orgulhoso, o petiz, filmado pelo orgulhoso papá.
Claro; como é que não me lembrei disso antes? Pai que é pai, leva os filhos a disparar metralhadoras de vez em quando. É ternurento, cria laços, educa, forma homens com A (de american) grande.
E o home movie continua. É contagiante a felicidade estampada na cara da criança, enquanto compra os acessórios de mortandade de que necessita para o passeio.
No local, qual feira gastronómica, o miúdo quer experimentar de tudo e fá-lo com a satisfação da descoberta, brilham-lhe os olhos com o poder que tem nas mãos.
“O que achaste da Uzi?”, pergunta-lhe o pai. “Gostei da Uzi”, diz o filho.
Talvez à saída o pai lhe tenha comprado uma Uzi. Dá sempre jeito lá em casa, ao lado da Sig550. E pode ser que, agora que tem uma Uzi no louceiro, o pai até ofereça a velha Beretta ao jovem, que tão bem se portou.

A actual campanha eleitoral nos states fez florescer em mim, qual trepadeira insaciável, um ódio de estimação àquela amostra de mulher que é candidata a Vice pelo partido do Elefante.
Falando em armas, e da forma como estas são encaradas num país em que um menor tem mais facilidade em comprar uma espingarda do que em beber uma cerveja, tenho de voltar outra vez os meus chispantes olhos para a mentecapta alasquiana. Por ela, e por todo o lobby do armamento, podem morrer crianças enquanto brincam com armas, podem morrer crianças enquanto os amigos brincam com armas, podem morrer crianças enquanto os pais limpam as armas.
Este assunto é mais uma lata de tinta no grande mural que o Mundo inteiro (e, desta vez, até os próprios states) tem vindo a pintar, e que diz qualquer coisa como “Mandem essa gente embora!”, o que, traduzido em linguagem de actualidade, seria “Vota Obama!”.

E, já que foi o Público que aqui me trouxe, ficam duas do grande Luís Afonso sobre a tacanha Pallin:




quarta-feira, outubro 15, 2008

A Selva do Estacionamento


Não me irritam as regras que visem disciplinar o trânsito. Há quem, pura e simplesmente, se revolta contra os parquímetros, os funcionários da EMEL e afins, as rodas bloqueadas, as fitinhas amarelas à volta dos carros, os reboques… Mas isso não são mais do que formas de fazer cumprir as leis. E, normalmente, não é contra as leis que as pessoas estão, mas contra a sua aplicação.
A mim, o que me irrita a sério é a incongruência que faz com que as leis, em vez de disciplinadoras, passem a ser motivo para que haja mais indisciplina.
Pois no estacionamento é assim. Bloqueiam-se os carros que estejam numa zona autorizada mas sem pagamento válido. Já quem está em cima de passeios, passadeiras, paragens de autocarro, curvas… não é sequer incomodado porque há mais funcionários das empresas de estacionamento do que polícias de trânsito.
Então, a chicoespertice lusitana faz com que, todas as manhãs, nas zonas de trabalho, todos os fins de tarde, nas zonas residenciais, se veja uma corrida ao lugar. Não ao lugar válido, delimitado, legal, mas ao lugar de recurso, que transtorna o trânsito, o pedestrianismo e as eventualidades de emergência… mas que é à borla.
E é ver locais de estacionamento vazios, rodeados de viaturas estacionadas à papo-seco em tudo o que é canto. Isto aplica-se tanto à Lisboa matinal como aos concelhos limítrofes nos finais de tarde.
Que os que aterram nos passeios me perdoem, mas acho que deviam ser rebocados antes dos que puseram moedas e perderam mais tempo nas Finanças do que estavam à espera e deixaram escapar a hora do parquímetro.

E pronto; fica aqui um desabafo de Cidadão.

sexta-feira, outubro 03, 2008

God vs. The Crab

Não se trata de um combate de Wrestling - Dois colossos encenando pancadaria. Não se trata de um comic da Marvel - O humano transformado em herói imbatível, frente ao ultra-vilão em forma de caranguejo antropomórfico. Não se trata de um episódio bíblico - Deus contra a besta.
É uma luta, sim, mas real. Do mais mundano possível, pois que bem mundanas são as modernas provações da saúde.

E é o “Pai” do Corfebol em Portugal que empreende hoje a luta contra esse terrível inimigo, invisível e interno.
Na surdina dos corredores corfebolísticos, o discreto e o indiscreto confundem-se e as novas vão-se sucedendo, entre boas e más, raramente concretas. Sabemos, acima de tudo, que é uma luta árdua, complicada.
De repente, quase sem querer, tropeço numa outra via de informação e leio os diários de batalha. Sensíveis mas incisivos. Bem humorados mas sem quererem esconder que o que os motiva é um problema grave.
O Mário tem uma veia artística que me agrada há muito tempo. Em tempos idos, descobri o coração que ilustra este texto (acho que não era este; era um muito parecido) num sítio qualquer improvável (um Centro Comercial?... não me lembro) e fixou-se-me o agrado na memória. Mas também as fotos e, agora, mesmo que tudo lido na diagonal, o diário público de um combatente privado (mais do que privado – interno).
Tenho uma admiração maior pela obra do que pelo cultivo de relacionamentos. Em muitos anos de diversos tipos de convivência, não é alguém em quem veja motivos para chamar Amigo, com a maiúscula que outros me merecem. Talvez porque eu também não o tenha feito por merecer, mas isso agora também não vem ao caso. Só acho bom que não fique no ar um cheiro da hipócrita conversa que aflora normalmente nos maus momentos e em que os tiros que ontem demos são hoje flores.

E assim, despido de hipocrisias e discursos politicamente correctos, sinto-me à vontade para desejar, com toda a sinceridade, uma curta mas eficaz passagem pelo “castelo das curas”.