Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

quinta-feira, março 31, 2005

Os 3 Porquinhos

A Assembleia Geral do Clube de Corfebol de Vale da Porca não foi pacífica. O excesso de equipas e praticantes no Clube, associado à regra limitadora de uma equipa por clube na Divisão principal, causava o problema de haver demasiados atletas com a frustração de nunca subirem à 1ª Divisão.
Ficou então deliberado, lá para a 7ª hora de árdua discussão, que se iriam enviar 3 dos mais promissores jovens do Clube a localidades vizinhas para fundar novos clubes, apadrinhados pelo CCVP. Atrás desses jovens, seguiriam decerto outros membros do Clube, desanuviando assim o funil que era a entrada na 1ª equipa (leia-se 1ª Divisão).
Cícero, Heitor e Prático - estes eram os seus nomes – caminharam juntos até à Encruzilhada dos 4 Caminhos. Se para trás urina a jumenta e só vai quem descobriu que se esqueceu do telemóvel em cima da mesa da sala, restavam 3 caminhos. E cada um tomou o seu.
Cícero alicerçou o seu Clube em jogadores insatisfeitos no CCVP. Ao fim de um ano, tinha uma equipa na 1ª Divisão e outra na 2ª, com bons resultados imediatos mas com dificuldade em jogar sempre com 8. Ao fim de dois anos, já só tinha a A, que desceu porque tinha de jogar com atletas de menos valia. Não tinha captado novos atletas.
Ao fim de três anos, debatia-se com a possibilidade de fechar portas e foi visitar o Clube de Heitor, para ver como este se safava.
O Clube de Heitor tinha apostado num treinador conceituado para a equipa principal e tinha aberto inscrições na comunidade para formar uma equipa jovem, de iniciação. Esta trocava de treinador todos os anos, e era normalmente alguém que tinha algum tempo e vontade de treinar, mas nenhuma experiência ou apoio. Os mais novos treinavam hora e meia por semana, longe dos mais velhos, que tinham 3 treinos semanais. Uns não conheciam os outros; não se motivavam mutuamente. Os jovens não evoluíam o suficiente para ir colmatando os abandonos dos seniores e, ano após ano, o clube foi definhando.
Cícero e Heitor foram visitar o seu colega Prático, para ver como é que ele tinha resolvido os vários problemas que, pelos vistos, surgiam na gestão de um clube.
“Vocês construíram casas frágeis, que ruíram ao mínimo sopro das adversidades. Tu, Cícero, fizeste um clube não mais consistente do que se de palha fosse feito. Era bonito no início, sim, tudo parecia fácil, mas não tinha futuro, porque não investiste em captação. Enquanto se foram mantendo os jogadores da nossa geração, as coisas foram-se desenrascando, mas o pessoal vai saindo e não havia quantidade nem qualidade para amenizar as faltas. Tu não pensaste no futuro e o presente foi tão fugaz que é uma mão cheia de palha largada ao vento. Tiveste o sucesso mais rápido de todos nós, é verdade, mas assim como subiste também caíste.
Tu, Heitor, pensaste um pouco no futuro, mas não lhe deste a prioridade merecida. Por isso, o teu Clube era da solidez da madeira. Resistiu aos primeiros sopros do abandono, mas não se aguentou em pé quando a tempestade insistiu em soprar. Não apostaste numa formação séria para os teus jovens. Não investiste na sua real integração no Clube e no Corfebol. Não adquiriram valias técnicas nem motivação para continuar.
Eu, vejam, tenho uma equipa A de onde não resta um único atleta dos que começaram este Clube, há 6 anos atrás. Sempre tive os melhores treinadores a trabalhar na formação. Pessoas com capacidade para motivar e, ao mesmo tempo, para desenvolver tecnicamente os jovens. Os melhores foram subindo de equipa. Os outros, encontraram sempre enquadramento em equipas secundárias. Vários foram sendo canalizados para outras funções (arbitragem, treino, dirigismo) e todos sentiram um forte envolvimento social. Todas as equipas se encontram nos treinos, para criar uma identidade de grupo. Todos se conhecem, todos vão aos jogos uns dos outros. Há jantares e fins-de-semana de Clube. A taxa de abandono é muito menor que as novas entradas.
Sim, é verdade que não subimos logo no primeiro ano à 1ª Divisão. É verdade que demorámos 5 anos a ser Campeões Nacionais. Mas hoje somos orgulhosamente um Clube em crescimento, sólido, cimento-tijolo-pedra que não cai com as tempestades. Ultrapassámos o Vale da Porca em número de praticantes e de equipas. Hoje somos nós que ponderamos a divisão em vários clubes satélites.
Vão, voltem aos vossos clubes, que ainda vão a tempo de rectificar as vossas falhas.”
E os dois porquinhos seguiram estrada fora, para dar fôlego novo aos seus clubes de Corfebol.

