Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Temos Campeonato(s)!

Agora que vamos a meio (mais coisa menos coisa) dos nossos campeonatos, parece-me interessante olhar para o que se vai passando nas tabelas de resultados e classificações.
O grande destaque positivo tem de ser dado ao Carnaxide. Ambas as equipas começaram os respectivos campeonatos em grande força, assumindo, por algumas semanas, a liderança dos dois campeonatos. É verdade que, no caso da 2ª divisão, isso deveu-se ao facto de o LAC ter menos jogos, mas não deixa de ser interessante.
Neste momento, a segunda equipa do Carnaxide só perdeu pontos com o Carcavelos (empate) e com o LAC (derrota). Ganhou, inclusivamente, ao CCO B.

Na divisão principal, os amarelos e azuis começaram por bater todas as restantes equipas A, o que é digno de nota. A segunda volta já não correu tão bem, tendo-se Benfica e CCO vingado com vitórias e Bons Dias com um empate. O Benfica, aliás, já venceu o CCCD de novo, na 3ª volta, ontem.
O Benfica, pelo menos na prática, é o comandante actual do campeonato. Apenas perdeu o referido jogo com o Carnaxide e teve um empate com o CCO. O resto foram vitórias, intercaladas por duas prestações sem mácula na Europa Cup.
O CCO, teórico comandante, com um jogo a mais que os lisboetas, já deitou fora pontos com o NCB (um empate e uma derrota) e com o CCCD (uma derrota). Na 3ª volta, os jogos que vai fazer com estas duas equipas serão interessantíssimos para a definição do pódio desta fase regular.
É um trio escaldante. Temos campeonato!
Isolado, a fazer uma travessia do deserto, sem conseguir chegar acima nem se sentir ameaçado abaixo, vem o GD Bons Dias, vencedor da Taça de Portugal e Vice Campeão 2003/04. É a desilusão da temporada, justificando-se esse facto pela saída de alguns jogadores influentes e o parcial abandono de outros.
Parece-me que Bons Dias será sempre Bons Dias e, num clube desta dimensão, temos de pensar não numa queda mas numa pausa. Olhando para o excelente trabalho de captação que existe nesse clube, para as equipas de jovens que tem construído, não será difícil retomar a tradição ganhadora de um clube carregado de tradição e glória. Mas apenas a médio prazo, já que não me parece que este ano consiga mais do que tem feito. Até agora, o melhor que esta equipa conseguiu, foi um empate com o Carnaxide. As vitórias com as equipas B não são currículo a que um Bons Dias A possa dar relevo.
No entanto, os Play-Offs são uma parte muito peculiar da nossa estrutura competitiva e a maior experiência do clube de Odivelas nesse tipo de jogos pode ainda dar algum trabalho a quem vencer a fase regular e muito particularmente a quem, eventualmente, discuta o 3º lugar com esta equipa.
Lá para baixo, as equipas B jogam para o calendário. Não parecem ter capacidade para dar uma mordiscadela aos pontos das A e não jogam para a manutenção. Nem que ficassem em 2º lugar na 1ª divisão, tinham lá lugar para o ano, uma vez que esse privilégio está reservado a uma, e só uma, equipa por clube. Resta-lhes pensar num campeonato entre as duas. Para já, ao fim do 1º de 3 rounds, o NCB leva vantagem.

