Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

quinta-feira, abril 19, 2007

Argos Upgraded

Tenho um amigo Argonauta que não descansa.
Separou-se dos seus companheiros de aventura quando se apercebeu que era sua intenção cristalizarem-se no mitológico tempo e no helénico espaço, destino paradoxal num grupo viajante e empreendedor.
Pediu o velho Argos emprestado e, Geonauta, conheceu Mundo, em valorosa circumnavegação. Adaptou-o e, Aeronauta, viu de cima a Terra. Melhorou-o e, Astronauta, visitou o nosso Satélite. Aumentou-o e, Cosmonauta, soube de outros mundos.
As suas últimas viagens têm sido como Internauta, ou Cibernauta. Numa delas pedi-lhe boleia. Era, claro, sobre Corfebol, nesse estranho espaço que nos é trazido pela Internet.
Ele devia-me essa viagem. Apesar de sermos quase da mesma idade, dessa antiguidade distante, ele sabia que foi aqui, no espaço virtual, que nasci e que aqui vivo.

E assim, partimos à aventura, lembrando os Argonautas. Fizemos a viagem só pelo espaço que de Portugal emana para as malhas da Rede e fizemo-lo em 3 etapas.

1. Os sites
Federação, clubes, outros. Pouco de novo.
A porta de entrada da Teia no Corfebol Português é digna, mas com falhas. Ao longo dos tempos, com remodelações e restylings, parece que falta sempre alguma coisa. Se não é a actualidade, são os conteúdos estáticos, se não é a acessibilidade é o aspecto gráfico. Alguma coisa parece sempre faltar. Mas está lá tudo. O esqueleto parece estar pronto para receber a carne, que já existe em grande quantidade mas que ainda tem buracos, assim como alguns mortos-vivos dos filmes de terror.
A nossa nave ficou presa à porta do site dos Bons Dias. Talvez tenha sido um erro de navegação, mas parece que o projecto se cansou (trocadilho giro, né?... lol, às vezes surpreendo-me com as graçolas).
Voámos aos vizinhos do Odivelas e não encontrámos página própria, mas sim participações regulares no site do Clube. Escondidas, muito escondidas, no meio de um turbilhão de futebol e crises directivas.
O ÉleÁCê (mais uma piadola... quem me pediu para não dizer Láque vai perceber, eheh) é um caso idêntico. O site é do Clube, mas o Corfebol lá está, com notícias e informação diversa. Com muito mais destaque que no caso do Odivelas. Tem fotos, nomes dos jogadores...
Se passarmos para o ÉneCêBê (aqui também há quem desafine se lhe chamam Benfica), a desilusão é grande. Ficamos imediatamente a saber que o “Campeonato começa este fim-de-semana”, o que é muito pouco abonatório da capacidade que o site tem para se actualizar. O meu amigo ainda olhou para o seu relógio, a confirmar em que dia estávamos, mas lá lhe pedi para não se preocupar e levantar a âncora, que mais valia irmos para outras paragens.
Chegámos a Carcavelos, terra de uma equipa que só na Net é que se chama Corfesc. É um site bonitinho, limpinho, que até tem um link para aqui, para o vosso Avô, o que é uma coisa muito à frente. Tem fotos do pessoal, registos das farras... nota-se que vem de gente que se diverte, e isto do Corfebol também passa muito pela diversão. O que salta mais à vista é o “Passatempo Cultural”. Sim, amigos e amigas... Passatempo Cultural. Fui lá com o meu amigo e resolvemos jogar. Era uma pergunta. Como parecia muito fácil para mim, que fui colega de escola do Nico, deixei o argonauta responder. Por isso é que há uma resposta no Geldefsman. Têm de desculpar o tipo, mas o Homero não sabia o que era o Corfebol, ou teria posto um cesto de ouro numa gruta qualquer guardada por uma besta de oito cabeças.
O CCO reformulou o seu site há pouco tempo. É o primeiro site que conheço politicamente correcto, “todos diferentes todos iguais”, a preto ou branco. Não a preto e branco, atenção, mas a preto ou branco. É um site tecnologicamente avançado, com vídeos e tudo. Dominam as notícias sociais, de malta que se diverte, e há uma particular atenção ao campeonato holandês, modelo do que por cá se passa.
O Carnaxide tem duas realidades distintas. No site propriamente dito, há uma imutabilidade quase completa. Muitas fotos, mas só até Janeiro de 2006. Nas notícias, a seguir a uma chamada “começo da época 2006/2007”, há votos de Feliz Natal e um saltinho à convocatória para os sub-19. Pouca coisa, sem dúvida. Os conteúdos fixos parecem bastante completos, com um historial interessante dos treinadores, fichas por atleta e várias informações sobre o Clube e as suas equipas.
O segundo mundo deste site é o seu Fórum. Desde que o da Federação acabou, é aqui que se deve vir quando se quer saber da última bronca, da última polémica, do último desabafo. Alguns temas são de tal forma polémicos que até encravam o servidor.
Fora dos clubes, temos um quase-clube chamado KAK – Klube dos Amigos do Korfebol, com um site simples mas interessante, cheio de informação, apesar da pouca dimensão do projecto.
Há ainda o Go Korfball, que sofreu uma remodelação muito positiva. Aquele zepelim que passeava pela Ponte 25 de Abril (como ironizava uma pessoa muito especial, será que devíamos voltar a chamar-lhe Ponte Salazar?) e os menus que abriam de forma confusa já chateavam um bocado e agora... voilá!... temos um site novo, bem mais giro (mas as opiniões são como os fusos das rocas) e funcional. Abre com um poema que já li nestas paragens (em relação ao qual também acredito que as opiniões se dividam) e tem lá o que o projecto será este ano, só com miúdos mas com o mesmo entusiasmo.