domingo, março 20, 2005

O Patinho Feio

Alcides Pato jogava Andebol. Quer dizer; ele achava que jogava; os colegas achavam que não. Explicando melhor, o Pato era muito mau a jogar Andebol.
Era mau e não gostava. Fazia-lhe confusão que se agarrassem, que se empurrassem, que dessem passos e mais passos, com mudanças de direcção e tudo, rompendo florestas de braços e pernas até conseguirem – das duas uma – ou rematar ou ganhar um livre. Livres atrás de livres. A norma era fazer falta. O agarrar, o empurrar, o fazer gravatas, o esbarrar ostensivamente eram parte do jogo e não excepções. As punições existiam, é verdade, mas eram normais. As regras serviam mesmo para aplicar em catadupa.
Como não gostava, dificilmente lhe apanharia o jeito. Encolhia-se em vez de esbarrar, afastava-se em vez de empurrar, fugia das gravatas em vez de avançar para o golo. Mas ia ficando na equipa porque era o seu grupo. E, a bem da verdade, nunca tinha tido outro.
Porque nunca se tinha dado ao trabalho de procurar.
Um dia foram jogar fora. O Pato estava fresquinho no final do jogo. O treinador não demonstrava grande confiança nas suas capacidades e ficou no banco. Se fosse um pato de verdade, e não só de nome, e já agora se fosse mais pata que pato, dir-se-ia que o Pato estava já perito em chocar ovos, tal era a prática em aquecer com o traseiro a fria madeira dos bancos suecos.
Terminado o encontro, moídos da sova física e de marcador que tinham levado, os colegas do Pato recolheram às cabines (que é como dizem os comentadores desportivos; por mim seria mesmo “foram para o balneário”), em filinha, ritual informal mas sempre repetido, treinador à frente e Alcides no fundo, levando os casacos que os colegas tinham deixado no banco.
Antes de chegar à zona de duches, mesmo ali à saída do recinto de jogo, a vida do Pato mudou. Em contramão, vinha uma outra fila. Vinham alegres, gente gira, raparigas e rapazes juntos. Iam jogar a seguir; só estavam à espera que os do Andebol abandonassem o campo.
O Pato, que não se via como a Formiga no Carreiro, cheirou qualquer coisa de diferente no ambiente daquela fila. Aquela era mais parecida com a sua família. Estava ali o seu grupo. Instintivamente, guiado por uma enebriante sensação, deixou cair os casacos dos colegas de Andebol e seguiu os novos colegas, os do Corfebol, nome que ainda nem conhecia. A treinadora olhou para ele, viu-lhe os olhos brilhantes de expectativa, e perguntou-lhe se queria jogar.
Aqui vamos fazer um parêntesis. O leitor mais pragmático vai já argumentar contra o etéreo desta história. Se o rapaz nunca tinha sequer sabido da existência do Corfebol, ia jogar, assim sem mais nem menos? E qual é a equipa de Corfebol que pode incluir assim um jogador vindo do nada? Não há seguro? Não há inscrição na Federação? Tá-se mesmo a ver – chega alguém com ar faminto de jogar e mete-se logo na equipa, sem sequer falar com os jogadores, não é? E os do Andebol, iam-se embora sem ele? Se o jogo era fora, ele tinha de ir de boleia com alguém, ou dar boleia a alguém, não acham?
Pois é. Mas isto é uma história, o Blogue é meu e, se virem bem, 75% do conteúdo de 90% das histórias infantis é 99% incongruente. Portanto, vamos prosseguir com a história e façam o favor de não me interromper outra vez.
Onde é que íamos?... Ah! A treinadora tinha convidado o Alcides a jogar.
Ele aceitou, adorou e ficou. A família dele, afinal, era mesmo aquela.
Cresceu e tornou-se um lindo ganso... perdão... Cresceu e tornou-se um jogador excelente.
Um dia, foi jogar ao pavilhão onde jogava a sua antiga equipa de Andebol. Era o seu primeiro jogo como internacional Sub-16. Um Portugal – Grã-Bretanha, para preparar ambas as equipas para o Youth Talent Cup. Nas bancadas, os seus ex-colegas, que tinham tido jogo antes e que tinham ficado ali por curiosidade, para ver como é que iam pôr cavalos dentro do pavilhão, ficaram pasmados ao ver o Pato. Confiante, o ex-jogador de Andebol foi o líder da equipa nacional numa vitória histórica sobre os ingleses.
No final, todos aplaudiam de pé a selecção portuguesa. Uns, com um respeito profundo, aplaudiam especificamente um jogador da selecção. E, no íntimo, estremeciam de emoção ao pensar que gostariam de ser como ele.