Na 2ª divisão, alegrem-se todos!, também temos campeonato!
Temos um LAC que não dá hipóteses. 10 jogos, outras tantas vitórias, acima dos 100 golos de diferença entre marcados e sofridos. A caminhada para a 1ª divisão é calma, restando a Taça para dar algumas emoções.
Do Carnaxide já se falou. Está num surpreendente 2º lugar. Não subirá à 1ª divisão, mas dá garantias de renovação para a 1ª equipa.
O Carcavelos ainda digere hoje uma surpresa amarga que lhe foi levada a casa pelo Odivelas. Ser a 2ª melhor equipa A parece ser um objectivo difícil de contrariar, mas convém não permitir muitas surpresas destas.
O Odivelas e a Batalha são as equipas que podem roubar a subida ao ex-Sassoeiros, mas já vão com demasiados pontos desperdiçados.
As 3 derrotas do CCO B (precisamente com os 3 primeiros da classificação) não estariam no totocorfe da maioria das pessoas. O actual 4º lugar tem um aroma algo decepcionante, mas será, a par com o CCCD, uma equipa que não sobe a intrometer-se no meio dos futuros promovidos.
A batalha das equipas C é ganha, sem grandes dúvidas, pelos Bons Dias. Benfica e CCO deixam-se arrastar pela base da classificação, com pontos perdidos para os previsíveis últimos – Bons Dias D e Odivelas B.

A Taça já só tem 8 equipas. Só metade é que são da 1ª divisão. Num jogo grande (embora isso não tenha ficado confirmado pelo resultado), o Benfica A eliminou já a sua congénere do CCO.
Para as meias finais, podemos contar de certeza com uma equipa de cada divisão. O CCO B pode desforrar-se do Carnaxide B e o Benfica B poderá tentar surpreender os Bons Dias A.
O LAC tem a sua prova de fogo e, apesar do pouco ritmo competitivo, pode fazer Taça frente ao Carnaxide.
Pelo 2º ano consecutivo, a equipa D do NCB, o mais parecido com Globetrotters que cá temos, esbarra com a sua primeira equipa e tudo indica que não vai brincar mais.

Nos jovens, os Bons Dias são senhores. Lideram os campeonatos de Sub 16 e de Sub 19. Mas atenção ao Odivelas. Este fim de semana, os Deuses estiveram lá para os lados do Arnaldo Dias e, para além da já falada vitória sobre o Carcavelos, conseguiram vencer o 3º torneio de Sub 19, equilibrando o topo da classificação do campeonato.

Ainda há quem diga que não vale a pena continuarmos por cá, a gostar disto, a vibrar com isto, a lutar por isto?
O Corfebol é bonito, minhas senhoras e meus senhores. O Corfebol em Portugal está vivo e recomenda-se!

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Homenagem

E se tivéssemos de nomear alguém para fazer alguma homenagem - para erigir uma estátua, para entregar uma medalha, sei lá, para dar o nome a um pavilhão;
Se tivéssemos que meter todos os nomes do Corfebol português numa tigela e desatar a mexer, baralhar tudo, para depois passar por um filtro e sair um só nome, unzinho só, uno, solitário... Tudo amassado, na tijela, novos com velhos, homens com mulheres, jogadores com treinadores, feios com bonitos, de todas as eras e de todos os clubes;
Como seria? Que critérios se usariam? Quem seriam os Top Of Mind (numa definição de marketing m uito rápida, aqules de quem nos lembraríamos em primeiro lugar)?

É difícil comparar papéis em contextos históricos totalmente diferentes. Quem fica para a História, normalmente, e se estas iniciativas existirem para que não seja a memória engolida pela mancha escura do esquecimento, quem fica para a História, dizia, são mais facilmente os pioneiros, aqueles que primariamente pisaram os solos que hoje outros há que cultivam. Comparar os méritos de quem edificou alicerces e de quem pintou as paredes é tarefa complicadíssima e, porventura, falha de necessidade.
Salientemos, pois, o nº 1 Godinho, que fez de tudo um pouco, desde jogar a treinar, desde apitar a dirigir, desde dar abrigo à administração a dar transporte aos viajantes. Salientemos o polémico Calado, que tirando gabinete e carrinha, de tudo um pouco também fez. Salientemos o actualíssimo Ferro, que foi mais renitente no uso do apito, mas no pisar do campo e no dominar do banco alcançou patamares de grande elevação.

