Os Amigos Laranja
Já o disse noutras alturas – a postura da Holanda quanto à disseminação do Corfebol no Mundo é a vários títulos notável. Não se trata de altruísmo, mas de visão, e é isso que é particularmente admirável.
O senhor Broekhuysen deu à luz um desporto nacional, como tantos desportos nacionais existem por esse mundo fora, mas este não se resignou a confinar-se às suas paredes (leia-se Holanda), paredes geminadas (leia-se Bélgica) ou anexos (leia-se antigas colónias).
Não foi o único. Há uma multiplicidade de jogos tradicionais que se transformaram em desportos globais, alguns com muito maior adesão que o nosso Corfebol, mas é deste que falo porque é este que me faz falar.
Vejam o caso dos desportos tradicionalmente americanos – o Futebol deles e o Basebol. Nunca saíram para o exterior com o impacto de desportos globais, apesar do mediatismo de tudo o que é americano e da tentativa de cópia do american way of life que existe em todo o mundo. Não se espalharam estes desportos, simplesmente, porque os seus “donos” não o quiseram. Assim podem continuar a chamar World Series a uns campeonatos nacionais com uma ou duas equipas canadianas. Assim podem gerir o produto como bem lhes apetece e com uma capacidade marketeer que ninguém bate.
Não precisam de pôr o enfoque nas selecções. Isso é coisa que só se usa para os Jogos Olímpicos, até no Basket. Claro que, às vezes, mesmo nas modalidades que julgam confinar entre muros, têm decepções politicamente torpedeantes, como aquela imposta pela pequena aldeia gaulesa sitiada pelos romanos ao largo de Miami.
Pois os sucessores do pioneiro Nico, comandados pelo emblemático Cisne (Swan, Zwaanswijk), puseram a mochila às costas e, de catana em punho, desbravaram caminho pelo planeta fora. Descobriram que de nada valia uma selecção para jogar anualmente com os belgas e ir visitar as Antilhas Holandesas de vez em quando.
Para nós, que andamos a contar tostões a toda a hora, que nem para o nosso crescimento temos recursos, faz-nos comichão nos neurónios que haja uns tipos que pegam no que recolhem, do seu Governo, dos seus associados, dos seus patrocinadores, dos seus mecenas, e aplicam esses recursos no estrangeiro, para plantar a árvore do Corfebol no maior número de países possível, para regar essa árvore, para a fazer crescer com os raminhos e as folhinhas todos no lugar. Aqui, neste último aspecto, esbarram por vezes com o peito de alguns que, por já terem a árvore crescidinha, argumentam que já têm idade para pensar sozinhos e que querem ser eles a decidir para que lado querem que cada ramo cresça e de que cor querem que cada folha se desenvolva. E dou razão a essa gente, agradecendo o apoio mas dizendo que cá em casa sabemos nós do que necessitamos e vocês, lá porque dão o dinheiro, confiem em nós que já cá andamos há uns anitos e sabemos bem o que fazemos. Bom, é como o emancipado teenager e a mesada dos pais – sabe bem, obrigado papá, obrigado mamã, mas não me digam onde a gastar que eu já sei que o não vou fazer onde vocês gostariam, ok?
Para os holandeses, o que se passa anualmente no Ahoy é mais importante que qualquer Campeonato do Mundo (por acaso o último foi nesse ex-libris de Roterdão, mas isso é um acaso). O caminho estaria aberto para criar um paralelismo com o American Football e com o American Baseball, mas não se avançou por esse trilho, porventura com menos curvas. Os holandeses quiseram mais e estão a consegui-lo.
Há 41 federações filiadas na IKF e continua a trabalhar-se para chegar aos 50 a curto prazo. Angola, República Dominicana, China, Bulgária, Uruguai, Gana... Todas as semanas chegam notícias de mais contactos em novos países, para que os quase 100 mil praticantes holandeses não fiquem sós no mundo, para que o sonho olímpico continue a ser alimentado, para que o Corfebol seja uma modalidade global, mesmo que preservando inequivocamente as suas raízes e o seu cariz eminentemente tradicional.
E a aposta é de tal forma assumida e séria que a Federação Internacional contratou uma empresa de Marketing Desportivo para a levar a cabo. Uma empresa que será paga, com dinheiro noventa por cento holandês (o número é meu e figurativo, atenção), para plantar mais tulipas no bonito vaso que é o Corfebol.
E quando algum dos afilhados (que são todos menos os belgas) derrotar o Grande Padrinho, não será de espantar que os atletas de laranja vestidos aplaudam sinceramente o facto, apesar de, naturalmente, se poderem sentir tristes por serem eles (os que nesse dia estiverem no campo) a ficar inscritos nessa página inevitável da História do Corfebol. É que a vitória será deles (de todos; os que estarão no campo e os que já estiveram ou ainda virão a estar), porque deles nasceu a expansão e desenvolvimento da modalidade. A Holanda esforça-se para, um dia, ser derrotada e é essa ironia que me faz admirar a visão de quem optou por este caminho.