sexta-feira, março 18, 2005

Ponto de Situação

Olhar em redor. Ver-nos. Comentar. O que é que se passa na nossa casa?

Junior World Cup. Lá vão eles de novo. De malas feitas para o berço do Corfebol. Os nossos mais jovens. Alguns pela primeira vez de FPC ao peito. A maioria. Acho eu.
Para quando começar com os Sub-16? O Campeonato é bom. Parece-me. Tem algumas equipas. Alguma qualidade. Alguns atletas que até jogam nos seniores. Haverá orçamento para experimentar? Era mais um passo em frente.

1ª Divisão. Bons Dias em recuperação. Carnaxide largou um pouco do fulgor inicial. Benfica mostra mais que os outros. 4 pontos entre cada um. 12 entre os 4. Agora é a doer! Carnaxide pode estrear-se numa Final de Play-Off. CCO irá deixar?
Equipas B empatadas. Equilíbrio. Mas pouco interesse.

2ª. LAC imparável. Ninguém os belisca? Carnaxide B mantém 2º. Muito bom! Carcavelos quase a garantir subida. Falta rechaçar ataque do Odivelas. Odivelas dará tudo por tudo. CCO B desilude. Pode chegar ao 3º. Pode perder o 4º. Batalha perdeu o comboio da subida. Assim parece. Lá para baixo não há história. Ainda faltam muitos jogos.

Taça. Só falta a Final. Igual ao ano passado. Igual ao que se segue neste ano. Benfica parece mais forte. Fase Regular indica-o. Mas Taça é Taça.

Lá fora. Da nossa janela vê-se a Holanda. Amanhã é dia grande. Ahoy. Finais. Campeonato holandês. O grande dia do Corfebol Mundial. Dia D. Mais do que uma Final do Campeonato do Mundo. Mais interessante. Mais público. Mais entusiasmo. Deixem a janela aberta. Pode soprar um ventinho. Deixem entrar a brisa. Faz-nos bem. Devemos cheirar o Ahoy. É bonito.

