Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

sábado, janeiro 31, 2009

Crónica de Actualidade

Chove.
Chove. Pôrra, como chove!

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Grandes Desafios

248/2008
Prometida havia muito tempo, sempre no forno, já prontinha, mas a precisar de um último aquecimentozinho que parecia eterno, a Lei lá saiu, com o número 248 de 2008. Sim, de 2008, porque, para fazer um manguito aos que diziam que o Governo não a punha cá fora antes do final do ano, lá veio ela, garbosa, orgulhosamente datada de… 31 de Dezembro.
A Lei, que é um Decreto-Lei, se formos rigorosos, divide-se em duas partes – a A e a B, assim como muitos dos nossos clubes se dividem em equipas.

248-A/2008
Pois o 248-A até veio em boa altura. Este documento, que “estabelece o regime de acesso e exercício da actividade da actividade de treinador de desporto”, caiu na altura certa para a FPC. É que, depois de se andar às voltas com o enquadramento perfeito para os nossos treinadores, de se fazerem documentos preparatórios, reuniões, debates informais com os gurus do costume, passando-se a pasta de Comissão Técnica para Comissão Técnica, de Direcção para Direcção, eis que finalmente surge fumo branco na tentativa de arrumar a questão de uma vez por todas. Mesmo em cima do 248-A.
Pode não ser o documento sonhado durante anos, mas tem a grande virtude de ter saído da gaveta cá para fora. Mérito aos autores, que avançaram, que deram o peito às balas. E essas, as balas, é óbvio que teriam de surgir. Umas mais pertinentes que outras, como será sempre óbvio.
Resta-lhes, aos peitos dados às balas, não as rechaçarem para longe. Que as encaixem no peito e devolvam ao destino mais adequado, com a precisão de um Cristiano Ronaldo. Acredito que o façam, porque já deram o exemplo a propósito de um outro assunto que aqui também debati. Sei que o modelo competitivo, que esta Comissão Técnica de que falo engendrou, vai sofrer já no próximo ano os ajustes que o bom senso manda, com a colaboração (espero e presumo) daqueles que lidam com o mesmo e têm bons contributos a apresentar.

(Aliás, faço uma pausa no texto para referir que, apesar de agora também me dedicar a outros assuntos e de ter uma frequência lenta de publicação de posts – duas realidades -, ainda vai sendo neste Blogue que mais se escreve sobre Corfebol em Portugal, quer se queira quer não. Voltemos então ao texto…)

Portanto, junta-se a iniciativa da CT-FPC à nova Lei e havemos de encontrar um conjunto de regras que, de uma vez por todas, dê credibilidade à prática do treino de Corfebol. Não será qualquer um a desempenhar as funções que são reservadas ao Treinador. E isso é positivo!

248-B/2008
O grande desafio vem do tão esperado Regime Jurídico das Federações Desportivas (“e condições de atribuição do estatuto de utilidade pública desportiva"). Deixaram a este o título de “B”, talvez por alguma tecnicidade jurídica que me escape, como me escapam sempre essas tecnicidades.
A FPC, como todas as federações desportivas que pretendam manter o Estatuto de UPD, terá de adaptar os seus Estatutos à nova Lei. Para isso tem seis meses. Não são seis meses a partir do 31 de Dezembro, mas a partir de uma não agendada publicação de um despacho governamental, após audição do Conselho Superior do Desporto, em que vai estabelecer uma coisa tão complexa como a lista das modalidades que são colectivas e as que são individuais. Para quem ainda tem dúvidas sobre se o CSD (não o Colégio de Santa Doroteia, mas o Conselho Superior do Desporto) serve para mais do que alimentar e alimentar-se de tudo quanto é discussão sobre as mesquinhices do futebol, aqui está a prova contrária: Sem o CSD como é que o Ministro ia saber que modalidades é que são colectivas e quais são as amadoras?
Depois de mudar os Estatutos, terá de fazer eleições de forma a começar a época desportiva seguinte já com Órgãos Sociais coincidentes com as novas normas. Estando a FPC sem Presidente há algum tempo (mais do que aquele em que esteve sem Secretário e que originou uma queixa ao IDP… há coisas do caraças!), e estando eleições já marcadas para um dia destes, isto implica que vamos ter de fazer dois momentos eleitorais muito próximos, o que é sempre chato.