E com 3 nomes me despeço, para já, com a certeza de que voltarei, de alguma forma, a este assunto.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Hawwa (*)

O Sr. Adão trabalhava na Pensão Paraíso. Trabalhar, trabalhar, não era bem o caso, porque não havia clientes. O Patrão dizia-lhe que não era ainda tempo e lá ia o Sr. Adão passando a existência a ver televisão.
Adorava desporto. Devorou o Euro 2004 (até tem uma bandeira de Portugal na varanda da pensão, apesar de ninguém a ver) e os Jogos Olímpicos. Nos intervalos mandava uma bola de trapos às paredes. Bem pedia ao Patrão para lhe arranjar companhia para jogar à bola, mas nada!
Até que um dia, num momento mais aceso do seu jogo solo, em que estava quase a ganhar a si mesmo, caiu e partiu uma costela.
O Patrão, que não gostava de desperdícios, da costela fez Hawwa, uma companheira para o Sr. Adão.
De início este não ficou satisfeito. Barafustou que não podia jogar com uma mulher, que estas só serviam para se pintarem, enroladas em bandeiras, para deleite dos realizadores de televisão.
Para além da costela, o Sr. Adão tinha dado cabo da cesta da fruta que, no lobby, eternamente esperava os visitantes inexistentes, espalhando a fruta toda pelo chão. Tinha também estilhaçado um candeeiro de pé alto, cuja luz, sempre apagada, aguardava até então por quem viesse.
O Patrão exigiu-lhe que se entendesse com Hawwa e que desse uso ao que estragara, em nome do não desperdício.
Adão e Hawwa acabaram por se tornar bons amigos. Inventaram um jogo em que ambos pudessem jogar ao mesmo tempo e prometeram que os seus filhos e filhas o jogariam sempre juntos. A cesta de fruta foi posta no topo do pé alto do candeeiro, para onde se deveria atirar a bola de trapos. Os cacos do candeeiro simbolizavam os prémios. Os prémios eram cacos para evitar a disputa excessiva pelos troféus, lembrando que a vitória é mais efémera que os bons princípios do desportivismo e da amizade.
Quando acabaram de escrever o regulamento desse novo jogo, sentaram-se a descansar. Hawwa viu uma maçã, ainda a um canto após o incidente com a cesta da fruta, e comeu-a.
E o estômago doeu-lhe.
E ainda hoje dói, às vezes.
E sempre que dói, algum dos seus filhos esquece a alegoria dos cacos e desdenha o Velho Regulamento, que muitos já querem substituir por um radical Novo Regulamento.

(* Hawwa – “a Mãe de todos os viventes”, em Hebreu)

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Nomes

Facto verídico: Um casal romeno que se conheceu na Internet, resolveu chamar Yahoo ao filho.
Que romântico!... Ao menos tiveram o bom senso de não lhe chamar Google.
Mas já imaginaram estes pais a chamar o filho no meio da rua? “Yahoo! Anda cá, filho”.
E como é que se repreende um fulano com esse nome? “Que feio que foste, Yahoo” fica tão pouco credível.
Não sei como é que é na Roménia, mas em Portugal inventaram-se os duplos nomes próprios, que só servem para 3 coisas:
1) Para baralhar – A um António Pedro a família chama António e os amigos chamam Pedro, por exemplo;
2) Para se poder escolher – Uma Joana Efigénia pode sempre ser a Joana e fazer de conta que a homenagem que os pais resolveram fazer a uma tia caquética e velha nunca existiu;
3) Para repreender – Aqui está a relação desta coisa dos dois nomes com esta história. Em Portugal, os dois nomes servem, acima de tudo para repreender. E isto é tão estabelecido na nossa sociedade, que não é preciso mais nada para enfatizar a repreensão. Basta dizer “Eduardo Maria” e o Eduzinho já sabe que vem daí raspanete.
Mas, mesmo assim, “Yahoo Filipe” ou “Manuel Yahoo” continua a não me parecer ríspido o suficiente. Acho que estes pais nunca vão poder repreender o filho. O que é justo, ou não fosse ele ser a homenagem viva ao meio como se conheceram.