O senhor Broekhuysen deu à luz um desporto nacional, como tantos desportos nacionais existem por esse mundo fora, mas este não se resignou a confinar-se às suas paredes (leia-se Holanda), paredes geminadas (leia-se Bélgica) ou anexos (leia-se antigas colónias).
Não foi o único. Há uma multiplicidade de jogos tradicionais que se transformaram em desportos globais, alguns com muito maior adesão que o nosso Corfebol, mas é deste que falo porque é este que me faz falar.
Vejam o caso dos desportos tradicionalmente americanos – o Futebol deles e o Basebol. Nunca saíram para o exterior com o impacto de desportos globais, apesar do mediatismo de tudo o que é americano e da tentativa de cópia do american way of life que existe em todo o mundo. Não se espalharam estes desportos, simplesmente, porque os seus “donos” não o quiseram. Assim podem continuar a chamar World Series a uns campeonatos nacionais com uma ou duas equipas canadianas. Assim podem gerir o produto como bem lhes apetece e com uma capacidade marketeer que ninguém bate.
Não precisam de pôr o enfoque nas selecções. Isso é coisa que só se usa para os Jogos Olímpicos, até no Basket. Claro que, às vezes, mesmo nas modalidades que julgam confinar entre muros, têm decepções politicamente torpedeantes, como aquela imposta pela pequena aldeia gaulesa sitiada pelos romanos ao largo de Miami.
Pois os sucessores do pioneiro Nico, comandados pelo emblemático Cisne (Swan, Zwaanswijk), puseram a mochila às costas e, de catana em punho, desbravaram caminho pelo planeta fora. Descobriram que de nada valia uma selecção para jogar anualmente com os belgas e ir visitar as Antilhas Holandesas de vez em quando.
Para nós, que andamos a contar tostões a toda a hora, que nem para o nosso crescimento temos recursos, faz-nos comichão nos neurónios que haja uns tipos que pegam no que recolhem, do seu Governo, dos seus associados, dos seus patrocinadores, dos seus mecenas, e aplicam esses recursos no estrangeiro, para plantar a árvore do Corfebol no maior número de países possível, para regar essa árvore, para a fazer crescer com os raminhos e as folhinhas todos no lugar. Aqui, neste último aspecto, esbarram por vezes com o peito de alguns que, por já terem a árvore crescidinha, argumentam que já têm idade para pensar sozinhos e que querem ser eles a decidir para que lado querem que cada ramo cresça e de que cor querem que cada folha se desenvolva. E dou razão a essa gente, agradecendo o apoio mas dizendo que cá em casa sabemos nós do que necessitamos e vocês, lá porque dão o dinheiro, confiem em nós que já cá andamos há uns anitos e sabemos bem o que fazemos. Bom, é como o emancipado teenager e a mesada dos pais – sabe bem, obrigado papá, obrigado mamã, mas não me digam onde a gastar que eu já sei que o não vou fazer onde vocês gostariam, ok?
Para os holandeses, o que se passa anualmente no Ahoy é mais importante que qualquer Campeonato do Mundo (por acaso o último foi nesse ex-libris de Roterdão, mas isso é um acaso). O caminho estaria aberto para criar um paralelismo com o American Football e com o American Baseball, mas não se avançou por esse trilho, porventura com menos curvas. Os holandeses quiseram mais e estão a consegui-lo.
Há 41 federações filiadas na IKF e continua a trabalhar-se para chegar aos 50 a curto prazo. Angola, República Dominicana, China, Bulgária, Uruguai, Gana... Todas as semanas chegam notícias de mais contactos em novos países, para que os quase 100 mil praticantes holandeses não fiquem sós no mundo, para que o sonho olímpico continue a ser alimentado, para que o Corfebol seja uma modalidade global, mesmo que preservando inequivocamente as suas raízes e o seu cariz eminentemente tradicional.
E a aposta é de tal forma assumida e séria que a Federação Internacional contratou uma empresa de Marketing Desportivo para a levar a cabo. Uma empresa que será paga, com dinheiro noventa por cento holandês (o número é meu e figurativo, atenção), para plantar mais tulipas no bonito vaso que é o Corfebol.
E quando algum dos afilhados (que são todos menos os belgas) derrotar o Grande Padrinho, não será de espantar que os atletas de laranja vestidos aplaudam sinceramente o facto, apesar de, naturalmente, se poderem sentir tristes por serem eles (os que nesse dia estiverem no campo) a ficar inscritos nessa página inevitável da História do Corfebol. É que a vitória será deles (de todos; os que estarão no campo e os que já estiveram ou ainda virão a estar), porque deles nasceu a expansão e desenvolvimento da modalidade. A Holanda esforça-se para, um dia, ser derrotada e é essa ironia que me faz admirar a visão de quem optou por este caminho.