quinta-feira, março 17, 2005

Capuchinho Vermelho

O miúdo era um puto fixe, estilo o mais urbano possível, aprendiz de rapper e graffitter, alinhava com skaters e outras tribos. Andava sempre de sapatilhas desapertadas, calças largas e sempre, mesmo sempre, um casaco de treino com capuz vermelho em cima do boné. Nos círculos hip-hop chamavam-lhe com carinhoso gozo “MC Little Red Riding Hood”. Nome grande que o enchia de orgulho, tanto quanto tinha no seu casaco com capuz vermelho, que nunca tirava.
Tinha boas notas, não fumava, comia bem. Os amigos, que eram muitos, apesar de alguns serem “esquisitos”, na opinião da família, eram rectos e correctos. No entanto, a mãe via-lhe excesso de energia e achou por bem sugerir-lhe mais uma forma de passar o tempo. “Pode ser que gostes; não custa nada experimentar”.
Fez-lhe um saco de desporto, deu-lhe um panfleto que tinha encontrado na caixa do correio e disse-lhe “Filho, vai lá falar com o Avôzinho a este Pavilhão. Leva-lhe o saco de desporto, com t-shirt, ténis e calções, e vê lá o que é isso do Crófébol. Mas atenção, não vás pela floresta urbana, onde te podes perder no meio de tantas solicitações”. E pensava “Avôzinho... nome estranho para um treinador”.
O puto foi, cheio de boa vontade e entusiasmo, duas características que se cravavam em tudo o que fazia. Mas foi por onde a mãe não queria que fosse. Era mais perto e podia ser que encontrasse a gera, algum mano que quisesse ir com ele ao Pavilhão.
Passou pela Sala de Jogos Lobão. O Sr. Lobo, o dono, perguntou-lhe porque é que não entrava, que tinha uns jogos novos, “Já chegou aquele em que tu és um marine americano e dás cabo dos chinas todos com armas que vais encontrando e ainda tens de salvar os gajos que estão presos”. Que não, que não podia, que ia ao Pavilhão, ter com o treinador Avôzinho, ver o que era um desporto novo. “Parece ser um desporto fixe, Sr. Lobo”.
O homem, para quem o único tipo de desporto que ia tolerando eram as simulações desportivas em videojogos – e mesmo essas achava-as para gente fraca de estômago – ficou com os pêlos todos arrepiados e sentiu a ameaça de desvio da sua clientela para um desses antros de fazer exercício. Não é que o puto do capuz fosse um cliente assíduo, mas tinha muitos amigos e podia meter-lhes na cabeça essas ideias perigosas de que praticar desporto faz bem à saúde.
Deu uma viste de olhos ao papel e traçou um plano. Chegaria mais cedo ao Pavilhão se fosse de carro. Despediu-se do Red Hood e correu para o carro.
Sem suspeitar dos planos maquiavélicos do dono da Sala de Jogos, o rapaz continuou o seu caminho, calmamente, parando aqui e ali para trocar uns “Tá-se” com a malta.
Quando chegou ao Pavilhão, ficou surpreendido. O Corfebol não era nada do que suspeitava. Afinal, era um conjunto de máquinas de videojogos, todas alinhadas ao longo daquilo que deveria ser um recinto de jogo. Havia todos os tipos de jogo, desde aquelas coisas infantis de mandar bolinhas de cores ter com as suas iguais para rebentarem em orgias cromáticas, passando por aqueles em que é suposto dar-se o maior número de pontapé-alto, rasteira, soco-baixo, gravata-com-triplo-mortal, até ver o adversário cair sem misericórdia, passando ainda pelas estranhas personagens que percorrem plataformas apanhando moedas e outras invenções, até aos tiros, aos carros, aos jogos de futebol, de cartas, de atrofio completo das dimensões física, mental e social dos praticantes.
Olhou em volta e viu que não era o único desiludido. Muitos jovens tinham comparecido ao chamamento do tal Avôzinho, que nem sequer lá estava, e vários estavam a virar costas para ir embora, demonstrando que não era bem aquilo que queriam ter descoberto. É verdade que muitos, por resignação ou porque até preferiam assim, tinham ficado agarrados às máquinas. Mas o puto do capuz vermelho estava revoltado. E não era o único. Afinal, o Corfebol era uma fraude, um truque publicitário para uma nova Sala de Jogos.
Foi-se embora. À saída cruzou-se com um pequeno grupo de jovens bem dispostos, saídos de uma carrinha que dizia “Vem Jogar Misto”, e que iam entrar no Pavilhão. Perguntaram-lhe porque se ia embora, se não tinha gostado do Corfebol. O puto explicou o que tinha sentido com o que tinha visto e o semblante dos jovens foi ficando crispado, num misto de estranheza e preocupação.
Entraram. O miúdo foi atrás, reparando que qualquer coisa ali não estava a bater certo. Quando viram em que se tinha transformado o Pavilhão, vasculharam tudo. Descobriram o Avôzinho enfiado e trancado num cacifo. Salvaram-no, quais caçadores de conto infantil, e correram a pontapé com o Sr. Lobo, o responsável por aquela farsa.
Montaram postes, distribuíram bolas e coletes, ofereceram botijas e autocolantes. A miudagem ficou para ver. O Avôzinho deu o treino. No fim, disse que tinha ficado muito contente por ter tanta gente a experimentar o Corfebol, que era normal que alguns pudessem não gostar, mas que já era bom ficarem a conhecer, que haveria outro treino no dia seguinte, que poderiam voltar, que poderiam levar amigos.
No dia seguinte, estavam lá todos, cada um com mais um ou dois amigos. O Little Red Riding Hood não falhou um treino até hoje, sendo capitão da equipa que entretanto se formou.
A Sala de Jogos do Sr. Lobo fechou. Faliu. No mesmo local abriu uma loja chinesa.