Agora imaginem outros casos; outras homenagens idênticas:
Conhecem-se no McDonalds, chamam aos filhos Big Mac, Chicken McNuggets e Crispy McBacon;
Conhecem-se numa conferência de Biologia, chamam Lactobacillus Jensenii ao seu primogénito;
Começam a nomorar numa discoteca, baptizam a criança como Numanumaiei;
E por aí adiante.

Com tantos casais que se formam no seio do Corfebol, imaginem se a moda pega. Vejam lá esta conversa entre uma mãe e um filho:
- Ressalto, quem é que vais convidar para a tua festa de anos?
- A Assistência e o Poste, que são os meus amigos mais próximos. Talvez convide o Cesto, que anda sempre com o Poste, e também a Holanda, que é para mim um modelo, e a Bola.
- Não gosto nada dessa Bola. Parece-me que anda sempre a saltitar de mão em mão.
- Anda mas é toda a gente atrás dela, a querer ficar com ela. Ela não tem culpa.
- E os irmãos Defesa e Ataque?
- Não sei... Eles não se dão muito bem. Acho que não posso convidar os dois, mas também não devia privilegiar só um deles. É sempre um problema lidar com a Defesa e com o Ataque.
- Achas que o Cesto leva o irmão mais novo... como é que ele se chama?
- O Sintético?... Acho que não. É ainda uma criancinha e, para além disso, ninguém gosta muito dele.
- E o que é que queres que faça para a festa?
- Tostas Mistas!

Europa Cup

Parabéns ao NC Benfica!
O 3º lugar foi a melhor classificação que alguma equipa portuguesa já teve nesta competição. Os Bons Dias, em 2002, estiveram a um cesto de o conseguir, mas nunca tínhamos passado do 4º.
De 1988 a 1992, ISEF e Sangalhos ficaram sempre entre o 4º e o 5º.
Depois disso, só em 2002 (pelos Bons Dias, como já foi referido) é que se voltou a ter um 4º lugar.
O NCB, em 2001 e 2003, já tinha ido à Europa Cup, mas das duas vezes ficou em 7º.
Se exceptuarmos as duas vezes em que não conseguimos qualificação para a Fase Final (ISEF em 1997 e CCO em 2004), o 7º foi o pior que já conseguimos (5 vezes). Já tivemos um 6º, 6 5os, 3 4os e, agora, este saboroso 3º.
À 18ª participação, pode-se dizer que atingimos a maioridade em grande estilo.
Ficará sempre no ar uma questão: Será que, com outro sorteio, teríamos ganho aos belgas?

quinta-feira, janeiro 13, 2005

A Ambição de Pedro

O Pedro tinha a mania que ainda era o jovem Pedro que andava nas discos um bom punhado de anos antes. Ia disfarçando a artrite com uns lenços atados à cabeça, com pinta de corsário, mas não era a mesma coisa.
Então, ouviu falar de uma coisa chamada Corfebol e leu um texto, de um Avô que parecia ser jovem, em que esse desporto dominava tudo. Como aparecer nas revistas era a coisa de que mais gostava a seguir a ser jovem (depois vinham as mulheres, mas isso era consequência das outras duas), juntou um mais um e resolveu ir para a selecção nacional de Sub-23.
Documentou-se e descobriu que, para pertencer a essa selecção, tinha de se lesionar. E resolveu dar tiros nos pés. Ficando pior que o Carlos Faria, podia ser que o Mister olhasse para ele.
O primeiro tiro que deu foi mandar fazer uns cartazes em que aparecia (aaah!, como é bom aparecer!...) junto a alguns notáveis, tão “ex” como ele quase é. Mas esqueceu-se de lhes pedir autorização. Ainda por cima, um dos notáveis, mais preocupado com o seu futuro enquanto talvez-Presidente, do que com o seu passado enquanto Primeiro-Ministro e líder do PSD, resolveu contestar e mandou retirar a sua face de perto da do pobre Pedro.
Dado o primeiro tiro, avançou para o segundo. Convidou para 2º lugar de uma lista alguém que não podia cheirar o nº 1 nem besuntado de molho de ostra. É como pôr um gato e um cão dentro da mesma gaiola. É como deixar certas pessoas do nosso Corfebol fechadas numa sala pequenina.
Ninguém percebeu, claro, estas opções no mínimo reveladoras de incompetência, porque a razão obscura para tanto desvario era a ambição de jogar nos Sub-23 e ser um jovem de novo. Isto só se veio a revelar uns anos mais tarde, num livro chamado “O Código Do Santana”.
Mas, mesmo com os dois pés furados, qual Cristo na cruz, o Mister parecia que não o via. Resolveu continuar aos tiros, mas agora na cabeça. Para isso, pediu ajudar ao Mogais Sagmento. Fiel à sua dama, lá foi o Sagmento a África, mergulhar ao Sábado, à procura de petróleo que o Ministro do Petróleo não sabia que existia, num avião que não é dos nossos... enfim, uma trapalhada que incomodou o Pedro mas não o pôs na Selecção.
Para reforçar, o Mogais ainda se quis demitir de um Governo demissionário que já estava tacitamente demitido pelo Presidente. Três vezes demitido, ainda lá está. Chiça, bicho ruim, que nem com três balas no bucho o animal morre!
Ouvidas estas últimas palavras, o Mister Ferro convocou o Mogais Sagmento para os Sub-23.

