Blog do Avô

O Primeiro Blogue sobre Corfebol (mas não só) em Portugal!

quarta-feira, junho 29, 2005

O Pequeno Príncipe

Antoine faz hoje anos. 105 desde que nasceu. Mais de metade destes aniversários fê-los fora do conceito adulto de vida, mas nunca morto, que as crianças não morrem nem deixam morrer enquanto um Principezinho as velar e fizer sonhar.
O aniversário do aviador Antoine faz-me lembrar uma frase, “Desenha-me um carneiro”, que remeto para um “escreve sobre a minha viagem”. Mal o Antoine sabe quem sou eu, mal o Petit Prince sabe o que é isto do Corfebol. Portanto, a remissão é abusiva, mas cumpro-a... porque sim!
E penso no Corfebol, como sempre. Mais abusivo, talvez. Seja.

O rei do primeiro planeta visitado pelo não-adulto. O patético imperador de um reino sem súbditos, como ter cargos pomposos numa modalidade sem pessoas? Ou o sábio regente que não admite recusas à sua autoridade, simplesmente porque a exerce em função da ordem real das coisas, como o dirigente que toma decisões realistas?
O vaidoso do segundo planeta. O autista emproado que só ouve elogios, como o fundamentalista clubístico para quem todas as críticas negativas são fraudes ofensivas? Ou o positivo que só quer reconhecimento, como o ciberviajante que não responde a provocações e procura o lado bom do seu desporto?
O bêbado do terceiro planeta. A atitude pescadinha-de-rabo-na-boca, como o atleta refilão que refila porque as coisas correm mal porque está a jogar mal porque está mais preocupado em refilar? Ou o recatado quem tem vergonha do que não é feito e que não faz porque é recatado?
O homem de negócios do quarto planeta. O não-sonhador que só pensa em lucro, como o treinador que só vê vitórias e se esquece das voláteis coisas boas da vida? Ou o sonhador oculto por números que, afinal, quer as estrelas, como quem só queria que alguém oferecesse o produto do Euromilhões ao desenvolvimento do Corfebol?
O acendedor de lampiões do quinto planeta. O legislador cego, como quem aplica leis a situações de um mundo pequeno com o mesmo zelo com que o faria em actividades profissionais? Ou o coerente pensador, como o que democraticamente exerce o poder exarado dos livros, sem olhar a cores e credos?
O geógrafo do sexto planeta. O planificador que faz projectos e aguarda que outros os executem, como o responsável federativo que apresenta papéis e se esquece de verificar a sua execução? Ou o lançador de ideias, o captador de indícios, como quem traça os caminhos a seguir e esses puxam a actividade pelas rédeas da qualidade?
E ao sétimo planeta chegou a Terra.
E na Terra a serpente resolvia enigmas, mesmo os mais intrincados, como as parábolas do Avô. E no deserto havia uma flor, que se orgulhava das suas raízes, assim como se fosse um corfahólico assumido. E nas montanhas conheceu o eco, que era parecido com as formigas que, vestidas da cor de um clube, alinham ordeiras e sem contestar no carreiro da opinião vigente e ditada pelos seus mestres. E descobriu as rosas, muitas rosas, tantas rosas que o saber que a do seu planeta não era a única o fez sentir como o pessoal que vai à Holanda e descobre que isto, afinal, é praticado por uma multidão de carolas. “E foi então que apareceu a raposa”, que lhe ensinou o significado de cativar, “apprivoiser” no original, tão difícil de traduzir como de conseguir, mas tão próximo de nós, corfadictos, e do que sentimos pela nossa modalidade. E cruzou-se com o guarda-chaves, que não sabia o porquê do que fazia, como os treinadores em início de carreira que são abandonados com um modelo de treinos e pouca explicação dos porquês. E não comprou pílulas de não-sede ao vendedor de pílulas, tal como não compraria pílulas que tornassem desnecessário o exercício físico, de tão revigorante que é o cansaço, por muito paradoxal que isto se vos apresente. E, em pleno Saara, encontrou um aviador caído dos ares, um Saint-Exupéry mal disfarçado, que hoje faz anos.
Parabéns!

segunda-feira, junho 27, 2005

Um Conto Fora de Época (parte III)

“Futuro que era brilhante / Embaciou-se a pouco e pouco / Os passos ficaram lentos / Dando certezas de louco” (Xutos & Pontapés)