quarta-feira, março 16, 2005

Fotos pelo Correio

Paulo Oliveira e João Francisco Teixeira. CCO e NCB. Imaginem que os primeiros presidentes dos dois únicos clubes de Corfebol existentes em Portugal resolviam ir dar um voltinha e ingressar noutro clube.
Até podiam nem ingressar. Podiam nem se fazer sócios, apenas colaborar. Talvez jogar, talvez treinar, talvez assessorar.
Será que um zeloso funcionário de cada um dos clubes que ostentam orgulhosamente o C do meio iria empacotar muito mal empacotadinho cada um dos quadros (que devem figurar, altaneiros, nas respectivas sedes) destes ilustres cromos e enviá-lo para o clube que agora demonstrariam abraçar?
Seria a Freitamaralização do Corfebol.
Ainda bem que estamos longe disso.

quarta-feira, março 02, 2005

Entrevista

E – Olá, Avô. Muito obrigado por nos conceder esta Entrevista.
 – Obrigado eu, pela oportunidade de dizer qualquer coisa num sítio que até é meu e onde sou eu que decido quem é que diz qualquer coisa.
E – Pois.
 – Mas vamos lá à entrevista...
E – Ok. Porquê fazer um Blog?
 – Essencialmente, por piada. Os Blogs estão na moda, os bloggers até foram considerados as figuras do ano 2003, se não me engano pela Newsweek. O Corfebol não tinha Blog e cá estou eu, sempre na proa do barco, a dar um novo mundo ao nosso mundo.
E – Sempre a referência náutica. Olhando para “O Barco” percebemos que teve muito a ver com o que se passava no Berço do Avô – o Fórum da FPC.
 – Obviamente. O ambiente estava péssimo no Fórum e particularmente para mim. Li muitas coisas que me revoltaram. Às vezes, a conversa atingia níveis odoríferos semelhantes à Ribeira dos Milagres em dia de descarga suinícola. Daí que as minhas intervenções, a certa altura, se viram guiadas pela azia e pelo desconforto, tornando-se também rudes. Mas nunca chegaram ao ponto de algumas agressões a que fui sujeito.
E – Daí aquela frase que alguém disse na altura sobre a compostura e o balde...
 – Que nem o mais fleumático dos gentlemen britânicos manteria a compostura se lhe enfiassem um balde de trampa pela cabeça abaixo. É bem verdade e serve de pequena consolação para os excessos que sei que cometi.
E – Quase quatro meses depois, qual é o balanço?
 – Acho que o saldo é positivo. Tenho pena de não ter acesso a contadores, para ver quantas pessoas vêm cá ler. Mas tem havido um número interessante de comentários.
E – Bons comentários?
 – Vários com muita qualidade. É muito giro ler os comentários ao “Este Mundo...” e dá-me pena que um Blog seja limitado quanto à participação externa. Faz falta um Fórum.
E – É por isso a “Folha em Branco”?
 – É. Apeteceu-me dar um espaço aos outros. O Blog não deixa de ser meu e quem não gosta escusa de cá vir, mas sinto-me só. Gostava de ler outras coisas, sem ter de ser em resposta aos meus posts.
E – E assim atenua-se o bloqueio criativo dos últimos dias?
 – Não se trata só de um bloqueio criativo, mas também passa por aí. O Corfebol não é assim tão extenso em temas que permita uma produção com o ritmo inicial deste sítio. Mas tem muito a ver também com questões pessoais e profissionais, que me impedem de pensar nisto tanto tempo quanto desejaria.
E – Mudando de assunto...
 – Antes de mudar de assunto, em relação a ter valido a pena, acho importante um pormenor que não sei se foi coincidência ou não. Fiz algumas sugestões, neste mesmo espaço, e passados uns dias, uma dessas sugestões está a ser adoptada.