Vêm aí os Vermelhos!

O Sampaio está na China.
Não se deve sentir muito deslocado, entre pastéis de nata e ex-maoístas convertidos ao capitalismo. Aliás, este segundo item de pastelaria existe cá em tão grande quantidade que até já exportamos para a União Europeia.
Para estas viagens, o Presidente leva sempre com ele representantes do sector económico. OK, compreende-se, mas porque é que não levou também o Vasco?
Anda toda a gente alvoraçada com a questão dos têxteis. Percebe-se. Mas então e nós? E o Corfebol? Será que o Presidente não vê a ameaça que aí vem?
Só se preocupam com a invasão económica, mas não olham para a invasão corfebolística. A IKF não descansa. Canalizaram todos os seus recursos para converter os amarelinhos. E se o Ben Crum encontrar lá um campo de golfe, então aí não vão querer mesmo outra coisa.
Já não nos bastava a sempre difícil relação com os chineses da Formosa/Taipé/Taiwan. Ao menos, com a China-China, a RP, não há o problema do nome, que no caso dos vizinhos ilhéus até faz lembrar o Ceilão/Sri Lanka/Taprobana. Mas já viram agora haver mais um contingente de olhos-em-bico a pôr-nos a nós os olhos trocados? Ainda por cima, com o empenho sem fundo dos amigos holandeses. E o Sampaio não olha para isto!
O Taipé Chinês tem aquela árbitra pequenina, simpática, sempre a sorrir, que parece um Pokémon (dos bons). Já imaginaram um árbitro da RPC? Deve andar sempre com o livrinho vermelho na mão, à laia de cartão mas com muito mais substrato.
E se as lojas dos chineses de juntam e fazem um clube? Ainda vamos jogar contra o “Loja dos Chineses Z”. E depois vem o clube dos restaurantes e temos os campeonatos todos cheios de amarelos.
Doutor Sampaio, olhe para nós, por favor.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Introspecção