Jack não quis dormir. Esforçou-se para se manter acordado. Sentou-se numa cadeira ao lado da cama, pegou num bloco e rabiscou uns desenhos espontâneos, em que não tardou a verificar que se revelavam cenas dos seus encontros com os dois primeiros espíritos. A visita do Espirito do Corfebol Futuro atormentava-o, aterrava-o. O medo superava a curiosidade.
Mas o sono venceu-o. Consta que, lá no sítio em que as divindades se encontram com os seres sobrenaturais, o Morfeu tem uma relação próxima com os Espíritos. Vão tomar uns copos juntos e, enquanto o Morfeu não adormece, coisa que acontece sempre lá para a 3ª ou 4ª caneca, os Espíritos costumam pedir-lhe uns favores. Normalmente, pedem-lhe para derrubar as barreiras que alguns humanos atormentados colocam à chegada do sono. Os Espíritos nem sempre se revelam durante o sono, mas é o mais comum, dada a vulnerabilidade dos humanos nesse período particular.
- Olá, Jack.
O Espírito do Corfebol Futuro era de uma figura austera, rigorosa, o tipo de pessoa que escolheríamos para contabilista das nossas empresas. Jack tremeu, ia começar a gaguejar, mas nem isso conseguiu. Ficou firme e hirto como uma barra de ferro, sentindo os músculos tensos de pavor.
- Vamos lá então ver algumas pinceladas do Futuro – o Espírito estava bem disposto, apesar daquele ar impenetrável. Jack seguiu-o, sem perceber como. O cérebro não comandava o corpo.
Clarisse, uma jovem, chorava compulsivamente sentada na secretária do seu quarto.
- O que é que pensas da Clarisse, Jack?
- É uma miúda que joga nos Stairways. O Corfebol é a única vida social que tem. Este ano deu em árbitra.
- É má árbitra?
- Não é pior que outros que por aí andam. Até nem é má, para quem começou este ano.
- Então porque é que é massacrada por ti quando joga contra as tuas equipas e pelo Man-O-Corf, nos fóruns?
- Porque é influenciável e se não for eu a influenciá-la em meu proveito, vão ser os da outra equipa a fazê-lo em proveito próprio. É desporto, é simples. Quanto aos fóruns, é só para picá-la. No outro dia ela apitou um jogo nosso e perdemos um jogo que não estávamos à espera de perder. Foi por 7 ou 8, e acho que não foi por causa dela, mas escrevi na net que tínhamos sido roubados porque assim limpamos um bocado a má imagem que fizemos nesse jogo.
Jack não percebia como lhe saíam as palavras sinceras. Queria dizer o que sempre dizia, o que diria a outra pessoa qualquer, que a Clarisse os tinha mesmo roubado descaradamente, mas a presença do Espírito exercia sobre ele uma estranha influência. Era como se tivesse engolido uma dose considerável do soro da verdade.
- Posso-te resumir o que é que se passou depois desse jogo, no teu futuro. A rapariga tentou defender-se na net, contra alguém que não sabia quem era, e quanto mais se defendia mais tu a atacavas. Entraste na vida pessoal dela, achincalhaste-a, baixaste ao ponto de referir a toxicodependência do pai dela...
- Não pode ser!
- Pode, pode. Uma coisa como “Tu entras para os jogos como o teu pai sai da Silver Street, quando lá vai buscar a dose diária. Quem sai aos seus não é de Genebra, eheh!”. Entraste numa espiral da qual não consegues sair, Jack. Criticas o que deves e o que não deves, como deves e como não deves, onde deves e onde não deves, quem deves e quem não deves... Olha aquela rapariga. Está a escrever um mail ao treinador a dizer que nunca mais joga. Já tinha desistido de apitar, por causa da forma como foi tratada por ti no último jogo, mas agora nem sequer consegue encarar os colegas.
- Ela até nem é má jogadora...
- Achas que isso interessa para quem tem a vida destroçada e via no Corfebol o seu escape? Achas que isso a vai fazer esquecer que os colegas a olham de lado por ter um pai toxicodependente?... Não consigo ver muito além, mas algum colega meu que tenha esta moça a seu cargo vai ter muito trabalho para lhe prolongar o futuro. Tu podes ter acelerado o fim da Clarisse, Jack.
- Mas eu não queria tal coisa, tenho a certeza. Eu, ou o meu eu do futuro, só queria defender a minha equipa. Eu tenho uma grande devoção pelo meu clube, Espírito, acredita que tenho.
- Gostavas que o teu clube tivesse os melhores jogadores?
- Claro. Estou a treinar um, o Leyton, que é muito bom. É internacional sub-19.
- Por causa da tua obsessão com o Leyton, esqueceste o Felix, que treina com um empenho fora de série. O Felix saiu da equipa, porque nunca o punhas a jogar e descarregavas sempre nele o que corria mal nos treinos e nos jogos.
- Acredito que isso venha a acontecer, sim. Mas, como tu disseste, eu quero mesmo é ter os melhores jogadores e o Felix não o é, decididamente.
- Mas olha para aqui.
- Um treino dos Red Urbans. E então?
- Olha aquele de t-shirt azul.
- É o Leyton! Traidor! Depois de tudo o que fiz por ele! Ei, e aquele ali não é o Felix?... A treinar na equipa A dos Red Urbans?
- Sim senhor. O Felix foi para lá e conseguiram puxar por ele, melhorar as suas competência técnicas. É a revelação do campeonato. Tudo porque mereceu a atenção da treinadora. E mereceu-a por causa do empenho que demonstrava, que foi uma coisa que tu ignoraste. O Leyton foi para lá por sugestão do Felix. Sabes como se davam bem. Queixou-se de que tu não eras um modelo para os jovens, sempre a protestar com os árbitros, e que só te preocupavas em ganhar os jogos e não em formar jogadores.
