Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Sugerências

O melhor que o Corfebol tem são as pessoas. E o próprio Corfebol.

São as pessoas porque somos poucos mas com uma média de qualidade muito elevada se compararmos com outras modalidades. A sério. Pensem bem na qualificação humana e académica que o corfebolista médio tem e comparem com a modalidade que quiserem. Vão ver que tenho razão (apesar de ser sempre este optimista militante).
São as pessoas porque somos poucos mas com vontade. Porque somos poucos; porque precisamos; porque sentimos o apelo de colaborar. Cada vez menos, é certo, mas isso é um mal comum às sociedades modernas, em que os indivíduos se vão fechando sobre si mesmos, substituindo o envolvimento social pelas extensões cibernéticas de acesso a uma sociedade virtual.

E é o próprio Corfebol, porque tem o poder de cativar, de se fazer gostar, de se fazer admirar. O Corfebol, digo-o empírica mas convictamente, tem taxas de abandono reduzidas se comparado com outras modalidades e se visto à luz das poucas condições que oferece aos seus praticantes. Quem conhece tende a gostar, a ficar, a envolver-se, a criar o bichinho.

Então vou pegar nestas duas realidades (realidades de optimismo avôziano) e fazer uma ingerência no trabalho das instituições de Corfebol em Portugal - FPC e Clubes. Ou talvez não seja uma ingerência, mas apenas um conjunto de sugestões. Ingerência ou Sugestões... Sugerências!

Quero ver o nome do Corfebol espalhado por aí; Levar as pessoas a olharem para nós e perguntarem o que é, onde se pode experimentar; E experimentarem, e gostarem, e envolverem-se, e ficar com o tal do bicho, que nos mordisca as entranhas mas é tão saboroso!
Não fiquem à espera dos Clubes ou da Federação, cujos carolas têm de se preocupar com a gestão corrente, o dinheiro, os relatórios e projectos, o dinheiro, as marcações de pavilhão, o dinheiro, e tantas coisas sérias e urgentes, como o dinheiro. Levem-lhes vocês, que sempre disseram que não se queriam comprometer muito, mas que poderiam fazer alguma coisa pontual, as ideias que aqui deixo.
Melhor: levem-lhes outras ideias que tenham, ou aperfeiçoem estas, que um Avô esclerosado só cá está para vos agitar, nunca para vos guiar.
Digam "presente" e peçam os recursos materiais necessários. Digam que os recursos humanos estão garantidos, que o melhor que o Corfebol tem são as pessoas.

Então e fazer o quê?
Autocolantes. Algum atleta de Corfebol, devidamente envolvido, se irá recusar de afixar um autocolante ao seu carro, a dizer qualquer coisa como "Eu jogo Corfebol... e Adoro!", ou os batidérrimos "Joga Corfebol" ou "(M)isto é que está a dar"? E quem diz carro diz caderno escolar, diz mala de viagem, diz mochila, diz porta-moedas, não diz testa porque isso já era demais!
Meia-Maratona. Já ouvi falar disto algumas vezes e nunca se avançou. Não haveria um grupo de malta disposta a participar numa das Meias-Maratonas de Lisboa com objectivos promocionais? T-Shirts visíveis e alusivas, um poste, 2 ou 3 cestos, 3 ou 4 bolas. Sim; carregar um poste pela ponte adentro (não vale a pena levar a base!), um cesto no poste e outros só para fazer ficha, umas bolas para ir fazendo uns passes e umas simulações de lançamento, dezena e meia de bacanos a correr enquanto fazem estas macacadas. Milhares de participantes e ver, televisões por perto...
Flyers. À saída dos transportes públicos, nos semáforos, no futebol. Mais fácil ainda, nas caixas do correio. Umas fotocopiazitas em A6, contacto do clube mais próximo, convidar a aparecer num treino, a ver que é giro. Um fim de tarde, a dividir por 5 ou 6 pessoas por clube. É difícil? Já pensaram no retorno que pode ter?
Spam ligeiro. Tanta gente que participa em fóruns, seja na TV, seja na Net. Mandem umas coisas sobre o Corfebol. Mandem uns SMS para aqueles programas de TV em que aparecem as mensagens dos espectadores em rodapé qualquer coisa como "quero mandar um abraço para todos os jogadores de Corfebol". Invadam sites com mensagens sobre a gente. Com ligeireza. Sem ser ostensivo. Pegando naquilo que possa estar em discussão e canalizar para o Corfebol. Divulguem os nossos sites, os nossos calendários. Convidem o pessoal a ir ver, a ir experimentar. Aqui há uns anitos, numa Faculdade de Lisboa, todos os computadores da Sala de Informática apareceram a certa altura com um screen saver que dizia "Joga Corfebol". Não digo quem é que fez tal coisa. :)

