Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Cachecóis a Cheirar a Queijo

Antes do Guimarães / Sporting (em futebol, porque nem só de Corfebol vive o Homem), os jornais deram um destaque descabido ao facto de o Liedson poder falhar o jogo com o Benfica. Descabido porque isso só aconteceria se o jogador levasse um amarelo nesse jogo, o que não era estatísticamente muito provável, tanto mais havendo o aviso das consequências.
Claro que isso alimentou logo a verve dos polemistas. Diziam os benfiquistas que isso era para pressionar o árbitro a não mostrar amarelos ao abono-de-família dos lagartos; diziam os sportinguistas que já estava tudo feito (e os jornais até o sabiam!) para que o homem estivesse mesmo ausente do jogo com os lampiões.
E lá se foram vendendo jornais à conta de um facto que ainda nem era facto. Parecia o Fórum da FPC.
O que é certo é que o caramelo do brasuca, com uma ingenuidade e tonteria reconhecidas pelo próprio, lá levou o predestinado amarelo. E assim teria ficado sem poder jogar o derby. E lá se foram vendendo mais jornais, agora com um motivo maior, que só não deu muita polémica porque o árbitro nem que quisesse podia fugir à amostragem da fatídica cartolina.
Mas, para que se vendessem ainda mais jornais, o Éssecêpê ainda tinha um trunfo escondido no cachecol.
O Liedson sempre vai jogar contra o Benfica. A troco de cachecóis.
Se o Orçamento de Estado já foi aprovado a troco de promessas ao Queijo Limiano, porque não agora este episódio dos cachecóis? Não é que deixe de me cheirar a corrupção, porque, legítima ou ilegitimamente, há um corromper do processo normal das coisas, tanto num caso como no outro, mas enfim.
Nada a que não estejamos habituados. Nada que Barroso, Portas ou Santana, no caso dos queijos, ou o Vieira, no caso dos cachecóis, não fizessem também, para tal lhes acudisse a oportunidade e a imaginação.
É como o “aprova aí o loteamento, que a gente arranja uma casinha para a tua filhota que vai casar”, o “faz lá com que o meu processo passe à frente dos outros, que eu peço ao Pai Natal para passar lá por casa”, o “marca lá uns penaltizitos a nosso favor, que aquele carro com que tens sonhado pode ser que estacione à tua porta”, o “passa lá o meu namorado a Matemática, que eu faço-te um daqueles que tu gostas”, o “convence lá o W a mandar embora o Saddam, que eu garanto-te que a tua empresa vai consolidar a sua posição nos negócios petrolíferos da região”.
Estão a ver o filme?... Imaginem o Bush Jr. a dizer “OK, eu vou para o Iraque em vez de ir para a Coreia do Norte, mas só se vocês me pagarem as T-Shirts que já tinha mandado fazer com alusões à restauração da democracia em Pyongyang... Até tinha um desenho muita giro dum bravo soldado americano a apagar do mapa o paralelo 38. Agora eu sei lá que paralelos é que há no Iraque? Vou ter de estudar onde é que isso fica e só Deus-Grande-Misericordioso-e-Amante-do-Heróico-Povo-Americano sabe o que me custou descobrir informação sobre a Coreia. Mas tudo bem, desde que me paguem as T-Shirts. Ainda por cima, já me disseram que aquilo é bem mais parecido com o Texas”.
O que me deixa orgulhoso de pertencer à Nação Corf é que esta situação do Liedson seria impossível na nossa modalidade. Alguém se lembrou do Ovo de Colombo. De acordo com os regulamentos da Federação Portuguesa de Corfebol, um jogador castigado, cumprirá esse castigo nos jogos que, aquando da estatuição da sanção, estiverem agendados imediatamente a seguir. Se algum desses jogos for alterado, ou se algum jogo for marcado de permeio, o castigo fixa-se nos jogos e não nas datas. Portanto, em rigor, se o jogo em que supostamente ele irá cumprir castigo passar para o final da época, o atleta só cumprirá no final da época. É mais ou menos isto; se quiserem mais informações, vão ler a Regulamento à Página da FPC (www.jánãoestálá.pt).
Porque é que no futebol, com tanta gente e tanto dinheiro, com tanta tinta que corre sobre tudo e sobre nada, ninguém foi capaz de ver a columbicidade do ovo? Não é o primeiro caso em que constato que os regulamentos do pontapénabola são ambíguos ou falhos de ajustes simples.
Será que é preciso mandar os pensadores do Corfebol fazer uma assessoriazita à Praça da Alegria (...espera aí; agora mudaram... é na Alexandre Herculano)? É melhor não; ao menos assim ficamos sempre melhores que eles – pequeninos mas competentes!

