Os 3 Porquinhos
A Assembleia Geral do Clube de Corfebol de Vale da Porca não foi pacífica. O excesso de equipas e praticantes no Clube, associado à regra limitadora de uma equipa por clube na Divisão principal, causava o problema de haver demasiados atletas com a frustração de nunca subirem à 1ª Divisão.
Ficou então deliberado, lá para a 7ª hora de árdua discussão, que se iriam enviar 3 dos mais promissores jovens do Clube a localidades vizinhas para fundar novos clubes, apadrinhados pelo CCVP. Atrás desses jovens, seguiriam decerto outros membros do Clube, desanuviando assim o funil que era a entrada na 1ª equipa (leia-se 1ª Divisão).
Cícero, Heitor e Prático - estes eram os seus nomes – caminharam juntos até à Encruzilhada dos 4 Caminhos. Se para trás urina a jumenta e só vai quem descobriu que se esqueceu do telemóvel em cima da mesa da sala, restavam 3 caminhos. E cada um tomou o seu.
Cícero alicerçou o seu Clube em jogadores insatisfeitos no CCVP. Ao fim de um ano, tinha uma equipa na 1ª Divisão e outra na 2ª, com bons resultados imediatos mas com dificuldade em jogar sempre com 8. Ao fim de dois anos, já só tinha a A, que desceu porque tinha de jogar com atletas de menos valia. Não tinha captado novos atletas.
Ao fim de três anos, debatia-se com a possibilidade de fechar portas e foi visitar o Clube de Heitor, para ver como este se safava.
O Clube de Heitor tinha apostado num treinador conceituado para a equipa principal e tinha aberto inscrições na comunidade para formar uma equipa jovem, de iniciação. Esta trocava de treinador todos os anos, e era normalmente alguém que tinha algum tempo e vontade de treinar, mas nenhuma experiência ou apoio. Os mais novos treinavam hora e meia por semana, longe dos mais velhos, que tinham 3 treinos semanais. Uns não conheciam os outros; não se motivavam mutuamente. Os jovens não evoluíam o suficiente para ir colmatando os abandonos dos seniores e, ano após ano, o clube foi definhando.
Cícero e Heitor foram visitar o seu colega Prático, para ver como é que ele tinha resolvido os vários problemas que, pelos vistos, surgiam na gestão de um clube.
“Vocês construíram casas frágeis, que ruíram ao mínimo sopro das adversidades. Tu, Cícero, fizeste um clube não mais consistente do que se de palha fosse feito. Era bonito no início, sim, tudo parecia fácil, mas não tinha futuro, porque não investiste em captação. Enquanto se foram mantendo os jogadores da nossa geração, as coisas foram-se desenrascando, mas o pessoal vai saindo e não havia quantidade nem qualidade para amenizar as faltas. Tu não pensaste no futuro e o presente foi tão fugaz que é uma mão cheia de palha largada ao vento. Tiveste o sucesso mais rápido de todos nós, é verdade, mas assim como subiste também caíste.
Tu, Heitor, pensaste um pouco no futuro, mas não lhe deste a prioridade merecida. Por isso, o teu Clube era da solidez da madeira. Resistiu aos primeiros sopros do abandono, mas não se aguentou em pé quando a tempestade insistiu em soprar. Não apostaste numa formação séria para os teus jovens. Não investiste na sua real integração no Clube e no Corfebol. Não adquiriram valias técnicas nem motivação para continuar.
Eu, vejam, tenho uma equipa A de onde não resta um único atleta dos que começaram este Clube, há 6 anos atrás. Sempre tive os melhores treinadores a trabalhar na formação. Pessoas com capacidade para motivar e, ao mesmo tempo, para desenvolver tecnicamente os jovens. Os melhores foram subindo de equipa. Os outros, encontraram sempre enquadramento em equipas secundárias. Vários foram sendo canalizados para outras funções (arbitragem, treino, dirigismo) e todos sentiram um forte envolvimento social. Todas as equipas se encontram nos treinos, para criar uma identidade de grupo. Todos se conhecem, todos vão aos jogos uns dos outros. Há jantares e fins-de-semana de Clube. A taxa de abandono é muito menor que as novas entradas.
Sim, é verdade que não subimos logo no primeiro ano à 1ª Divisão. É verdade que demorámos 5 anos a ser Campeões Nacionais. Mas hoje somos orgulhosamente um Clube em crescimento, sólido, cimento-tijolo-pedra que não cai com as tempestades. Ultrapassámos o Vale da Porca em número de praticantes e de equipas. Hoje somos nós que ponderamos a divisão em vários clubes satélites.