- É pena. Tinha grandes planos para aquele rapaz. Mais dois anos a treiná-lo...
- Não valia a pena. Daqui a dois anos... queres ver?
- Claro; estou curioso, agora... A jogar computador? Nunca gostei nem tive tempo, com o Corfebol.
- Saíste do Corfebol. Quando a Federação entrou em crise directiva só sabias criticar tudo e mais alguma coisa. Foi pedido apoio a todos e tu não só te recusaste a ajudar como fizeste tudo para que ninguém do teu clube se envolvesse. Entretanto apareceu um grupo disposto a agarrar na Federação e tu disseste que se alguém do teu clube se juntasse àquela “farsa”, como lhe chamavas, tu saías do clube. A Katty foi tesoureira da nova Direcção e tu ameaçaste sair.
- E saí?
- Por tua vontade, não. Amuaste e ficaste à espera que te fossem chamar, quando começou a nova época. Querias voltar só a pedido dos teus colegas, para saires por cima da situação. Mas ninguém te chamou. Quando achaste que já era tempo demais e que ias engolir o sapo, foste ao pavilhão e disseram que os treinos já tinham começado e que, para jogares, tinhas de começar na equipa D. Não aceitaste e foste-te embora.
- Tentei ir para outro clube?
- Achas que alguém te iria aceitar, depois de dizeres mal de tudo e todos?
- Saí do Corfebol?... Tão cedo?... Mas isto é a minha vida, seja a Cigarra ou seja a Formiga, eu preciso do Corfebol!
- Pois é, mas chega uma hora fria de Inverno em que as formigas fecham as portas às cigarras. A não ser àquelas cigarras que, por um bocado, esquecem as canções e arregaçam as mangas. Este mundo que é a tua vida tem sido construído por muitas formigas laboriosas, sempre à espera que os Man-O-Corf emprestem um bocadinho da sua energia para a edificação de uma estrutura comum, de que todos beneficiam.
- Tenho medo de não conseguir. – a abrupta sinceridade assustava-o – Cheguei a pensar ser dirigente do meu clube, mas sabia que ia ter de tomar decisões polémicas e que iria ser criticado. Para além da preguiça, confesso. Sim , tenho medo e sou preguiçoso; não sou aquilo que apregoo. Quero jogar Corfebol, mas gostava de ter coragem, competência e força de vontade para dar mais de mim à modalidade. Gostava de aprender mais sobre ser treinador, gostava de experimentar ser árbitro, gostava de ajudar a direcção do meu clube e também a Federação. Gostava de me envolver positivamente, de escrever na net o que vai bem e não me limitar aos podres da modalidade. Gostava de não ter a tendência para inventar esses podres quando não existem... Mas agora é tarde. Agora sou um domodependente agarrado a jogos de computador. Dei cabo da minha vida, Espírito.
- Talvez não. Não te esqueças de que estamos a falar do Futuro. O Futuro não é mais do que um infinito conjunto de possibilidades, que são determinadas pelo Presente.
- Assim como no “Regresso ao Futuro”, do Spielberg?
- É mais como os Trilhos Temporais Paralelos, do Walter Tevis. A História está constantemente a subdividir-se em diferentes trilhos temporais. Se hoje, ao meio-dia, decidires comer uma bolacha, daí a 1 minuto haverá um Jack a comer uma bolacha. Mas também haverá outro Jack, que um minuto atrás decidiu não comer a bolacha, e que estará no mesmo espaço e num tempo paralelo (igualmente ao meio-dia e um de hoje) a lavar uma maçã para roer.
- Quer dizer que posso mudar o meu futuro?
- Não. Quer dizer que o Jack sentado a jogar computador vai existir, mas que outro Jack poderá evitar essa situação. Tu podes construir essa variante. Está nas tuas mãos, Jack.
- Eu quero. Quero ser outro, a partir de hoje. O que é que posso fazer por isso, Espírito?... Espírito?... Espírito, onde estás?
O Espírito do Corfebol Futuro deixara de fazer sentido num contexto Presente. Jack não sabia se tinha acordado de um sonho ou se tinha, por artes mágicas, sido de novo atirado para a cadeira ao lado da cama. Estava lá, sentado, e lembrava-se nitidamente de todas as visitas que tivera. Só não conseguia perceber se tinham sido reais ou não.
Mas pouco interessava. Levantou-se com uma energia que já não experimentava desde as madrugadas dos seus aniversários na meninice. Saltou para o computador, ligou-se ao fórum onde costumava debitar insultos e escreveu, sob o pseudónimo de Man-O-Corf, “O meu nome é Jack Kulker e esta noite a minha vida mudou...”
O texto que escreveu, em que pedia desculpas a todos os que tinha ofendido e se mostrava disponível para colaborar humildemente com todos quantos quisessem fazer algo de positivo pelo Corfebol, tocou fundo a comunidade corfebolística e o benefício da dúvida foi dado a Jack, mesmo pelos que o viam com os piores olhos. Foi Vice-Presidente do seu clube e Secretário da Mesa da Assembleia Geral da Federação. Aproximou-se de Clarisse e acabaram por apaixonar-se, tendo Jack sido a força de que ela necessitava para ultrapassar as agruras da vida.
Jack foi o Coordenador da Comissão Organizadora do Campeonato do Mundo de sub-23 e acabou por receber um Prémio Especial da Federação pelo trabalho exemplar que desenvolveu nesse evento. Foi numa Gala anual da Federação e, quando subiu ao palco, os aplausos envolviam as faces de tantos que antes só lhe inspiravam rancores e ódios. Na fila da frente, Clarisse. Ao fundo, discretos, os 3 espíritos piscavam o olho a Jack e apertavam as mãos entre si, antes de voarem pela janela fora com o dever cumprido estampado na cara.