Desprende-se a etérea matéria do mais volátil do Ser e acomoda-se nas frestas que o espírito entrevê. Consolida-se e, a meio do percurso, massa informe mas laborável, cria as pontes onde o vazio existia e unifica o Universo, que regressa à sua forma natural, ao seu originário Futuro.
E desta forma dedica-se uma entidade a construir o que vê como Melhor dentro do Todo de algo que Ama. E desta forma o Sonho do Eu edifica o Ideal, que o é para Mim e portanto o deverá ser para quem Me não seja. Utopia Egocêntrica? Claro! A cada qual o seu referente, desde que o Meu seja o Real.
E porquê o Corfebol para alvo da consolidação do Volátil, para Edifício a merecer o esforço da Unicidade primeva?
Dirão os cépticos recantos da Mente, essa que tanto discute consigo mesma, que o acaso se encarregou de fazer chocar o percurso de vida individual com o percurso de desenvolvimento da Entidade Corfebol. Dirá o conjunto maioritário de Delegados ao Congresso dos Recantos da Mente que o Destino colocou frente-a-frente ambos os percursos não como um desígnio decorrente da sua actividade de Destino, mas antes que esse frente-a-frente foi, de per si, condição sine qua non para a consumação do Destino enquanto tal e, mais ainda, dos próprios percursos, que são causa e efeito de si mesmos. E no dito Congresso o Sonho saiu Vencedor, com uma coisa estranha de entender a seu lado, chamada Corfebol. E é isso que aqui faz um Avô, e é disso que se faz o Avô, que sem o primado do Sonho/Corfebol não havia Avô e sem Avô não havia o Corfebol como o Vejo.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Este Mundo em que (não) vivemos