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Foi Natal

Foi Natal.
As rádios passaram até à exaustão as músicas da quadra. Os Wham voltaram, mais uma vez, ao ritual anual de nos lembrar o bimbo-pimbismo do George Michael, no seu Last Christmas, antes de assumir o aspecto quase-normal que agora tem.
As luzes reinaram nas ruas, substituindo as bandeiras do Scolari, que foram desaparecendo gradualmente, sem que se desse por isso. As Câmaras Municipais esqueceram-se das factura da EDP, que isto do Natal é só quatro vezes por mandato, e plantaram as recicladas luzinhas em tudo quanto é rua com lojas. Os comerciantes lá financiaram mais um bando da estrelinhas, arvorezinhas, Pais Natal, prendinhas e outras coisas mais ou menos identificáveis, com uma disposição mais ou menos original.
Em termos de árvores, todo o esforço foi este ano ofuscado pela que a SIC plantou com a CML e o Millenium, ali mesmo ao pé de uma fonte que deixou de ser luminosa, tal a sombra que o mega-pinheiro lhe está a fazer; mesmo ao pé de um Mosteiro que deixou de ser ex-libris, tal o desvio de atenções para a majestática edificação; mesmo ao pé de um tal de CCB a quem já ninguém chama mono arquitectónico, tal a vizinhança que lhe foi imposta pelo triunvirato Balsemão-Carmona-Jardim.
Novos e velhos penduraram alvas barbas, vestiram casacos vermelhos e não dispensaram o cocacoliano barrete, com ou sem luzinhas. Até uma águia enfiou o barrete, como se não bastasse o que lhe enfiaram quando a obrigaram a ser ícone de um clube que nunca pediu para representar. E a águia foi apenas mais um dos milhares que compuseram mais uma façanha Guiness – o maior número de embarretados juntos. O Santo Nicolau, o verdadeiro, aquele de quem o jornal do povo deu destak como sendo mulato e de rala barba negra, deve estar admirado com tanta deformação da sua real figura. Ou então já nada o surpreende, e quer é mais uma Coca-Cola, das que ganhou quando assinou o contrato de cedência de exclusividade e exploração do nome.
Nova febre SMS assolou o País de um Camões que bem gostaria de poder ter mandado os Lusíadas pelo telemóvel, em vez de ter de nadar com o braço no ar (as cãimbras que aquilo deve ter causado!) para não molhar o precioso manuscrito. Operadores esfregam as mãos de contentes, cheios de prendas no sapatão, e aguardam o reveillon para aumentar as contas bancárias à conta da boa vontade do portuga.
Cá no burgo, está tudo calmo. A malta retempera forças para os desafios que aí vêm. Enche-se o peito de ar, em duas semanas de folga, para de novo gritar contra os árbitros. Olha-se para a agenda à procura dos jogos que, apesar de ainda por realizar, já se sabe que estão arranjados para os lados do costume. Espera-se que a FPC – esses incompetentes filhos de uma cascavel – volte ao trabalho para se voltar a dizer que esse trabalho não existe. Ou, se por acidente ele existir mesmo, para dizer que é mau. Mas, se por acaso até for bom, para dizer que vem a destempo. Caso, por dádiva natalícia, até for num timing irrepreensível, para dizer que é só por causa da pré-campanha. E, se por obra e graça do divino espírito santo, se perceber que a pré-campanha são contas do rosário de outros filhos de cascavel, para disparatar sem nexo. Afinal de contas, para quê tantos “ses” e confusões? O que a malta curte é botar lama na engrenagem, quer-se lá saber porquê ou por quem.
Que o Natal vos tenha trazido tudo de bom – boa disposição, bom descanso, boas ideias e muito, mas mesmo muito, bom senso!

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Novas Regras

Enquanto em Portugal se discute o género dos querubins (ou das querubinas?), lá fora há coisas bem mais interessantes em debate público.
É preciso pesquisar um bocadinho na net para descobrir alguma informação e alguns fóruns interessantes de discussão sobre as novas regras que se pretendem aplicar ao Corfebol.
Não estou muito certo dos pormenores, mas tenho pescado alguns aspectos e, salvaguardando hipótese de erro bastante provável, cá ficam as observações que, para já, me parecem mais pertinentes.

Linha de Dois Pontos a 8 Metros
Para quê? Pessoalmente, acho que um cesto na passada é mais espectacular que uma bomba de fora. O que é que se ganha em valorizar o pessoal que gosta de acampar no meio campo e mandar umas batatas?
A piada do 1x1 em Corfebol é que existe sempre a dupla ameaça de concretização. Se o defesa dá espaço, arrisca-se a sofrer de fora; se pressiona demais, arrisca-se a ser passado na passada (fica um bocado cacofónica esta expressão). O lançamento na passada é mais difícil de conseguir, mas mais fácil de concretizar. Não é perfeito? Alguém sente necessidade de proceder a um equilíbrio de forças?
Pessoalmente, acho a proporção de lançamentos bastante equilibrada. A vantagem de uma regra destas seria inverter alguma tendência para um jogo muito monocórdico, sempre com o mesmo tipo de trabalho ofensivo ou defensivo, mas, apesar de não ter dados estatísticos, não vejo essa tendência.
Em contrapartida, pode-se ver a coisa de uma outra forma: Para evitar os dois pontos, a defesa terá de ser mais pressionante, e isso até poderá dar mais lançamentos na passada e maior espectáculo no 1x1, mas será esse o efeito prático?
Para além do mais, esta medida vai dar vantagem aos homens sobre as mulheres, visto haverem mais homens que mulheres a lançar dos 8 metros (não no topo, onde 8 metros são peanuts para qualquer rapariga, mas a nível intermédio).
Há ainda quem argumente que, ao haver diferentes pontuações, haverá mais confusão, sobretudo para os outsiders do Corfebol, quanto à mudança de campo (de dois em dois cestos ou de dois em dois pontos?), mas acho que isto é uma questão que se dilui com o tempo.