quarta-feira, junho 22, 2005

Um Conto Fora de Época (parte II)

“Embrenhei-me neste assombrado livrinho para acordar o espírito de uma ideia. Que ele não ponha o leitor de mal consigo, com os outros, com o tempo ou comigo. Que ele invada agradavelmente a sua casa e que ninguém sinta o desejo de o pôr de lado.
O vosso amigo e servo fiel, C.D.” (Charles Dickens)

- Sou o Espírito do Corfebol Presente. Já estavas à minha espera.
E sem perder tempo, voaram janela fora. Aterraram na manhã desse dia, na Sala de Professores da Escola de Jack, onde este estava sentado, em frente ao computador.
- Aquele sou eu?
- És. Lembras-te do que estavas a fazer?
- De manhã, antes de começar a dar aulas, gosto de navegar um bocado pela Internet. Desde que ligaram o PC da Sala dos Professores à Net tenho feito disso um hábito diário.
- Reconheces aquele Man-O-Korf?
- Sim. É o meu nick nos foruns de Corfebol. Hoje de manhã estava a pôr umas mensagens...
- Porque é que tens um nick?
- Para poder escrever o que quero, sem depois ter problemas pessoais. Sabes, este é um mundo pequeno, as pessoas conhecem-se todas e quero evitar chatices.
- E assim podes escrever coisas como o que escreveste hoje. Passo a ler uma parte: “Já que ninguém quer ser Presidente da Federação, devíamos organizar um jogo de “Olho do Cú”. Assim ficávamos com Presidente e Vice-Presidente, que nunca seriam piores do que os que temos tido porque pior é impossível. Já que as escolhas parece que obedecem sempre a critérios sem nexo e que só nos prejudicam, então acho que uma escolha num jogo de cartas era um critério interessante e com muito mais piada. Palhaços por palhaços, ao menos que tenham sorte ao jogo. Para além disso, ganhávamos um Olho do Cú e um Vice-Olho. Aposto que isso ia dar muito gozo a certas pessoas que só estão no Corfebol para espreitar uns olhos do cú e até tenho a certeza que esses cargos iriam assentar como uma luva a certos participantes neste fórum, como o Scrapper, o Bullseye ou o pessoal do Winter Korfball Club”. Achas isto correcto?
- Os gajos é que começaram. Disseram que coisas do meu clube e estão sempre a acusar os nossos árbitros de serem parciais. Quanto à Federação, é mesmo assim. Só querem é poleiro e depois não fazem nada.
- E tu, fazes alguma coisa?
- Sou jogador, sou treinador, só não sou é árbitro porque não estou para aturar as críticas dos outros. Se fosse árbitro, era só amarelos e vermelhos.
- Curioso isso, vindo de um dos jogadores mais indisciplinados. Diz-me, o que é que fizeste hoje à tarde?
- Tive aulas e depois fui dar treino. Cheguei atrasado porque tive reuniões à tarde.
- Não. Chegaste atrasado porque, depois das reuniões foste beber uns copos com os colegas e nem sequer avisaste os teus atletas do teu atraso. Não vamos passar pelo café onde estavas, e onde disseste que estavas farto de dar treinos mas que assim não pagas quotas e só por isso é que aceitaste ser treinador. Vamos directos ao pavilhão.
No pavilhão, um grupo de jovens atletas conversava sobre a ausência do treinador. Dois deles, irritados por não terem sido avisados e por ser uma situação habitual, foram-se embora, dizendo que o Corfebol até pode ter piada mas que preferem outras modalidades mais organizadas e com mais respeito pelos atletas. Quando Jack chegou, havia só 7 para treinar, pelo que decidiu não dar o treino. “Se quiserem mandem umas bolas, é convosco”.
A Federação, em final de mandato, tinha enviado uns questionários para todos os atletas sobre o que pensavam da vários aspectos na actuação do elenco federativo e que perspectivas e ambições tinham para o futuro. Jack disse-lhes que a Federação era uma cambada de oportunistas, todos ligados a dois ou três clubes que faziam tudo para deitar abaixo o seu clube, e que deviam protestar escrevendo “São todos uns palhaços!” nos questionários. Os jovens, alguns empolgados pelo clubismo do treinador, outros dizendo que nem conheciam as pessoas da Federação, lá foram aceitando o que Jack lhes propôs e assim seguiram os questionários para a Federação.
- E por aqueles que não estavam no treino ou se recusaram a escrever isso, escreveste tu, não foi, Jack?
- E depois? É uma palhaçada estar a preencher inquéritos. Vai servir de alguma coisa?
- Acho que nunca saberás. Tens ideia das actividades que faz a Direcção da Federação?
- Sei que não fazem a ponta de um lápis. Se fizessem tínhamos mais atletas, mais dinheiro, mais organização, mais visibilidade...
- E os atletas que se calhar perdeste hoje porque ficaste a beber uns copos?
- Como se a culpa agora fosse minha! Se eu estivesse na Federação iam ver... eu é que não quero!
- Vives como a Cigarra. Cantas, cantas, e deixas a Formiga a trabalhar. Queres tudo feito, de bandeja, e a tua única ajuda são as canções críticas que debitas sem conhecimento de causa.
- Deixa-me adivinhar... O teu próximo colega é o Espírito do Corfebol Futuro e vai-me revelar que vou morrer à fome no Inverno. Vai bugiar!
- Sim, será essa a tua próxima e última visita. Não me parece que vás morrer de fome no Inverno, pelo menos no sentido estrito do termo, mas ele to dirá. Agora descansa um pouco mais. Vais precisar de energias para encarar o mais difícil de todos os tempos – o Futuro.