O desafio é grande. Independentemente de quando é que vão começar a contar os seis meses, meio ano passa num instantinho. Então quando implica discutir os temas sensíveis em que terá de se tocar… das duas, uma; ou o pessoal come e cala e mantém-se na inércia que leva a que se ande por aí a preconizar um futuro absurdo para a FPC – e aí o processo corre torto mas célere -, ou então há participação e discussão à séria e as coisas devem sair bonitinhas mas demoradas. Como gosto mais da segunda hipótese, é bom que as mãos estejam já metidas à obra.
E em que é que consiste o desafio, assim tão grande, ó Avô, para lhe dedicares um texto desta dimensão?... Pois responder-me-ei.

Temos logo à partida a questão da representatividade nas Assembleias Gerais. E vou saltar a parte em que se preconiza uma distinção descabida (porque é de Corfebol que estamos a falar e, que eu saiba, o DL nº 248-B/2008 também foi escrito para o Corfebol, embora não necessariamente a pensar no Corfebol) entre intervenientes nos quadros competitivos nacionais e regionais.
Mas temos a representação das associações de classe, com percentagem atribuída e tudo. Os Estatutos da FPC já contemplam a existência dessas associações. Um projecto de criação das associações nacionais de atletas, treinadores e árbitros de Corfebol chegou mesmo a ser iniciado pela Federação. Mas, como não era a Federação que tinha de demonstrar entusiasmo com isso e quem o deveria demonstrar nunca o fez… abortou-se a ideia. Agora, com votos na AG em jogo, talvez se ressuscite. Até porque o 248 assim o exige.
Nas AG já não se vão sentar os clubes. Serão delegados, eleitos pelos clubes e demais agentes que a isso tenham direito. Os delegados só podem ter um voto, que não pode ser feito por correspondência nem por procuração, e são no mínimo 30. Digo só o mínimo, porque o máximo nem interessa para o caso. Já alguém viu trinta mânfios numa AG da FPC?! Trinta!
Enfim, isso logo se verá. Para já, vai ser preciso definir como é que eles são eleitos (ou nomeados).
Depois, entre várias outras questões cuja resolução é de dificuldade variável, temos que os titulares dos órgãos federativos não podem acumular (desvende-se o que quer dizer “no seu âmbito” e talvez isto não seja tão restritivo como isso) com a posição de dirigente de clube, nem de árbitro, nem de treinador. Ora vejam lá se isto não vem dar uma machadada na habitual acumulação de funções da nossa pequena modalidade!

Uma coisa que pode assustar algumas federações menos preparadas como é (e sempre foi) a de Corfebol, é a tendência deste DL para plasmar em forma de lei as ameaças que tanto agradam ao IDP - a anulação do Estatuto de UPD é um fantasma que paira do princípio ao fim do diploma. Reavalia-se de quatro em quatro anos e assenta em critérios que estão (como sempre estiveram) longe de ser cumpridos pela FPC. Seria uma cobardia do Estado virar costas a quem tem de crescer e dar a mão apenas a quem dá frutos mediáticos. Mas o Estado, meus amigos, e o actual IDP em particular, não gozam de grande reputação democrática no que diz respeito à compreensão das limitações alheias. Vive-se num ambiente de análise fria de números e esses números servem para definir o tamanho da fatia de torta a que cada um tem direito pelos números que apresenta e não ao tamanho da fatia de torta que cada necessita para passar a apresentar outros números. E há muito técnico “desportivo” que nunca visitou uma prova desportiva desde que lhe deram uma cadeira na Infante Santo, cadeira essa onde engole números e vomita subsídios. E há muita vontade em cortar com apoios para quem não leva o nome desses “técnicos” aos jornais.

Não vou discorrer sobre o 248. Quem o quiser ler pode consultá-lo facilmente e quem terá de se debruçar sobre estes temas de certeza que já o leu de uma ponta à outra e já começou a engendrar a necessária revisão estatutária da FPC. Deixo só as notas soltas acima enumeradas, esperando que possa ser uma ajuda ao debate. Se o debate for construtivo, dou já os parabéns ao Corfebol português. Se prevalecerem outras motivações que por vezes inundam os comentários deste Blogue, então vão dar uma curva e encontramo-nos algures numa esquina apertada do Futuro.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Guerra de Primos V – Remate

5 Dias 5 Posts. É o meu contributo. Não fui à manifestação de ontem. Não tenho o poder mediático de outros cronistas. Mas dei um contributo quíntuplo. Pequenino vezes cinco, sopra-me a matemática, é mais que pequenino vezes um.
Como sempre, tentar não tomar partido seria hipócrita. Custa-me não ver o conflito do lado dos mais fracos, dos que mais sofrem, daqueles cujo território tem sido sucessivamente obliterado desde 1948.
Remato esta semana dedicada a um tema que durará mais do que esta semana. Uma guerra que começou muitas décadas antes e que terminará sabe-se lá quando. Seja ela contada em dias, seja em vidas, já vai longa demais, como longa vai a hipocrisia mundial.