Cestos Novos
Da batalha entre a tradição e a inovação saiu uma coisa amarela que casa a tecnologia com a imagem de marca da modalidade. Acho que terei de aceitar, com base nesta súmula, a adopção dos cestos novos.
Não são as arrastadeiras multicolores que alguns lobbies nos queriam impor. Com essa solução, desaparecia muito do Corfebol. O Corfebol é, acima de tudo, o cesto (o Korf). Pior que mudar a estética do cesto, só mesmo passar isto para masculino para um lado e feminino para o outro.
Também não é verga, ou palha, ou bambú, com um aspecto caracteristicamente artesanal, mas, pelo menos, mantém a imagem. As bolas de futebol também já não são o que eram, mas continuam redondas.
E é durável, supostamente mais barato, enfim... deve ser melhor. Desde que nos habituemos ao amarelão LEGO do bicho.

Lançamentos (não) Defendidos
Esta gente anda toda doida?
Se querem jogar basquete, vadem, idem, basexem.
Que se flexibilize o lançamento de fora em movimento, aceita-se e tem lógica. Mas acabar de vez com o defendido é acabar de vez com o Corfebol.
Vou torcer para que tenha ouvido mal ou tenha tido um pesadelo, quando me constou que até debaixo do cesto se poderá lançar defendido.
E o Corfebol, onde é que se encaixa no meio disto tudo?

Tempo de Ataque e de Posse de Bola
Já tardava. Com as regras actuais, deixa-se muita coisa para a volátil instituição que é o “critério do árbitro”. O antijogo, propositado ou por inabilidade dos praticantes, é fácil no Corfebol. OK, o árbitro pode sancioná-lo, mas quando?...
Limitar o tempo com a bola na mão faz com que se tenha de executar mais depressa, faz com que valha a pena haver uma defesa colectiva pressionante, faz com que não se perca tempo.
Limitar o tempo de ataque (até cada lançamento, como no basquete) idem, até com mais eficácia, por ser um indicador mais global.
O problema aqui é a adaptabilidade da regra a algumas realidades. O nosso campeonato nacional sénior da 1ª divisão tem jogos em que não há sequer marcador electrónico. E quem é que controla o tempo? Se nem árbitros temos, quanto mais cronometristas independentes?

Faltas em Locais Fixos
Facilita ter uma oval, para que não se ande a marcar o espaço a olho ou a passos, mas não gosto de especializações. Treinar-se-ão os livres sempre do mesmo sítio, haverá jogadores peritos na marcação de livres (já os há, mas agora sempre têm de improvisar um bocadinho), fica tudo muito monótono.
Quanto às chamadas faltas menos graves, a marcar na linha lateral, tudo bem.

Acima de tudo, o que importa é garantir a espectacularidade da modalidade, sem que isso implique que se perca a identidade.
Toda a gente quer um Corfebol que seja mais mediatizável, mais jogável, mais promovível, mas ninguém quererá que se torne irreconhecível.
Penteiem-no, maquilhem-no, embonequem-no, mas não façam o Nico dar voltas na campa.

O Barco

O barco andava à deriva já há uns tempos. O Timoneiro tinha desaparecido para parte incerta. O Almirantado bem que o procurava, mas não havia modo de saber que triste sina o tinha atingido.
Observando a deriva, abandonaram os ratos, que reza a lei que têm de ser os primeiros, as mulheres e as crianças, que consta serem os seguintes, e, por último, o Avô, que tinha ido passar umas férias supostamente calmas com a Avó, num cruzeiro que acabara em tempestade.
Ficou o navio deserto, povoado apenas por ocasionais visitas de macacos e algumas alimárias selvagens, o que indiciava que a terra estaria por perto.
Satisfeitos por não terem qualquer controlo ou autoridade por perto, estes visitantes ocasionais faziam o que quisessem no barco. Desde que descobriram que o rádio de bordo ainda estava ligado, passavam lá o seu tempo, debitando o que mais disparatado lhes viesse à cabeça.
O Almirantado limitava-se a escutar estas mensagens, sem ligar grande coisa, olhando o horizonte à espera de novas do barco ou do Timoneiro.
Havia também um sujeito pequenino num pequenino veleiro, que ia visitando o barco de quando em vez. Sempre que lá ia, o marinheiro não resistia a deixar uma assinatura marcada a canivete, reclamando-se mais vivo e orientado que o próprio barco. Depois desaparecia, voltando à insignificância da sua solitária bolina.
O Avô encontrou uma ilhota tropical, calminha, onde podia exercer a sua fictícia existência com a pacatez de quem é timoneiro do seu próprio rumo.