Filipa era uma pessoa pacata, quase sempre fechada em sua casa, onde vivia sozinha com um peixe dourado e um álbum de fotografias. Tinha um emprego banal de escriturária, um apartamento banal nos subúrbios, uma vida banal.
Nessa manhã algum cheiro no ar a alertou para um dia diferente. Não sabia ainda em quê, mas tudo apontava para um ruptura com a rotina.
Ainda se espreguiçava e já o estridente retinir da porta a chamava a vestir o roupão à pressa. É impressionante como a campainha pode ser particularmente irritante logo pela manhã. Parece que os minúsculos duendes que a habitam não toleram que as pessoas ainda durmam quando eles já estão a desempenhar a sua função de guinchar que alguém está à porta.
Arrastando-se, num misto de revolta e apreensão, Filipa destravou as fechaduras – no plural, que o bairro não é para brincadeiras – e encarou duas velhinhas simpáticas, muito sorridentes, com umas revistinhas nas mãos, que lhe perguntaram de chofre o que era para ela a Vida. Pergunta atrás de pergunta, entre os “tenho mesmo de me despachar; já estava de saída” e os “não lhe tomamos mais de 5 minutos, minha menina, e vai ver que o Tempo é algo tão relativo se o compararmos com o que de bom a Vida lhe pode trazer”, lá chegaram ao “conhece o Corfebol?; sabe o que Ele pode fazer pela sua Vida?”. Que não, que não conhecia, nem tinha tempo para conhecer, que tinha de se despachar para ir à vida – assim mesmo, com minúscula, de tão banal que era. Ficou lá uma revistinha, a explicar o que era isso do Corfebol e as coisas boas que traria àqueles que O abraçassem. As senhoras prometeram voltar noutro dia, para saber o que Filipa tinha achado da revista. Filipa pôs o sorriso amarelo nº 15 e pensou de si para consigo que não lhes abriria a porta, benditos sejam os olhos mágicos que nos permitem fingir que não estamos em casa.
Atrasada, irritada, ligou o rádio enquanto se vestia. As notícias falavam de um qualquer Kees Rodenburg que tinha renovado o contrato de treinador com a Selecção Nacional. “Logo tinha de apanhar o Desporto! Farta de futebolices estou eu!”; sem disposição para mudar de canal, apagou o aparelho com o estrondo da irritação.
A correr, apanhou o comboio com as portas já a fechar e não conseguiu lugar sentada. Apertada entre outros maus humores matinais, dedicou-se ao passatempo diário de procurar uma revista para ler por cima do ombro do legítimo proprietário. Tinha duas ao alcance do olhar. Uma entrevistava Ana Correia, acabada de ser expulsa da Quinta das Celebridades, que dizia que a vitória final seria discutida entre a Joana Faria e o Vítor Machado. A outra, para além de ter também uma crónicas da Quinta, em que a mesma Ana Correia dizia que “lá dentro é só joguinhos”, trazia fotos do casamento da Alexandra Silva com o Luís Simões, perante 400 convidados íntimos.
Quando passou pelo quiosque, deu uma vista de olhos pelas primeiras páginas. “Clubes de Corfebol pedem isenção no IVA” (DN), “Jogador do NCB jantou com cunhada do advogado de Carlos Silvino” (24 Horas), “Desfeito o Tabu: Vanessa Neves não se vai candidatar à Câmara de Oeiras” (Público), “Começa hoje a promoção Heróis à Mesa – grátis a caixa e um garfo em prata assinado pela Carla Antunes” (Correio da Manhã), “Malcata antecipa o Derby de Domingo – ‘O Carnaxide está mais forte’” (Record), “Lesionado - Simão David de fora do jogo da Taça” (A Bola).
No escritório, o tema de conversa entre os homens era a crise directiva no LAC. Arnaldo Costa, principal financiador do clube, apoiava a lista B, o que os colegas de Filipa consideravam uma tremenda facada nas costas do candidato Berjano. Reunidas numa secretária, em torno de uma revista, as mulheres chamaram Filipa para integrar uma sondagem interna em que se pretendia saber qual era o melhor rabo dos homens da selecção nacional de Corfebol. Assustada, Filipa correu para o WC, alegando má disposição súbita, enquanto tentava pôr em ordem as ideias.
Recapitulando: Tinha acordado sem nunca ter ouvida falar de tal coisa, e agora o Corfebol dominava o mundo. Sentada na sanita, inalou o WC Pato com tanta força tinha, para refrescar os neurónios, mas as ideias confusas continuaram lá, entrechocando-se, absurdas.
Decidiu não dar parte de fraca, não fosse passar por louca num mundo que parecia, ele sim, totalmente virado do avesso. Iria entrar no jogo, fosse ele qual fosse, e reconhecer isso do Corfebol como algo de existente, importante, interessante, primordial, fundamental, vital...
Mas sem exageros! Aceitar o convite que um colega lhe fez para ir essa noite ver o último do Spielberg, “Nico”, com Tom Hanks no principal papel, até lhe pareceu uma ideia gira para fugir à histeria do Corfebol, até perceber que a história era sobre o criador dessa enigmática modalidade. Declinou enjoadamente.
À hora de almoço, a TV do restaurante dava destaque à notícia de última hora: o Secretário de Estado dos Desportos, Vasco Condado, tinha convidado Paulo Oliveira para Presidente do Instituto do Desporto. Em rodapé, passava um número de conta solidária para quem quisesse ajudar à reconstrução de um pavilhão ardido na Holanda.