quinta-feira, janeiro 08, 2009

Guerra de Primos IV – O Ridículo

Israel vai construir o Museu da Tolerância em Jerusalém. Cheguei a escrever “pretende”, mas substituí por “vai” porque os tribunais já o autorizaram, apesar da polémica. O Museu terá assinatura de Frank Gehry e visa "promover a tolerância entre os povos".
O probleminha que se coloca, talvez uma insignificância que nem merecia estar aqui plasmada, é que o mesmo será edificado em cima de um cemitério islâmico com interesse histórico inigualável. Os líderes religiosos islamitas ainda tentaram impedir judicialmente a construção, mas o Tribunal já sentenciou que a Tolerância vai mesmo atropelar o local sagrado.
Duvido que houvesse muçulmanos nessa tomada de decisão. Tenho a certeza de que, se se tratasse de um local de interesse histórico ou religioso para os judeus em qualquer parte do Mundo, se movimentariam influências para que o atentado à “tolerância entre os povos” não ocorresse.


É tão irónico que nem os Monty Python se lembrariam de uma anedota tão ridícula.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Guerra de Primos III – O Branqueamento

“A Vida é Bela” foi o único filme que me recordo de me ter feito rir e chorar na mesma sessão. Rir com a genialidade do Benigni actor e realizador. Chorar com a genialidade do Benigni actor e realizador. Mas chorar com um inexplicável sentimento paternal e chorar com o clamor da realidade, com a crueza de olhar para acontecimentos que foram pano de fundo num contexto concreto, palpável, vivido por milhões de pessoas.
O Holocausto existiu. Existiu e deve ser lembrado, todos os dias. Ridículos são aqueles que o negam. Xiitas e outros fascistas.
A minha simpatia triste e resoluta vai para todos aqueles que sofreram com a perseguição nazi aos judeus. Curvo-me perante os resistentes, junto o meu choro ao das famílias dos mortos.
Mas não posso aceitar que o sofrimento passado possa justificar actos que promovem o sofrimento de outros.

Hoje o divórcio é uma coisa banal, que acontece na porta ao lado sem que se dê por isso. Na minha juventude era menos comum e criou-se uma raça a que se chamava “os filhos de pais separados”. E isto dizia-se veladamente, com um olhar de compreensão e comedimento.
Aos “filhos de pais separados” permitia-se tudo, coitados!, porque tinham de carregar com esse trauma. Deixava-se que fossem insolentes, mal-educados, mal comportados, egoístas, porque eram “filhos de pais separados”. E assim, porque sofriam, tinham direito a ter atitudes que estavam vedadas aos sortudos que não eram “filhos de pais separados”.
Tenho a certeza de que sofriam. Tenho a certeza de que hoje sofrem aqueles a quem a vida não permitiu manter estabilidade emocional doméstica. Não me verão negar essa evidência. Mas isso não justifica que não se lhes possa levantar um dedo sem que alguém diga logo “Vê lá, não fales assim, coitado, ele é filho de pais separados”.

Pois também não é politicamente correcto apontar o dedo a Israel, porque isso é não respeitar a memória dos judeus perseguidos pelo nazismo.
Balelas!
Não respeitar essa memória é negar a si mesmos os ensinamentos que deveriam ter sido prestados com o Holocausto e os vários holocaustos a que o Mundo tem assistido ao longo dos anos. Quem recolhe simpatia pelo que passou e se vinga em terceiros com a mesma moeda que lhe foi arremessada, deixa de merecer essa simpatia.

Mas a simpatia continuará sempre. Porque o povo judaico foi moldado de uma forma que o faz ter sucesso financeiro. Dessa característica vieram-lhe os maiores males (pela ambição e inveja de vizinhos) e os maiores bens (pela influência que conquistaram na sua diáspora).
Nos todo-poderosos EUA não há passo importante que se dê sem o aval dos líderes judaicos. No Mundo não há passo importante que se dê sem o aval dos americanos.
Portanto não espanta que Israel tenha, ao longo da sua curta história, atropelado várias resoluções da ONU, sempre com a conivência dos States. Não espanta que, por muitas manifestações populares a que o Mundo assista, nenhuma atitude firme seja tomada contra os atentados a que a população dos territórios ocupados tem sido sujeita ao longo dos anos.
Não quero deixar de condenar os atentados a que são sujeitos, mas é inegável que há um branqueamento dos crimes humanitários israelitas.
Bombardear mesquitas à hora da oração é crime. Mesmo que se diga que é nas mesquitas que se escondem os terroristas e as suas armas, será que é só à hora da oração que eles lá estão? E será que essas armas estão mesmo lá, ou são só os sapatos que eles deixam à porta (uma arma aclamada pelos muçulmanos)?
Impedir a saída de refugiados e a ajuda humanitária é crime. Ou será que têm medo que os terroristas se escondam no meio dos refugiados? Ou que os caixotes de auxílio humanitário tenham bombas? Não há desculpa.

terça-feira, janeiro 06, 2009

Guerra de Primos II - Pedras contra Artilharia

A história do David e do Golias é só na Bíblia e na Trofa. Na Palestina o David não derrota a golpe de funda os tanques e as bombas de um dos mais bem equipados exércitos do mundo. Se calhar é porque o nome David está trocado nesta história.