Vão, voltem aos vossos clubes, que ainda vão a tempo de rectificar as vossas falhas.”
E os dois porquinhos seguiram estrada fora, para dar fôlego novo aos seus clubes de Corfebol.
Ficou então deliberado, lá para a 7ª hora de árdua discussão, que se iriam enviar 3 dos mais promissores jovens do Clube a localidades vizinhas para fundar novos clubes, apadrinhados pelo CCVP. Atrás desses jovens, seguiriam decerto outros membros do Clube, desanuviando assim o funil que era a entrada na 1ª equipa (leia-se 1ª Divisão).
Cícero, Heitor e Prático - estes eram os seus nomes – caminharam juntos até à Encruzilhada dos 4 Caminhos. Se para trás urina a jumenta e só vai quem descobriu que se esqueceu do telemóvel em cima da mesa da sala, restavam 3 caminhos. E cada um tomou o seu.
Cícero alicerçou o seu Clube em jogadores insatisfeitos no CCVP. Ao fim de um ano, tinha uma equipa na 1ª Divisão e outra na 2ª, com bons resultados imediatos mas com dificuldade em jogar sempre com 8. Ao fim de dois anos, já só tinha a A, que desceu porque tinha de jogar com atletas de menos valia. Não tinha captado novos atletas.
Ao fim de três anos, debatia-se com a possibilidade de fechar portas e foi visitar o Clube de Heitor, para ver como este se safava.
O Clube de Heitor tinha apostado num treinador conceituado para a equipa principal e tinha aberto inscrições na comunidade para formar uma equipa jovem, de iniciação. Esta trocava de treinador todos os anos, e era normalmente alguém que tinha algum tempo e vontade de treinar, mas nenhuma experiência ou apoio. Os mais novos treinavam hora e meia por semana, longe dos mais velhos, que tinham 3 treinos semanais. Uns não conheciam os outros; não se motivavam mutuamente. Os jovens não evoluíam o suficiente para ir colmatando os abandonos dos seniores e, ano após ano, o clube foi definhando.
Cícero e Heitor foram visitar o seu colega Prático, para ver como é que ele tinha resolvido os vários problemas que, pelos vistos, surgiam na gestão de um clube.
“Vocês construíram casas frágeis, que ruíram ao mínimo sopro das adversidades. Tu, Cícero, fizeste um clube não mais consistente do que se de palha fosse feito. Era bonito no início, sim, tudo parecia fácil, mas não tinha futuro, porque não investiste em captação. Enquanto se foram mantendo os jogadores da nossa geração, as coisas foram-se desenrascando, mas o pessoal vai saindo e não havia quantidade nem qualidade para amenizar as faltas. Tu não pensaste no futuro e o presente foi tão fugaz que é uma mão cheia de palha largada ao vento. Tiveste o sucesso mais rápido de todos nós, é verdade, mas assim como subiste também caíste.
Tu, Heitor, pensaste um pouco no futuro, mas não lhe deste a prioridade merecida. Por isso, o teu Clube era da solidez da madeira. Resistiu aos primeiros sopros do abandono, mas não se aguentou em pé quando a tempestade insistiu em soprar. Não apostaste numa formação séria para os teus jovens. Não investiste na sua real integração no Clube e no Corfebol. Não adquiriram valias técnicas nem motivação para continuar.
Eu, vejam, tenho uma equipa A de onde não resta um único atleta dos que começaram este Clube, há 6 anos atrás. Sempre tive os melhores treinadores a trabalhar na formação. Pessoas com capacidade para motivar e, ao mesmo tempo, para desenvolver tecnicamente os jovens. Os melhores foram subindo de equipa. Os outros, encontraram sempre enquadramento em equipas secundárias. Vários foram sendo canalizados para outras funções (arbitragem, treino, dirigismo) e todos sentiram um forte envolvimento social. Todas as equipas se encontram nos treinos, para criar uma identidade de grupo. Todos se conhecem, todos vão aos jogos uns dos outros. Há jantares e fins-de-semana de Clube. A taxa de abandono é muito menor que as novas entradas.
Sim, é verdade que não subimos logo no primeiro ano à 1ª Divisão. É verdade que demorámos 5 anos a ser Campeões Nacionais. Mas hoje somos orgulhosamente um Clube em crescimento, sólido, cimento-tijolo-pedra que não cai com as tempestades. Ultrapassámos o Vale da Porca em número de praticantes e de equipas. Hoje somos nós que ponderamos a divisão em vários clubes satélites.
Vão, voltem aos vossos clubes, que ainda vão a tempo de rectificar as vossas falhas.”
E os dois porquinhos seguiram estrada fora, para dar fôlego novo aos seus clubes de Corfebol.