segunda-feira, junho 20, 2005

Um Conto Fora de Época (parte I)

“Natal é quando um Homem quiser” (do povo)

Estendido na cama, após um dia extenuante, Jack só esperava que o sono vencesse as últimas resistências do corpo e da mente. Já mal se dava conta do primeiro, já sentia a segunda como que em efeito fade.
No limbo do adormecimento, talvez já adormecido e ainda sem o ter percebido, entrou-lhe no quarto um estranho espírito, rosto de menino com aspecto envelhecido. Afável, não inspirou receio, apesar da apreensão de Jack.
- Sou o Espírito do Corfebol Passado. Venho-te convidar a fazer uma visita.
Não dando tempo ao espantado Jack para reagir, pegou-lhe na mão e levou-o janela fora, voando como Peter Pan.
Surpreso, Jack viu-se a si mesmo, uns dez anos antes, a caminho da escola onde teve o primeiro treino de Corfebol. Ao seu lado caminhava uma rapariga.
- Lembras-te dela?
- Como não me lembrar?... A Cynthia. Começámos os dois a treinas naquele dia.
- Lembras-te daquele primeiro treino?
- Sim. Foi fantástico. Nunca tinha visto Corfebol antes. Foi um colega que me convenceu a ir. O treinador era um espectáculo. Max Spencer; jogava na Selecção e íamos ver os jogos todos dele. Conseguiu motivar-nos tão bem que ficámos quase todos a jogar durante muitos anos.
- Queres ver o teu primeiro jogo?
- Sim, claro... era tão novinho.
Jack estava enternecido a olhar para si próprio, de calções pelo joelho, desengonçado e pouco hábil. A certa altura, o jovem Jack chorava.
- Falhaste um penalty. As coisas não te estavam a correr bem. Os teus colegas começavam a ficar críticos de mais em relação ao teu jogo. Ainda por cima perderam.
- Lembro-me bem. Era o meu primeiro jogo e alguns não perceberam isso. Saí do jogo a chorar a dizer que nunca mais jogava.
- E depois?
- O Max foi espectacular. Animou-me muito. Explicou-me que numa modalidade colectiva não se perde por causa de um jogador e que, naquela fase, o resultado pouco importava. Se não fosse ele nunca mais tinha treinado.
- Só ele?
- Não. A Cynthia e o Robbie, que jogava há mais tempo, também me foram apoiar e convencer que para a próxima iria correr melhor.
- E correu?
- Sim. Comecei a perceber melhor o jogo e acho que me tornei um jogador razoável. O Max deixou-me aterrado quando no jogo seguinte me mandou marcar um penalty. A minha primeira reacção foi recusar, mas avancei e marquei. Era um jogo equilibrado e esse momento foi determinante para o meu futuro.
- Vamos avançar uns anos... Lembras-te deste dia?
- Já estou mais velhinho. Uns 19 anos, talvez... Jogava na equipa B dos White Sharks. Olha o tanso do Chris Bee. Era um otário!
- O Chris Bee era da tua equipa?
- Não. Era da D mas teve de jogar connosco porque nos faltavam rapazes e a C estava a jogar à mesma hora. Não dava uma para a caixa... Olha-me aquele passe!
- Estás a gritar com ele?
- Lembro-me que perdemos esse jogo. Era um jogo importante e aquele azelha deitou tudo a perder. Fiquei lixado!
- Ao ponto de esqueceres o que te foi ensinado. Ao ponto de esqueceres que também tu foste um jogador inexperiente. Aposto que não foi ele que pediu para jogar duas equipas acima. Foi necessário e ele tentou ajudar.
- Um jogador fica com a cabeça quente. Se calhar devia ter sido o treinador a dar-lhe o apoio necessário, sei lá!
- Vamos avançar um bocadinho...
- Olha, isto foi quando comecei a treinar a equipa de formação dos Sharks.
- Samantha Thomas...
- Já nem me lembrava dessa tipa. Era uma libelinha. Não tinha mesmo queda para aquilo... quer dizer, queda até tinha – estava sempre a cair, eheh!
- Numa época inteira, só faltou a um treino, porque estava doente. Nunca jogou um jogo de início. Raramente entrou.
- Prejudicava o rendimento da equipa. Só a puz de vez em quando por favor, porque se não a pusesse caiam-me todos em cima.
- Numa equipa de formação? Com miúdos de 12 anos?
- Com 12 anos já se quer ganhar e não posso prejudicar os miúdos com talento para pôr a jogar uma miúda que não dá uma para a caixa.
- Estou a ver... Bom, tenho de me ir embora. E tu tens de descansar um bocadinho. Prepara-te para seres visitado por um colega meu, e depois outro.
- Mais espíritos?
- Sim. Agora descansa.