O desenho começou logo a fazer-se no feminino. A branca e rica Sara derrotou a escrava egípcia naquela que terá sido a primeira batalha israelo-palestiniana.
Hoje é a Intifada das pedras contra o poderio militar titânico dos israelitas. Os rockets que ladram mas mordem pouco contra bombardeamentos sucessivos que matam centenas em poucos dias.
Sem querer legitimar o terrorista Hamas, tão criminoso como qualquer outro movimento terrorista, apelo ao sentido de proporcionalidade. Haja bom senso quando avaliamos a dimensão das retaliações. Por cada soldado israelita feito prisioneiro, um batalhão de guerrilheiros (irónico ouvir-se chamar-lhes isto no seu próprio país…) palestinianos será aniquilado. Por cada civil morto por um rocket, duas mesquitas apinhadas serão bombardeadas.

Cada pedra arremessada tem mais carga emocional que uma rajada de metralha. Assim o foi em Belfast, assim o foi no Soweto, assim o é na Faixa de Gaza.

Entretanto, com a estupidez inflamada de uns e a estupidez arrogante dos outros, morrem os filhos de uns e outros.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Guerra de Primos I - A Culpa é da Sara

Abrão, mais tarde nomeado Abraão (chamemos-lhe Abraão, que é menos sujeito a trocadilhos), estava casado com Sarai, também conhecida como Sara (chamemos-lhe Sara, que é bem mais giro). Sara era infértil e Abraão queria descendência.
Naquela altura não havia clínicas de fertilidade e os costumes eram estranhos por demais. Mesmo conjugando estas duas realidades, custa-nos a nós, modernos habitantes desta Terra que Deus pôs em seis dias, compreender a história que se segue.

Para que Abraão tivesse filhos, Sara proporcionou-lhe os favores sexuais de uma escrava egípcia chamada Asgar, ou Agar, ou Hagar (chamemos-lhe Hagar, que parece o menos mau). Dessa união extraconjugal (apesar de arranjada intraconjugalmente) nasceu Ismael.
Entretanto, Sara precisou de passar dos 90 (!) anos para verificar que afinal não era infértil, ou então que a fertilidade goza com a libido e regressa na 3ª idade para tresloucar as damas. Não encontro registo da idade do Abraão, mas o que é certo é que lá teve, finalmente, uma criança com a legítima esposa. Deram-lhe o nome de Isaque, ou Isaac (chamemos-lhe Isaac, que é mais cool).
Tricas de telenovela se seguiram, com ciumeiras dignas do horário nobre da TVI, por causa do amor que o patriarca dedicaria a cada um dos filhos e cada uma das mulheres. Acabou por ganhar a velhinha Sara, que fez com que o marido expulsasse a escrava e o ilegítimo.
Ismael procriou como um coelho e espalhou pelas Santas Terras a semente dos Ismaelitas.
Isaac teve dois filhos. Um deles, Jacó, ou Jacob, mais tarde chamado Israel (chamemos-lhe Israel, que se encaixa melhor nesta história), com umas novelescas fricções fraternas pelo meio, acabou por disseminar a tribo dos Israelitas.

Entretanto, Deus, sempre omnipresente nestas atribulações, tinha prometido uma terra fértil (talvez numa sátira à desventura de Sara) a Abraão e à sua descendência. Era ali a caminho de Mais ou Menos, perto de Onde Todos Sabemos e Ninguém tem a Certeza.
Como em qualquer caso de partilhas, abriu-se a contenda com a morte do velho. Os irmãos e respectiva descendência lutaram ferozmente, e ferozmente lutam ainda, pelo direito à Terra Prometida. Entre o filho mais velho e o filho legítimo a pancada é atroz. Os tribunais, terrenos ou divinos, tardam a achar a razão. Os primos, descendência de um mesmo avô, guerrear-se-ão até que o seu Deus comum (porque, sim, é pelo mesmo Deus que lutam) resolva desatar o nó que tanto enredilhou.