E – A Meia-Maratona?
 – Isso mesmo. Eu sei que é uma ideia já antiga, e que várias pessoas já a discutiram, mas – das duas, uma – ou é coincidência, ou então alguém leu a sugestão e fê-la avançar. Nestas alturas, acho que vale mesmo a pena intervir, sugerir, agitar. E aí, ter um Blog é muito bom.
E – Mudando agora de assunto, o facto de ter acabado, entretanto, a página oficial da FPC, ajuda à audiência do Blog?
 – Acho que não. Quem vem aqui não deixaria de vir se houvesse página da FPC. Poderiam coexistir perfeitamente, sem transferência de leitores. O Fórum da FPC até podia ser uma boa forma de publicidade para o Blog.
E – Era bom regressar o Fórum?
 – Em primeiro lugar, era bom regressar a Página. O Fórum seria um acessório. Acho importante haver um Fórum, desde que as pessoas percebam que cada assunto tem o seu lugar para ser tratado. O Fórum da FPC foi palco de situações que já de si eram más e que ainda foram mais avolumadas precisamente por serem despejadas por esse meio.
E – E se o Fórum voltar... vai voltar com o Avô?
 – Não sei. Antes de acabar, já me tinha retirado. Mesmo antes de pensar em fazer um Blog. Acho que depende da forma como correr. Talvez dê um período experimental antes de entrar.
E – A pergunta mais esperada por alguns é: Quem é o Avô?
 – A pergunta certa seria “Quem está por detrás do Avô?”. O Avô é quase autónomo, é quase real. Por não ser 100% real, precisa de alguém que insira as suas palavras no computador, mas tem um conjunto de características de pensamento que o tornam próprio. As suas opiniões nem sempre coincidem com as de quem bate por si nas teclas.
E – Isso é possível?
 – Tão possível como estar a ser entrevistado por alguém que é tão real como eu. Quem massacra o teclado para debitar as questões é a mesma pessoa que o agita para libertar as respostas. No entanto, as perguntas querem mesmo uma resposta e as respostas sucedem-se às perguntas. Não é um texto fluido, escrito por uma só pessoa.
E – Então e quem é essa pessoa que bate nas teclas?
 – Não faz sentido revelá-lo, apesar de já haver muita gente que o sabe.
E – É assim tanta gente?
 – Algumas pessoas. Vivemos num mundo pequenito. Mas o mais giro é a quantidade de pessoas que julga que sabe e não sabe. Para isso, conto com cúmplices, daqueles que sabem, que não confirmam nem desmentem e levam a pessoa a dizer “ah!, então já sei que és tu”, e nessa inocente ignorância vão à sua vida.
E – Isso dá-lhe gozo?
 – Sem dúvida. É giríssimo discutir o Avô com pessoas que estão perdidas quanto à sua identidade.
E – É por isso que não é revelado esse nome?
 – Também por isso, mas não só. Há várias razões. Há uma liberdade grande para escrever quando não se tem essa escrita presa a um nome. O Corfebol português tem pouca gente e não há simples comentadores. Todos temos uma identidade muito agrilhoante no que diz respeito a opinar. Somos quase todos jogadores e a maioria das pessoas que têm algo de interessante a opinar são pessoas que são ou já foram treinadores, árbitros, dirigentes e que têm um clube marcado na testa. Isso não permite que o que se escreve seja lido de forma isenta. O Avô é livre de criticar quem queira, desde que o faça com correcção. A pessoa por trás do Avô não terá concerteza essa liberdade.
E – Por último, uma provocação... Tem mesmo alguma lógica fazer-se uma entrevista em que quem escreve as perguntas é quem escreve as respostas?
 – Nenhuma, mesmo.

Folha em Branco