terça-feira, junho 14, 2005

Venham Mais Cinco

Pronto.
O que muitos reclamavam aconteceu. O que muitos receavam aconteceu.
E agora?
Os que vinham a exigir a cabeça da Federação (leia-se Direcção, leia-se Presidente) vão agora, depois de lançar os foguetes e dançar à volta da fogueira, assumir a mudança que tanto pediram? Ou vão, comme d’habitude, ficar à espera de novos alvos das suas críticas? Vão continuar a criticar por criticar ou vão dar o passo em frente?
Esperarei.
Esperaremos.
O Corfebol esperará. Quanto tempo?
Muito se opinou acerca do Vasco, mas temos de respeitar quem merece ser respeitado. O Vasco fez o que todos os outros não tiveram coragem de fazer. O Vasco assumiu o que mais ninguém quis assumir. Modestos praticantes ou ilustres iluminados, agentes passivos ou críticos profissionais, quando chega a hora... Não podem, não querem, não os deixam, não os querem...
Quem foi a Direcção da FPC nos últimos tempos senão o Vasco? Um trabalho para cinco pessoas que foi cumprido por uma. Sejamos honestos; se culpa existe no Presidente foi a de não ter conseguido unir os outros quatro. Mas foi culpa de um só?... Onde andam os outros?
Acaba-se um mandato a meio (e talvez já tarde) por desamparo. Desamparo interno, na própria estrutura federativa, intermédio, da parte dos clubes, e externo, da parte de um Estado que não cumpre com o Desporto, mesmo que este só lhe custe o farol de um submarino.
Venha alguém que devolva o ânimo a quem quer trabalhar, e que esses devolvam o ânimo a quem quiser estar no Corfebol. Mas quem?
Falar, hoje, é fácil. Mas quem?
Quem poderá reunir consensos numa modalidade tão dividida?
Impossível, digo eu. Dispensável, adianto.
Acho que seria importante reunir consensos, mas não é obrigatório. Alguém com uma liderança forte pode sê-lo de um grupo não representativo, desde que possua uma estrutura moral a toda a prova, que seja líder de todos, dos que de si gostam e dos outros, daqueles por quem torce e dos outros, em suma, do Corfebol Português.
Mas quem?... Aceitam-se palpites.
E os outros, os tais que podem não gostar de quem lidere o processo, sejam críticos, positivamente críticos, construtivamente críticos. Antes e depois das eleições, mas sobretudo antes. E se houver concorrência (caso virgem no nosso Corfebol), que se debatam ideias e projectos, com moderação e contenção, pela positiva.
Não havendo, existindo uma só lista, um só líder (que já é mais do que o número que muitos esperam), ouça-se o sábio Cunhal, falecido e ainda não enterrado, perante quem me curvo pela última vez enquanto ainda existe ao cima da terra. Lembre-se Cunhal quando, a propósito do voto em Soares para derrotar o agora Ministro socialista Freitas, disse para se tapar a cara com a mão esquerda e com a direita votar para derrotar esse mesmo lado. Não foi com estas palavras, que são uma adaptação minha, mas serve a lição. E essa é a de que, para um bem maior, devemos fechar os olhos aos males menores. Para a vitória do Corfebol, engulam-se sapos se a isso formos chamados. Para o futuro nos trazer o ânimo que nos falta, corramos a cortina que nos separa do passado. Para que a camisola do País brilhe, esqueçamos que durante o ano vestimos cada um a sua. Que se vista uma só camisola, que se dê lustro a um só emblema; que façamos da nossa força a força da FPC; que tiremos o contributo que guardámos na gaveta, para alguma necessidade do nosso clube, e o usemos agora, para uma grande necessidade de todos os clubes – da Federação Portuguesa de Corfebol.
Ou então, e isto é só para alguns, continuem a fazer como têm feito até hoje. Comecem já a pintar os cartazes a dizer “incompetentes”, “malandros”, e outros, mesmo antes de saberem quem vão ser. Comecem já a dedilhar textos em que se vão sentir injustiçados pela Federação, em que está tudo concatenado contra vocês. Comecem já a esquecer aquilo que sempre esquecem: é que há uma coisa a que se chama Democracia e ela, felizmente, existe em Portugal e no Desporto e no Corfebol, embora a sua prática, infelizmente, seja pouco procurada em Portugal e no Desporto e no Corfebol. Dá muito trabalho. Colaborar com os processos normais custa. É muito mais fácil ficar na sombra, à fresca, e minar o que os outros fazem.
Todos aqueles que acham que o Corfebol merece ser feliz, façam-vos o favor de arregaçar as mangas. Corfebolistas de todo o País, Uni-vos!