Assim, e de muitas mais formas, a nossa riqueza humana será posta ao serviço da nossa riqueza desportiva. Fazendo com que as pessoas contactem o Corfebol, teremos quem fique entre nós. Tenho confiança na modalidade. A sério que tenho!
Mas temos de garantir qualidade naquilo com que as pessoas vão contactar. Não podemos divulgar a página da FPC se ela não existir; não podemos marcar treinos de captação e não aparecer um técnico minimamente preparado para isso; não podemos anunciar um grande jogo e sair um espectáculo mal organizado.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

De Maslow a Pavlov

Abraham Maslow era um mentiroso. Nasceu a 1 de Abril (é mesmo verdade; podem ir ver a biografia do homem) e isso determinou a sua forma de estar na sociedade.
Então, para gozar com a malta, inventou aquela pirâmide das necessidades, hierarquizando o que supostamente nós precisamos mais. Não avisou foi que as experiências eram feitas com macacos e que havia um estudo secreto, a ser realizado com humanos, numa cave escura e escondida algures perto de Roterdão.
A história foi assim:
Tinha raptado umas cobaias à força. Deambulava à procura de quem pudesse servir para o seu estudo e, quando passou por um verde campo holandês, viu um grupo que se encaixava bem no perfil pretendido. Eram homens e mulheres, de todas as idades, e mostravam ser saudáveis porque praticavam um desporto qualquer. Meteu-os dentro de um saco, devidamente narcotizados, e levou-os para a tal cave.
Quando queria confirmar a estrutura da sua pirâmide com estes humanos, chegou à conclusão que estava tudo trocado.
As cobaias tinham uma necessidade primária de ter uma bola nas mãos e um cesto para onde a atirar. A bola vinha primeiro, apesar de ambas estarem na base da pirâmide. A bola estava para o cesto assim como a bebida está para a comida.
Frenético a tirar notas, Maslow continuou os seus estudos cada vez mais surpreendentes.
Reparou que, após o satisfazer de atirar continuamente a bola para o cesto, os humanos necessitavam de o fazer atendendo a determinados padrões técnicos. Havia uma certa formalidade que era satisfeita num patamar superior. Tudo numa relação grupal interessante.
Menos pasmado ficou quando constatou que a necessidade seguinte tinha tudo a ver com a dos macacos. As cobaias humanas procuravam juntar-se em grupos, mostrando necessidade de um sentimento de pertença só possível quando as necessidades anteriores estivessem satisfeitas.
Em grupo, os indivíduos procuravam estimar-se e ser estimados. Faziam tudo para serem tidos pelo grupo e por si mesmos como alguém digno de algum reconhecimento. Foi neste patamar da hierarquia que Maslow encontrou sinais de competitividade.
Trepando ao topo da pirâmide, vinha a auto-actualização. Os humanos tinham necessidade de ser melhores e procuravam (in)formar-se, desenvolver capacidades e conhecimentos. Treinavam, aperfeiçoavam-se, sempre com a bola nas mãos e os olhos no cesto.
Quando pensava que havia um vértice no topo da pirâmide, fechada pela plenitude de necessidades satisfeitas, encontrou um ancião que tinha ido passear à Holanda ver uns joguitos de Corfebol. Resolveu estudar o idoso, adiando o regresso aos States, e colocou mais um patamar na hierarquia.
O velho, que tinha a bola nas mãos e o cesto nos olhos quando queria, que tinha conquistado a sua pertença em diversos grupos, que se estimava e se sentia estimado, que tinha desenvolvido as suas capacidades em diversas áreas da sua vida, estava na fase de satisfazer uma necessidade de auto-transcendência, de espiritualidade, e pensava, e escrevia, e escrevia o que pensava, sentindo na planta dos pés o bico na pirâmide a causar um agradável incómodo, dolorosa satisfação do preenchimento.
Combinaram os dois que estas experiências deveriam ser mantidas secretas, só para gozar com o povo durante uns anos. Já cá se disse que o tipo tinha índole de aldrabão. O pessoal ia continuar a pensar que a teoria se aplica hic et nunc (aqui e agora), e não vão perceber que os patamares de necessidades satisfeitas são para alcançar num percurso de vida.
Entretanto, falecido que está Maslow há 30 e tal anos, o Avô (que era ele o velho de quem se falava) achou que já podia revelar toda a verdade sobre a sua pirâmide das necessidades. O mundo académico vai levar um abanão com esta revelação bombástica, mas a bem da verdade tinha de se fazer.

Após este contacto, o Avô visitou o seu amigo Ivan Petrovich Pavlov, já nos seus últimos dias, e contou-lhe o que se tinha passado com o jovem Abraham.
Pavlov requisitou algumas das cobaias de Maslow e verificou que, se pusesse uma bola nas mãos deste humanos, sempre que soava um apito de árbitro, eles procuravam imediatamente um colega a quem passar a bola.
Ficou triste por não salivarem.