2. Os Blogues
Ora o mais fantástico de todos, o que só fala de Corfebol, o de quem todos falam, é este, the one and only, o deste vosso Avô que vos fala. Mas que deste não irá falar, por modéstia, talvez falsa. O argonauta diz que gostou. É um tipo que gosta de referências variadas, de conversar sobre muita coisa e, mesmo que caia tudo no inevitável Corfebol, cada texto tem um bocadinho de cultura, de ideias soltas, e o meu amigo gosta disso.
Mas o fascinante é verificar quantos corfers têm o seu blogue, onde falam de tudo e de Corfebol também. Desde a professora que, por falar pelos cotovelos, teve um blogue de prenda de anos, passando por baboseiras várias e assumidas, pelas crónicas de alguns desterrados, pelos temas de que alguém acha graça, por alguém que afasta os medos de alguém para longe, pelo treinador e jogador que se queixa de um fim de semana para esquecer...
Para os encontrar a todos basta pesquisar por este nome que não é tão comum de utilizar noutras paragens senão pelas nossas próprias. “Corfebol” tem essa vantagem. É nosso e pouco mais que nosso!
Claro que também se tropeça com desagrado em alguns comentários sarcásticos de quem nem sabe o que o Corfebol é. Há muita má língua associada ao que se desconhece. Faz parte da vida e é esta vida que temos de viver.

3. Os Hi5
O Argos levou-nos, na terceira etapa desta viagem, a um mundo mais exótico para mim. Ter um blogue já foi um verdadeiro choque tecnológico para este ancião.
Não consegui ainda digerir esta coisa dos HiFives. Parece-me um puro exercício de voyeurismo e exposição voluntária. Limita-se a compilar fotografias e listas de supostos amigos, comentando-se uns aos outros (os amigos comentam as fotos dos amigos que comentaram as suas próprias fotos). A colecção de amigos é um sinal de status para a nova geração. “Ele já tem x amigos” vale o “ele já tem a caderneta do Mundial completa” de antigamente, ou o “ela namora com o presidente da associação de estudantes”. A popularidade de alguém mede-se por aí.
Faz sentido. O pessoal de agora já não conversa no café. Quando lá estão, agarram-se ao telemóvel e mandam sms para quem não estiver lá. E os que estão, e que estiveram a ser ignorados mutuamente porque os telemóveis eram mais importantes, despedem-se com um “então até já; apareces no MSN?”.
Navegar pelo Hi5 parecia-nos mais complicado que pelos blogues e muito mais que pelos sites oficiais. Não percebemos se havia maneira de pesquisar por palavras - digitar o tal “corfebol” e receber uma lista de todos quantos dedicam a esta mágica palavra um cantinho no seu Hi5.
Mas, afinal, até foi fácil. Basta encontrar um e olhar para os amigos. Alguém que jogue Corfebol tem amigos que joguem Corfebol. É quase LaPalissiano. Olhando para fuças e nomes, salta-se de página em página e chega-se à conclusão que seria uma tarefa infindável descobrir quem e quantos aderiram a esta nova e fantástica forma de comunicar. São muitos, acreditem, muitos mesmo. E não são só jovens imberbes. Há muito cota lá pelo meio. Não tanto como eu ou o argonauta, claro, mas malta que já se esperava estar desligada destas novidades da tecnologia.
Para existir é preciso estar no Hi5.
Ainda bem que não existo!