quarta-feira, junho 08, 2005

Dia C e seu Prolongamento

Ali enfiado na Tapada, sede dos que andam a aprender a cuidar das hortas do País, há um forno, uma sauna, onde as corfelinas e os corfelinos se juntaram para celebrar o Dia C.
Jogaram meninos, rotulados por uma forçada distinção Norte / Sul. Festa só é Festa com meninos (que este texto não caia erroneamente no crivo da PJ ou no goto do Padre Frederico e de alguns casapianos – acho que dá para perceber a ideia pelo lado mais inocente da mesma).
Sem distinção aparente, jogaram os mais velhinhos. Mais barriga menos barriga, mais ruga menos cabelo branco, afastados há mais anos ou menos anos, lá estiveram a pulular os chamados veteranos. Em Portugal, onde o Corfebol existe há duas dezenas mal contadas de anos, falar em veteranos é condescendente. “Nascidos até 1975”, afirmava o livrinho que nos botaram nas mãos. Cúmulo da condescendência! Os nascidos em 75 nem avôs podem ser, quase (biologicamente até podiam, mas era preciso encurtar a ordem natural das coisas até ao limite). Mas enfim, conta o que se quis fazer, que foi muito positivo, e o que se fez, que também o foi, porquanto vimos pessoas que já não víamos há muito tempo e – melhor dos melhores! – vimo-los a fazer algo de que já tínhamos todos saudades, uns de os ver e eles de executar.
Lentamente, que o bafo não permitia mais, jogaram as equipas que parece terem comprado o bilhete cativo para as Finais da Taça. Venceu a da Ramada nas bancadas, venceu a rubrinegra no campo.
E as t-shirts, aos poucos, no pavilhão ou em casa de cada qual, algumas nos carros, foram dando lugar a gravatas, a vestidos de festa, a trajes de gala, que ela vinha aí, ali ao lado, à beira Tejo.
A olhar o Tejo, entre o cherne e o presunto, o leitão e as saladas, o salmão e o javali, a loirinha e o tintol, a encharcada e as tartes, a sericaia e as frutas, umas 130 pessoas celebraram o Corfebol.
130 pessoas numa modalidade com 413 (número tirado do forum do CCCD), dos quais talvez nem metade seja sénior, é muito bom. Superou as minhas expectativas mais optimistas. Ainda por cima numa primeira vez (que, como todos sabem, é sempre a mais difícil). Mais comovido, só mesmo se visse o pessoal, de livre e expontânea vontade, a misturar-se nas mesas. Para o ano podiam-se fazer mesas mistas, com todos os clubes representados (ná!... era pedir demais).
Prémios. Muitos. Como a gente gosta. Uns mais importantes que outros.
Ausências. Algumas. Mas presenças ainda mais. E as segundas mais importantes que as primeiras, porque diz o povo e com a razão quase toda que só faz falta quem cá está, e nunca um contrasenso foi tão pertinente.
Uma presença que saliento. Sem ter ganho prémios (podia ter sido nomeado para os treinadores, mas ficou na extensa fila), sem ter cargos na Federação, subiu ao palco o regressado Jorge Calado. Gostei e lembrei-me de algo que escreveu este que vos escreve em tempos idos. Qualquer coisa sobre o juntar à mesma mesa os Super-Piratas e os Kees-Pupils. E também o que foi escrito há dias sobre a Gala e a sua capacidade para, por uns instantes, sermos todos um só com o nome de Corfebol. Aplaudo.
Duas medalhas ao pescoço, Supertaça numa mão, Placa de campeão na outra, Taça de Portugal já guardada, prémio de melhor treinador ainda por chegar, mister Ferro imitou Mourinho e disse o óbvio – que treinou a melhor equipa nacional este ano. Não com a arrogância do futuro comendador, mas com o pragmatismo que a um campeão em todas as frentes é permitido e até exigido. Faltou, digo eu, um prémio especial da Direcção ao NCB, pelo 3º lugar na Europa Cup. Mas isso seria monopolizar a cerimónia e não estamos nos Óscares™.
Não faltou o levantamento do véu da polémica, o aspergir do cheiro a injustiça, o que dá sempre um toque apetecível a estas coisas. Ainda por cima sendo o véu levantado e o aroma aspergido pelo próprio injustiçado. Com o LAC em grande, o seu co-mentor e treinador referiu-se à sua ausência entre os 5 primeiros (em rigor, não estamos a falar de nomeados, mas sim dos 5 primeiros). Justa ou injusta, a ausência foi compensada pelo apoio concedido por aqueles que, eventualmente, mais saberão do caso – os pupilos. E se esses, que sentem na pele os méritos do comandante, lhe dedicam ruidosamente o seu apoio, então significará que sim, que merece referência, sem prejuízo para o apoio que acredito seria concedido com igual veneração por todos os pupilos de todos os treinadores que foram ou não foram premiados.
Tiago e Xana coroados Rei e Rainha do Baile (faltou um Baile; devia-se ter terminado a Gala com um Baile de Gala, à moda antiga, com Valsas e Polcas). Alves entronado Imperador do apito (ouviu-se um aaaahhhhhh!!... de surpresa quando este prémio foi revelado. Ninguém estava à espera!).
Os sorrisos dominavam as caras no final da Gala. O ambiente foi formidável. Deram-me um papelinho onde tive de riscar muitas opções e aquela em que pensei menos foi a que dizia “Para o ano, a Gala deveria continuar”. Alguém tem dúvidas?