No café onde ia sempre beber a bica e mordiscar um pastel de nata a seguir à refeição mediodiana, um puto extasiava de alegria. Saltava e gritava como se tivesse ganho o Euromilhões. Tinha comprado umas carteirinhas de cromos e, entre um Rafael Rosa, uma Marta Castela, um Bruno Patrocínio, um Pedro Vinagre, um Miguel Costa, uma Mariana Pimentel, uma Irene Inácio, um Rui Correia e uma Carine Agostinho (todos repetidos!), tinha vindo finalmente um Bruno Figueiredo! A colecção estava quase no fim.
No caminho entre o café e o escritório ainda teve tempo para ser abordada por um candongueiro argelino, “óculos escuros?... são iguais aos da Rita Gonçalves; um telemóvel que toca o hino do CCO? uma cópia que nem se nota que é pirata do Korfball Manager IV para a PlayStation?... relógios da moda, com os emblemas de todos os clubes de Corfebol... vá lá, menina, leve qualquer coisa... um equipamento da selecção para um sobrinho, é quase de...”, mas nem teve tempo de acabar, “miúda maluca, pôr-se assim a correr feita doida. Ele há com cada um...”.
A tarde custou a passar. Discutiam-se casos de arbitragem do Fim de Semana. Tentou ligar o rádio, para não ouvir os colegas, mas os EnaPá 2000 cantavam “Corfebol na Banheira é Bom – é bom para a mamã, é bom para o papá, olha para eles, como se divertem”. Desligou e concentrou-se no trabalho, com pouco sucesso.
Quando dois jovens entraram no escritório a vender calendários, sentiu o prazer do dejá vu. Todos os anos, por Janeiro, os escuteiros iam vender um calendário de parede, que ficava todo o ano pendurado no escritório. Algumas pessoas até os levavam também para suas casas. Mas aqueles jovens, afinal, não eram escuteiros. Eram da “Escolinha de Arbitragem Jorge Alves” e andavam a angariar fundos para fazer um estágio na Bélgica.
À beira de um ataque de nervos fugiu para casa mal o relógio do patrão o permitia, sem sequer se despedir dos colegas. Pelo caminho, não olhou para revistas, fechou a mente às conversas de transporte público, isolou-se o mais possível de tudo o que a rodeava, que é como quem diz, do Corfebol.
Chegou a casa e correu a subir as escadas. Nem ouviu a porteira gritar-lhe qualquer coisa sobre um tal de Alexandre Magalhães que ia jogar para a Batalha. Quando a luz do patamar do seu prédio deixou de luzir reflectida na chave, por via de esta penetrar o escuro da fechadura, quando a isso correspondeu o som metálico do trinco a rodar, Filipa só pensava no Lar Doce Lar que a esperava, limpo da invasão corfebolística que assolara o mundo lá fora.
Entrou, deitou fora a revista da madrugada, sem sequer a olhar. Desligou o telefone, não fosse alguém telefonar-lhe e abrir logo com a conversa inevitável do Corfebol (“será que a minha mãe também apanhou o vírus que por aí anda?... é melhor nem saber”), ou então ligarem-lhe de uma operadora de telefones qualquer a perguntar se faz muitas chamadas para os países onde há Corfebol. Bom, desligado não a chateava, esse vil portador dos podres exteriores.
Deixou-se cair no sofá e, gesto imediato, ligou a televisão. É o hábito; uma pessoa nem pensa no que está a fazer quando carrega no botão do comando. É o primeiro passo para a alienação frente ao Deus-televisor. Então quando o cansaço ou o desespero afligem, não há melhor que a alienação. Mas não nesse dia! Esqueceu-se, nesse dia, que a TV era também um canal que lhe atirava o exterior para o recato da casa, e o cansaço e o desespero era daí que vinham.
Ainda arriscou um zaping, mas arrependeu-se rapidamente. Um canal dava um debate em que os comentadores permanentes (Catarina Miranda, Fernando Pinto e Bruno Noronha) diziam ao moderador Mário Godinho o que pensavam da nova lei de transferências. Outro dava um documentário em que Jorge Calado passeava pelos corredores da Luísa de Gusmão enquanto lembrava como tinha constituído a primeira equipa de Corfebol em Portugal. Filipa ainda se deteve um bocadinho nos Morangos com Açúcar, mas foi só até os jovens protagonistas saírem da escola e irem a correr de entusiasmo para o... treino de Corfebol. Até a um dos canais para adultos recorreu, mas estava a dar o “Orgia no Balneário”, um clássico do corfoporno. Por piada, ainda foi ao canal desportivo, à espera de uma ironia, mas jogavam, em directo, o Odivelas B e as Doroteias, num particular.
Gritou, deixou sair um som a que nunca a sua vida banal e desinteressante tinha assistido. Em desespero, lançou-se da janela da cozinha e esperou que voar de um 5º andar a fizesse acordar daquele pesadelo. Fechou os olhos e aguardou o baque.
Como o baque não viesse, abriu ligeiramente os olhos, mesmo a tempo de ver uma bola a ir na sua direcção. Estava sentada dentro de um cesto de Corfebol, com um jogo a decorrer.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

O Barco II

O Almirantado resolveu afundar o barco (E12 - Porta-Aviões ao fundo). Prenda de Natal (tardia para muitos, envenenada para outros).
Logo na altura em que o Avô tinha escrito o nome do seu Blogue nas velas, para que os navegadores captassem a publicidade. Ora bóias!