segunda-feira, abril 02, 2007

Os Belos e as Mestras

Estamos bonitos, estamos!
Não é só por termos um concurso que exalta a burrice e a cromice, uma lusitanização do confronto americanóide entre os geeks e as cheerleaders.
É porque temos quem se esforce para defender o concurso e, até, tirar um efeito educativo do mesmo. Diz o Piet Hein, que é tão conhecido pelos big brothers (e afins) como por ter estado casado com a Alexandra Lencastre, e que é dos poucos holandeses que conheço e que não jogam Corfebol, que este concurso “vai fazer o preconceito das crianças diminuir. Porque ao reforçar o contraste de uma forma tão vincada desconstrói os estereótipos”.
Uau! Este homem devia ir para político. Portanto, deixa cá ver se percebi... Ao tornar reais, na tela da caixa que mudou o mundo, as anedotas de louras, estamos precisamente a ensinar às criancinhas que as anedotas não passam de isso mesmo e que ser bonito não é incompatível com ser inteligente.
Ou seja, uma criancinha que engula o reality show da TVI todos os dias, quando se cruzar com uma mulher bonita, vai olhar para ela com respeito porque – Santo Piet, que nos dás a luz! – tem os estereótipos desconstruídos. Dirá o petiz algo como “Tu é bonita, como as miúdas do concurso. Como o concurso é exagerado, caricatural, isso significa que o preconceito é falso e que, portanto, tu és inteligente. Parabéns, por seres bonita e inteligente”. Ah!, como vai ficar elevado o ego das mulheres bonitas deste país.
Estamos bonitos, estamos! Diria belos, até. E, daí decorrendo, inteligentes, também.
Homens inteligentes, com QI’s elevados, cultos, que percebam de ciências e artes, também não precisam de ser feios, acromalhados, desastrados no desporto e inábeis com as mulheres. Aqueles, os do concurso, são, ou tentam fazer parecer que são, mas isso é para desconstruir o estereótipo.
Mais. Nada impede, segundo os próprios produtores, que haja uma versão ao contrário deste programa. Tipo, homens louros e musculados que não sabem quem é o Mário Soares, a aprender com mulheres de óculos e borbulhas que sabem recitar até à 20ª casa do Pi.
Isto, para os iluminados como o Piet Hein, prova as boas intenções do programa, que não é sexista. Claro que se não fosse ele próprio louro, era capaz de perceber que o estereótipo se mantém, apesar da transexualidade a que se submeteu. Ou então sou eu, a quem as cãs escondem se alguma vez a loura cor cá esteve, que mais uma vez não percebo a desconstrução dos estereótipos. Sou tão burro que até já me acho bonito.

Como é que se desconstroem, a sério, os estereótipos? Transpondo a lógica da convivência despreconceituosa para as diversas áreas da vida social.
Não é com medidas hipócritas como aquela de pôr os bonecos dos semáforos e sinais de trânsito com saias, só para que as mulheres não se sintam insultadas por não figurar em tão belas obras de arte. Ou então, se forem burras, ainda pensam que se o homenzinho verde, de chapéu, é nitidamente masculino, elas ainda não podem atravessar a rua. E, depois disto, há de chegar o momento em que as pessoas que não usam chapéu vão querer bonecos sem chapéu, e em que os deficientes vão querer bonecos pernetas ou em cadeira de rodas, e em que os passeadores de cães vão querer o seu bobby a figurar no semáforo, ou não atravessarão a rua. Até as galinhas, famosas por atravessarem estradas e ninguém ter descoberto ainda porquê, vão querer sinais com a sua silhueta.
Não; não é assim. É não utilizando o género feminino quando se fala em culinária ou moda, ou decoração. “se a leitora não tiver em casa ovos de codorniz, pode sempre utilizar...” Porquê a leitora e não o leitor? Bom, dirão muitos, então e porquê o leitor? Não vou entrar por aí, limitando-me a seguir a norma, que é utilizar o masculino para o sujeito indefinido.
Mas é mais do que isso. A vida social é mista e deve sê-lo com respeito pelas diferenças e igualdade de oportunidades e tratamentos. Todas as actividades sociais deveriam reflectir isso.
Atalhando caminho, que a conversa já vai longa, chego ao destino, ou seja, como não poderia deixar de ser, ao Corfebol.
Desconstroem-se preconceitos e estereótipos quando existem actividades como esta. Aqui, todos fazemos o mesmo. Aqui, quando ganham os homens ganham as mulheres e o perder é de igual forma partilhado. Não há regras para uns diferentes das regras para outros. Há regras que salientam que homem e mulher não é a mesma coisa (não se podem defender; não pode haver equipas com 5 mulheres ou 5 homens), mas não há regras que sejam para um e não para o outro. Aqui, quando vamos jogar longe, viajamos todos juntos; quando fazemos jantares e outras confraternizações, há o colorido de estarmos juntos. E nada disso é forçado; decorre naturalmente da característica principal da modalidade, que é ser mista.
Não vamos jantar juntos depois de um jogo porque uns estiveram a jogar e os outros a apoiar. Vamos porque estiveram mulheres e homens a jogar e estiveram homens e mulheres a apoiar.
Se queremos uma sociedade em que exista sã convivência entre sexos, temos de valorizar o papel do Corfebol (entre várias outras actividades, mas este Blog é de Corf), enquanto única modalidade desportiva que promove verdadeiramente a desconstrução de estereótipos.
Há uns mais bonitos, uns mais cultos, uns mais inteligentes, uns mais hábeis, sem relação de causalidade directa ou indirectamente proporcional entre si, mas... aqui, no Corfebol, todos somos Belas e Belos; aqui, no Corfebol, todos somos Mestras e Mestres.