Mas o Dia C teve prolongamento no dia seguinte. Mais um Torneio de fim de época, este exageradamente colado ao final da época. Mais um, pensava eu...
Mas não foi mais um. O ambiente de Sábado pairou no ar e estendeu-se até Domingo.
As bancadas estavam verdadeiramente cheias, talvez por os jogos serem curtos e não dar para sair. Os sorrisos ainda andavam pelas caras. Prémio Fair-Play? Para todos.
Até deu para ver em acção um veterano (um verdadeiro; não era daqueles de 1975) que não tinha podido jogar no dia anterior e que mostrou aos mais jovens porque é que foi o mais espectacular jogador português de Corfebol de todos os tempos.
Prémios a rodos. Valha-nos isto de ser ano de eleições e de haver um desertor a ameaçar a hegemonia do poder instituído. Alegria. Convívio interclubístico. O prolongamento do Dia C.
Só houve uma coisa que destoou em relação a Sábado. É que, desta vez, “Alguém parou o Benfica, Alguém parou o Benfica, Alguém parou o Benfica, ôôôêêê”.

Como dizia o outro, “Foi bonita a festa, pá!”.

sexta-feira, junho 03, 2005

O Endorcista

- Estou preocupado com a minha filha...
- E então?...
- Anda estranha. Diz coisas sem nexo... Renega o Corfebol.
- Acha que está Liberta?
- Temo que sim... O senhor tem sido o Treinador da nossa família há alguns anos. Gostava que a fosse ver.
- De facto tenho notado que tem faltado aos treinos...
- Eu sei. Desculpe. Eu e a minha mulher bem que insistimos, mas... parece que desapareceu algo de dentro dela. Anda tão estranha.
- Estranha, como?
- Já não revira a cabeça para ver ambos os cestos, já não expele substâncias estranhas da boca quando a nossa equipa perde, já não diz palavrões dirigidos aos árbitros, já só fala português...
- Nem holandês?... O caso parece grave. Recomendo um Endorcismo.
- Calculo que sim.
- Aprova que o faça?
- É para o bem dela... Só queremos o bem dela.

E assim foram para casa da despossessa rapariga, o Treinador munido de uma botija de Isostar para a aspersão, um poste em miniatura para brandir à frente da Liberta, e muita força de vontade para retribuir à jovem a vida que lhe fora roubada.