Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

terça-feira, outubro 25, 2005

Os Sebastiões

Isto está mau. Não há dinheiro neste nosso País nem para pagar as facturas do Sol e vai daí o São Pedro, que é benevolente mas não é a Santa Casa, mandou apagar o Astro Rei. Em Lisboa, já a manhã vai a meio e parece que temos outro eclipse, mas agora do Sol nas nuvens. Também é bonito de ver, e acho que não requer óculos especiais.
Com o nevoeiro, lá estão os sebastianistas, saudosistas, monárquicos e outros desesperados, à espera que o Desejado arribe no seu cavalo branco. Mas a Lisboa só chega o Sebastião Rodrigues, porta-voz dos agricultores alentejanos, a bater à porta do Ministro pouco solidário.
E, pronto, achei que devia chegar o Avô (buuuu!!... fora o gajo!!... tavas bem era de folga!...., dizem alguns que, apesar disso, continuavam a vir cá espreitar quando é que o sacana aparecia outra vez). Regresso sebastiânico, em plena imersão branca de nevoeiro cerrado.
E ainda por cima com boas notícias!

Das chaminés da Almirante Barroso saiu finalmente fumo branco. Gente que se perfilou para pegar numa Federação a que já alguns preparavam a extrema unção. Gente que avançou e, acto relâmpago, se fez eleger por um colégio cardinalício rendido à urgência da resolução.

Que sejam como o Carmona e arregacem as mangas para pôr mãos à obra;
Que sejam como o Carrilho e consigam arrastar o mediatismo atrás de si;
Que sejam como o Jerónimo e estejam genuinamente perto das massas;
Que seja como o Sá Fernandes e gostem do Corfebol, ou vão mais longe e, como o Fernando Ferreira, amem a modalidade;
Que sejam como o Alegre e levem até ao fim as suas convicções;
Que sejam como a Mizé Nogueira Pinto e não desbotem nem esmoreçam com as chuvas de Maio.

segunda-feira, outubro 03, 2005

O Eclipse


- Avó, estou nervosa para o jogo de logo à tarde.
- É natural, Inês, é um jogo importante. O primeiro título da época...
- Porque é que se chama Taça Cooperação, Avó?
- Estávamos em 2005... Lembro-me de acordar numa manhã de Eclipse do Sol, um Eclipse Anular ou Anelar, ou lá o que era, um fenómeno raro que só acontece de muito em muito tempo.
Acordei com o pessimismo que varria todas as pessoas que gostavam verdadeiramente da modalidade. Estávamos preocupados por não encontrarmos soluções para um vazio que se tinha criado. Não havia Direcção da Federação, as competições tinham sido suspensas, o clima geral era preocupante.
Mas o pior não era só o facto de não haver listas para a Federação. Era o ambiente geral... Os árbitros só o eram por obrigação, os treinadores só o eram porque alguém tinha de ser, parecia que se tinha chegado a um ponto em que tinha caído um manto escuro de desânimo sobre o Corfebol em Portugal.
- Um Eclipse?
- Sim, como um Eclipse. Foi o que senti essa manhã. Era como se o Sol que tinha iluminado tantas coisas boas, que tinha alimentado algumas das memórias mais felizes da minha vida, tivesse sido de repente tapado por uma Lua contra a qual não podíamos lutar. Várias vezes, temporariamente, o Sol tinha escondido a cara, atrás de nuvens, mas as nuvens leva-as o vento e a Lua é pesada demais.
Mas foi um peso que conseguimos afastar. Foi um momento lindo. Durante dias, houve uma união nunca antes vista. Todos ajudaram a voltar a dar ao Corfebol o brilho que tinha embaciado. Era ver aqueles que sempre tinham esperado que outros fizessem o trabalho por si, era ver aqueles que tinham só um ou dois anos de Corfebol, era ver os mais velhos, os mais novos, as mulheres e os homens, os de maior currículo corfebolístico e os novatos... todos a puxar a carroça para a desatolar da lama.
- “Eram Mulheres e Crianças, cada um com o seu Tijolo”...
- Exactamente. Cada um fez o que pôde, de acordo com as suas possibilidades. Não houve líderes, houve obreiros. Por uma vez, não se ouviram críticas destrutivas ao trabalho do vizinho do lado, porque por uma vez esse vizinho era um colega. Todos éramos colegas uns dos outros. A Cooperação venceu o Eclipse.
- É daí que vem o nome da Taça.
- Sim. Institui-se essa competição, realizada sempre no início da época, para comemorar esses momentos magníficos que te permitem hoje estares a jogar. Hoje vais entrar em campo bem equipada, bem preparada, numa equipa ambiciosa, inserida numa clube bem estruturado. Vais ter pela frente um adversário com iguais características. Uma dupla de arbitragem motivada e habilitada vai conduzir o jogo, final de uma competição organizada por uma Federação competente. O Corfebol é bem visto na comunidade. É um Desporto em estável expansão.
- Tudo porque todos se uniram em torno de uma causa!
- Não só. Gosto de pensar que o principal é o Corfebol e tudo o que este Desporto representa. Depois vêm as pessoas e o que elas fazem. Se o Corfebol cresceu, isso deveu-se, sobretudo, a ser o que é. As pessoas limitam-se a fazer as nuvens pararem mais tempo diante do Sol ou fazê-las sair mais depressa. Por vezes, são chamadas a deslocar a Lua – esforço hercúleo só possível quando a massa substitui o indivíduo e sempre com a motivação que nos dá esta modalidade que escolhemos abraçar.
- Estou contente por o teres feito, Avó, e por tu e o Avô terem passado esse “bichinho” ao meu Pai, que o passou à minha Mãe, a mim e ao mano. Prometo que serei digna da Taça Cooperação, hoje e sempre.